27 de dezembro de 2011

Um recado aos apologetas de plantão!

por Cleison Brugger

Pra início de conversa, não venho aqui defender A ou B, ou com a intenção de depreciar algum grupo específico. Nada disso. Aliás, tenho pensado seriamente em excluir este blog, pois em nossos tempos, está havendo uma febre chamada "relevância". Nas redes sociais isso é uma realidade. Todo mundo quer escrever, ou no Facebook, ou no Twitter, ou nos blogs, ou onde quer que seja, algo relevante. Todo mundo quer dar o seu pitaco, a sua opinião, o seu parecer. Todos querem ser relevantes, de algum modo. E assim, acabamos sendo "irrelevantemente relevantes". Não quero ser mais um.
 Contudo, acho digno e justo vir aqui escrever sobre o último ocorrido: a manipulação das fotos do pastor Silas Lima Malafaia. Logo que as fotos cairam na rede, os "apologetas" de plantão não perderam tempo! chamando o supracitado pastor de "safado", "mercador", "vendilhão da fé" e outros nomes, eles adoraram as fotos. Lhes cairam como luvas. E também tem os que ficaram tristes depois que souberam que as fotos eram montagens. Poxa, seria uma notícia e tanto!

Como disse, não venho defender ninguém. Não aprecio o pastor Silas Malafaia, nem suas atitudes. Vejo mais um (des)serviço feito ao evangelho e tenho minhas razões para isso. Agora, promover-se as custas dele querendo mostrar uma "apologética" (que de Apologética não tem nada!) é o cúmulo! Não digo de quem manipulou as fotos; esse será cobrado, de alguma forma; ouviremos dele(a) na mídia, quando o próprio pastor Silas Malafaia falar que estará processando o indivíduo por seu ato. Digo daqueles que, usando estas fotos, rebaixaram o tal pastor (que já tem a fixa suja por demais!) em nome da "verdade"! Esse não é um papel de gente que se diz cristã!

As Escrituras são enfáticas ao dizer que "não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas, sim, contra os principados, contra as potestades, contra os príncipes das trevas deste século, contra as hostes espirituais da maldade, nos lugares celestiais" (Efésios 6.12). Não lutamos contra pessoas. Não digo com isso que não podemos tecer críticas e expressar nossa desaprovação, mas desde que isso seja feito com decência, lealdade, sinceridade e AMOR. A Verdade DEVE ser defendida e partilhada com amor. Em sua pessoa e em seus ensinamentos, Jesus reuniu a verdade e o amor. Seu amor foi expresso em verdade, e Ele falou a verdade com amor. O apóstolo João escreveu: "aquele que diz estar nele, também deve andar como ele andou" (IJo. 2.6).

É fácil identificar aqueles que se importam muito com a verdade, mas que quase não têm amor. Sua fé é expressa principalmente por palavras. São "grandes estudiosos da Bíblia", e podem até resumir seus livros e fazer um gráfico das épocas, mas são dificeis de se andar com eles, e a verdade que conhecem (ou pensam que conhecem) não é uma ferramenta de construção: é uma arma de luta. Eles adoram rivalizar!

A verdade precisa do amor, pois a verdade sem amor tende a tornar as pessoas orgulhosas. "A ciência incha, mas o amor edifica" (ICo. 8.1). A verdade sozinha pode ser destrutiva, mas o amor capacita a verdade a nos edificar. Quando a verdade é partilhada com amor (mesmo se a verdade ferir), no final nos ajuda. [...] Uma criança sempre pensa que todas as pessoas que a beijam são amigas, e que todas as pessoas que nelas batem são inimigas. Mas uma pessoa madura sabe a diferença real. Algumas vezes a verdade pode nos machucar antes que possa nos curar, mas se formos feridos em amor, logo, a cura virá. Esse fato nos ajuda a compreender que alguns ministérios da Palavra são divisíveis e destrutíveis. Há verdade neles, mas a verdade não é partilhada com amor [1].

Que defendamos a Verdade, mas que façamos isso para engrandecer ao Deus Soberano, e não como forma de nos auto-promovermos, pois os que fazem isso são tão hipócritas quanto aqueles a quem eles apontam.

Fonte:
[1] WIERSBE, Warren W. A oração intercessória de Jesus. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, p. 137

14 de dezembro de 2011

Nem tudo o que parece ser, é

por Cleison Brugger

"-Fulano é uma bênção!"; "- Aquela irmã é muito humilde!"; "-Aquele irmão é muito honesto"; "-Aquele pastor é um homem de Deus"; "Aquela irmã é tão espiritual!". Será?
Frequentemente, julgamos as pessoas da maneira como achamos que elas são. Porém, um comportamento isolado que ela teve conosco, não pode moldar ou pautar como é a sua vida em geral. Existe um ditado que diz: "Quem anda com Pedro, come com Pedro e dorme com Pedro é quem sabe quem é Pedro". De fato, as Escrituras nos orientam: “O meio de identificar uma árvore, ou uma pessoa é pela qualidade do fruto que dá” (Palavras de Jesus em Mateus 7.20 VIVA).

Precipitar-se ao julgar se uma pessoa é humilde, honesta, boa, sincera não é bom. Na verdade, estes julgamentos são muito subjetivos, quando feitos à luz de nossos achismos. Outrossim, muitos julgam uma pessoa com base em algo que não serve como diretriz para um julgamento correto, como por exemplo, a humildade. Sei que você já ouviu isso: "Olha a roupa dela.. ela é tão humilde!". Ora, o modo como alguém se veste não quer dizer que a pessoa é, de fato, humilde. Vários são os fatores que podem dizer o porquê daquela pessoa se vestir daquele jeito: baixa renda, por opção, desleixo, gosto, etc., mas não humildade. Somos instados a não julgar pela aparência, e sim, de acordo com a reta justiça (Jo. 7.24).

Conheço pessoas frustradas na igreja, porque acreditavam que uma pessoa era boa, correta e "de Deus", mas que na verdade não era o que aparentava ser. Uma das minhas grandes birras com a igreja é que muitos têm sido consagrados ao santo ministério sem uma avaliação criteriosa de como é a vida daquele obreiro fora das delimitações da igreja. Na verdade, temos muitos chamados ministros, mas poucos ministros chamados. Igrejas estão morrendo porque obreiros foram consagrados por emoção e outras motivações tendenciosas. Sabemos de pastores e cantores que, em cima do altar, fazem o escarcéu e trazem o céu à terra, mas que, descendo dali, são pessoas arrogantes, soberbas, metidas, orgulhosas e anti-cristãs. Essa contradição não pode ser tolerada! o esboço do pregador deve ser a sua vida.

Discernimento é o que precisamos. Não podemos abrir a nossa casa e o nosso coração para qualquer pessoa. Não podemos receber qualquer mensagem, qualquer palavra e sermos levados pela emoção, "porque já muitos falsos profetas se têm levantado no mundo" (I Jo. 4.1). As Escrituras nos orientam: "Maldito o homem que confia no homem, e faz da carne o seu braço, e aparta o seu coração do Senhor" (Jr. 17.5), contudo, "Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja confiança é o Senhor" (Jr. 17.7). Somente no Senhor devemos confiar, pois somente Ele conhece a mim, a você, aos outros e também nos permite que O conheçamos (Jr. 29.13).

16 de novembro de 2011

Provai se os espíritos vêm de Deus!

por Cleison Brugger

O desejo por espiritualidade é inerente ao homem e as religiões satisfazem este desejo. Conjuntamente com a espiritualidade vem o sobrenaturalismo, a esfera além do natural que algumas crenças proporcionam. O cristianismo é uma delas: nosso Cristo foi morto numa cruz e ao terceiro dia ressuscitou e isso nada mais é do que a manifestação de um poder sobrenatural. A Bíblia está repleta de passagens que contam do poder de Deus agindo de forma sobrenatural. Cremos que Deus é o Deus do Impossivel. "Ele faz coisas grandes e inescrutáveis, e maravilhas que não se pode contar” (Jó 5.9) é o que diz a Palavra de Deus.

Contudo, o que está havendo no meio evangélico é uma supervalorização do sobrenaturalismo. Na verdade, isso não é de hoje. Ao longo da história da igreja, diversas pessoas afirmaram ter visões sobrenaturais, revelações sobre a vinda de Cristo, terem sido arrebatadas ao céu ou ao inferno etc. Mas, de uns tempos pra cá, o que tem havido é uma intensificação desse desejo pelo transcendente. Muitas pessoas procuram igrejas adeptas de alguns movimentos no afã de "sentir", "receber" e "provar" de um suposto poder e de uma "nova unção". Para muitos, um culto só é culto se tiver gente caida no chão, se houver manifestações demoníacas, ou se alguém irromper em linguas unsurdecedoramente. Diferente disto, a Bíblia revela que culto só é culto se houver edificação (1 Co. 14.26-33,39,40), algo que estas coisas estão longe de proporcionar.

No domingo passado (13), o programa Domingo Espetacular, da Rede Record, fez uma reportagem, um tanto tendenciosa, a respeito do que aqui no Brasil é chamado de "cair no Espírito" e "unção do riso". A maioria de nós sabemos que a reportagem só foi ao ar por ordem do líder da IURD, Edir Macedo, a fim de difamar a igreja pentecostal, mas sobre isso, já dei minha palavra e você pode ler aqui. Contudo, quando conversava com alguns amigos, afirmei que Edir Macedo tentou envergonhar a igreja pentecostal e o pior aconteceu: ela foi envergonhada pois, de fato, o que na reportagem foi mostrado, acontece em muitas igrejas ditas pentecostais, inclusive em muitas Assembleias de Deus, que é a maior representante do movimento pentecostal no Brasil e no mundo. É certo que estes movimentos são pseudo-pentecostais, o que bem frisei no texto linkado acima, mas infelizmente, eles têm acontecido na igreja que se conhece como "a mãe do pentecostalismo". Reconheço que muitos teólogos pentecostais (senão todos) são contra estes tipos de manifestação, todavia, temos agido passivamente, enquanto estas doutrinas de demônios tem tido livre curso na igreja. O que se deve fazer é levantar-se ativamente contra este mover de demônios em cada púlpito a que tivermos oportunidade. Podemos até afirmar que em nossa igreja local estas coisas não acontecem, mas não podemos omitir que muitas igrejas de nossa denominação estão embrenhando por movimentos estranhos tanto ao bom senso quanto às Escrituras. Creio que é tempo de nós nos posicionarmos firmemente sobre o assunto, para que não sejamos confundidos com estes movimentos estranhos. Filtrar nossos púlpitos é um bom começo.

O apóstolo Paulo, em sua 1ª Carta aos Coríntios 2.14, diz: "Ora, o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque lhe parecem loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem espiritualmente". Muitos se acham tão espirituais, que parecem que guardam o Espírito Santo numa caixinha. Contudo, lhes garanto que a grande massa que afirma ter o Espírito, "não compreende as coisas do Espírito", porque são carnais e levados por esta carnalidade. O apóstolo João nos orienta: "Amados, não creiais a todo espírito, mas provai se os espíritos vêm de Deus; porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo" (IJo. 4.1). O primeiro verso nos ensina que "as coisas espirituais se discernem espiritualmente" e este segundo verso nos orienta a "provar se os espíritos vêm de Deus". Lhes digo que o que mais tem faltado em nossas igrejas atualmente é o discernimento espiritual ou a averiguação sobre a origem de dado impulso espiritual. Como podemos ver gente caindo no chão, ou rindo descontroladamente, ou imitando o som de animais e experimentando de algo que não vemos em nenhuma parte das Escrituras e dizermos que é Deus? sem medo de errar, afirmo que é falta de discernimento espiritual. Adoram movimentos e inovações trazidas e odeiam as Escrituras e o que ela diz: "não ultrapassem o que está escrito" (ICo. 4.6). Muitos têm sido impulsionados pela própria carne e até mesmo por espíritos demoníacos, e afirmam ser o Espírito porque sentiram um arrepio qualquer. Isso é fazer o Espírito Santo parecer um idiota, como afirmou o pastor David Wilkerson em uma de suas pregações. O nosso grande problema é que a massa evangélica não é dada ao estudo das Escrituras e, por esta razão, comem qualquer coisa.

Em certa ocasião, Pedro viu o Senhor caminhar sobre as àguas e quis provar daquilo, até porque, é bom e impressionante servir a um que pode andar sobre as águas. Entretanto, as coisas não ocorreram conforme suas ideias: vento forte, escuridão, águas revoltas, medo, pavores e submersão eram coisas que não estavam em seus planos, e então, Pedro clamou por salvação. Pedro, atraído pelo poder sobrenatural do Senhor, quis provar de tal prerrogativa, mas as circunstâncias o levaram a clamar pela única coisa pelo qual ele seria livrado da morte: salvação (Mateus 14. 30). Quando a salvação for para nós a maior e melhor coisa que nos aconteceu, o agir sobrenatural se torna apenas um predicado do Deus a quem servimos, e não o centro das atenções, e antes de mergulharmos em lugar desconhecido, nós provaremos "se os espíritos vêm de Deus". Provar, examinar e discenir são palavras-chave num genuino culto pentecostal.

11 de novembro de 2011

Assembleia de Deus em Augusto Vasconcelos comemora 50 anos

Desde o início da semana passada (06/11), a Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Dr. Augusto Vasconcelos-RJ iniciou as comemorações que alude aos 50 anos da igreja. Para esta comemoração, a igreja escolheu o tema: "Na perfeita unidade, manifesta-se a glória de Deus". A igreja, que conta com 28 congregações e com cerca de 3.500 membros, é presidida pelo pastor Celso de Castro Costa, e prova de um grande crescimento material, tanto no templo central como em suas congregações. Como o próprio pastor Jônatas Câmara disse, "a igreja está vivendo sua melhor fase".

Igreja de Dr. Augusto Vasconcelos-RJ lotada
A Assembleia de Deus em Augusto Vasconcelos começou na casa do pastor Sebastião Macedo, conhecido como pastor Tatão. Primeiramente, a pequena congregação foi vinculada à Assembleia de Deus em Bangu, passando depois para o campo da Assembleia de Deus de Bento Ribeiro (pastor Horácio da Silva Jr.) e, por fim, sendo congregação da Assembleia de Deus em São Cristóvão, que, na época, tinha como presidente o pastor Túlio Barros Ferreira. O primeiro pastor presidente da ADAV foi o pastor Jônatas Câmara, conhecido pelos programas de TV que sua igreja sustenta na Rede Boas-Novas, como também, pelo frutífero trabalho que realiza na IEADAM (Igreja Evangélica Assembleia de Deus no Amazonas). Depois do pastor Jônatas, presidiu a igreja o pastor Paulo Roberto Ferreira e, atualmente, preside a igreja o pastor Celso de Castro Costa.
Ao microfone, pastor Celso de Castro (Presidente da Igreja). Atrás do pastor Celso, de mãos erguidas, pastor Jônatas Câmara, ladeado do pastor Temóteo Ramos, presidente da CONFRADERJ (lado esquero) e do pastor José Cipriano (lado direito).
O culto de abertura foi transmitido ao vivo pela Rede Boas Novas de Televisão. Tendo iniciado um pouco antes das 20:00hs, o culto foi bem organizado e terminou antes do horário previsto. O culto contou, também, com a presença de irmãos ilustres e de grande importância na história da igreja em Artur Rios. Entre eles, o pastor presidente da Assembleia de Deus em Petrópolis, região serrana do Rio, e presidente da CONFRADERJ (Convenção Fraternal das Assembleias de Deus no Rio de Janeiro), pastor Temóteo Ramos de Oliveira, pastor José Cipriano Lopes, primeiro vice-dirigente da ADAV ao lado do pastor Milton Barros e o pastor Jônatas Câmara, irmão do pastor Samuel Câmara, presidente da Igreja-mãe das Assembleias de Deus, que foi o primeiro pastor presidente da ADAV, enviado pelo pastor Túlio Barros, e que hoje é presidente da IEADAM.
Pastor Jônatas Câmara, primeiro pastor presidente da ADAV e atual pastor presidente da IEADAM (Assembleia de Deus no Amazonas)
Quem ministrou a palavra foi o pastor Jônatas Câmara, que relembrou grandes e bons momentos em que esteve como pastor em Augusto Vasconcelos. Relembrou muitos nomes de muitos irmãos e provou que mantêm viva a história da igreja em sua mente e coração. Contando sobre a história da igreja a qual ele teve a oportunidade de, pela primeira vez, exercer seu pastorado, contou com saudosa memória dos congressos, cultos, orações e reuniões da igreja. Cantou diversos hinos com a igreja e muito se emocionou. Na verdade, era nítido que a igreja em Artur Rios tem uma importância singular em sua vida e ministério.

O culto terminou com a oração do pastor Celso Macedo, filho do pastor Sebastião Macedo, pioneiro do trabalho. Logo depois, o pastor Temóteo Ramos de Oliveira despediu a igreja com a bênção apostólica. Os cultos, que tem início às 19:00hs,  irão até a terça-feira da semana que vem (15/11) e terão pregadores como o pastor Onéias Cézar Filho (Igreja Batista Sião em Campo Grande-RJ), pastor Gilson Arsênio (Assembleia de Deus dos Correios-RJ), pastor Germano Soares, pastor Adeílson Siris, pastor Dirceu de Paula (presidente da Assembleia de Deus em Bangu-RJ) e sua esposa, Iª. Terezinha de Paula, pastor Horácio da Silva Jr. (presidente do MIBE - Ministério Boa Esperança - Assembleia de Deus de Bento Ribeiro-RJ) e a missionária Helena Raquel, que pregou na abertura do Centenário das Assembleias de Deus no Brasil, em Belém-PA.

A igreja fica na Rua Artur Rios, 805 - Augusto Vasconcelos, Campo Grande-RJ.
Tel.: (21) 2413-5000  / Website da igreja: www.ieadav.com.br

31 de outubro de 2011

"Não fiz nada: a Palavra fez e realizou tudo"

por Cleison Brugger
  
Neste dia, 31 de outubro, os protestantes têm um motivo muito especial para comemorar e agradecer a  Deus. Não, não é o dia das donas de casa (embora elas tenham o seu valor). Estou falando dos 494 anos da Reforma Protestante. Neste dia, o monge da ordem de Santo Agostinho Martinho Lutero afixou na porta da Catedral de Wittenberg, na Alemanha, 95 teses contrariando o sistema e as doutrinas que imperavam na Igreja Católica. Mas ele não foi lá porque tinha amanhecido com vontade de fazer uma coisa diferente, mas sim, porque antes, ele havia tido um encontro profundo com as Escrituras.

O texto bíblico que intrigou Martinho Lutero foi Romanos 1.17b: "O justo viverá da fé". Conta-se que Lutero viajou a pé até Roma em companhia de um monge. Passou um mês ali, tendo, inclusive, celebrado missas. Certo dia, subindo de joelhos a "santa escada", desejando a indulgência que o papa prometera a quem fizesse isso, Lutero ouviu ressoar em seus ouvidos o texto bíblico que o impressionara: "O justo viverá da fé". A experiência foi tão marcante que Lutero imediatamente se levantou e saiu envergonhado. De volta a Alemanha, entregou-se ao estudo das Escrituras. O que aconteceu a seguir, ele mesmo conta: 
"Desejando ardentemente compreender as palavras de Paulo, comecei o estudo da Epístola aos Romanos. Porém, logo no primeiro capítulo, consta que a justiça de Deus se revela no evangelho (vv.16-17). Eu detestava as palavras 'justiça de Deus', porque, conforme fui ensinado, a considerava como um atributo do Deus Santo que o leva a castigar os pecadores. Apesar de viver irrepreensivelmente como monge, a consciência me mostrava que era pecador perante Deus. Assim, odiava a um Deus justo, que castiga os pecadores (...) Senti-me ferido de consciência, revoltado intimamente, contudo voltava sempre para o mesmo versículo, porque queria saber o que Paulo Ensinava".

"Depois de meditar sobre o ponto durante muitos dias e noites, Deus, na Sua graça, me mostrou a palavra: 'O justo viverá da fé'. Vi então que a justiça de Deus, nessa passagem, é a justiça que o homem piedoso recebe de Deus, pela fé, como dádiva. Então me achei recém-nascido e no paraíso. Todas as Escrituras tinham para mim outro aspecto; perscrutava-as para ver tudo quanto ensinam sobre a justiça de Deus. Antes, essas palavras eram-me detestáveis; agora as recebo com o mais intenso amor. A passagem me servia como porta do Paraiso".

Porque as Escrituras prendeu a atenção de Martinho Lutero que, no dia 31 de outubro de 1517, ele começou com o que foi chamado de "Reforma Protestante". Uma reforma só pode acontecer quando há volta a Bíblia, angústia em oração, lágrimas pelas madrugadas e devoção a Deus. Do contrário, ficaremos apenas no desejo ou nas palavras. Hoje, se ouve muito: "A Igreja precisa de uma nova reforma". Isso não é novidade. Mas a verdadeira pergunta é esta: "Quem, como Neemias, se levantará para reconstruir os muros da Jerusalém que está arrazada?" ou ainda "Quem é que tem tido um encontro tal com as Escrituras, que sintam uma profunda necessidade de comunicar isso ao pecadores e aos crentes frios que perderam o fervor no Espírito?".

Deus tem dito: "Busquei entre eles um homem que tapasse o muro e se colocasse na brecha perante mim, a favor desta terra, para que eu não a destruísse; mas a ninguém achei" (Ez. 22.30), mas que os Isaías se levantem, com fome pela causa do reino e digam: "Eis me aqui, Senhor, envia-me a mim" (Is 6.8). Somente um verdadeiro encontro com Deus fará com que Jerusalém seja reedificada. A parte isso, de nada adiantará.

Sola Fide. Sola Gratia. Solus Christus. Sola Scriptura. Soli Deo Gloria. Amando estes pontos e seguindo-os, já estaremos começando uma grande reforma na igreja atual. "Levantemo-nos e edifiquemos" (Neemias 2.18b).

Os anos de ouro das Assembleias de Deus

Culto de Santa Ceia na antiga Assembleia de Deus no Campo de São Cristóvão-RJ, hoje ADMAF (Assembleia de Deus Missão Apostólica da Fé). Compõem a foto, pastores como Lawrence Olson (in memorian), Gesiel Nunes Gomes, Altomires Sotero da Cunha e Túlio Barros Ferreira (in memorian).
 Por Cleison Brugger

O que tenho sabido de pessoas querendo se desligar do rol de membros das Assembleias de Deus não está no gibi! dentre estas pessoas, há questões de todos os tipos: insatisfação, frustração, inadequação, perda de identidade, crise ou a simples procura de algo mais consistente ou, digamos, mais atraente. Não, não estou falando de novos convertidos. Estou falando de crentes que sentam nos bancos das Assembleias de Deus há, pelo menos, 10, 15, 20 anos. Crentes que conhecem bem o ministério em que estão, mas que não conseguem sair simplesmente pela afinidade que tem com os irmãos ou pelo amor que tem pela igreja. Uma característica positiva da Assembleia de Deus é que, na sua grande maioria, seus membros são fiés a ela, ou pelo menos eram. O que mudou?

É fato que a Assembleia de Deus cresce aos milhares todos os anos, contudo, boa parte dos novos membros que são adicionados são graças aos filhos dos crentes que, chegando aos 14, 15 anos, se decidem pelo batismo. Mas a bem da verdade, o número de membros das Assembleias de Deus está diminuindo. A Assembleia de Deus está perdendo seus membros, e não são para igrejas neopentecostais, mas na grande maioria, para igrejas históricas ou pentecostal monergista, como é o caso da Igreja Cristã Nova Vida. Os crentes estão procurando fora o que não acham (ou perderam) dentro. Esses dias, ouvi de uma irmã antiga de um ministério da Assembleia de Deus: "já não me sinto em casa neste ministério em que fui criada e que estou há tantos anos. Não me identifico mais com a igreja". Isso é realmente triste! a Assembleia de Deus é uma das ÚNICAS IGREJAS que consegue unir gerações e manter famílias por décadas, como é o caso da "família Malafaia", famosa pelo pastor Silas Malafaia, mas que já existia na AD muito antes de ele ser conhecido; a "família Nascimento", conhecida pelos grandes cantores que a compõem, a "Família de Paula" e tantas outras. O que houve? bem, creio ter algumas razões para este retrocesso:

1) Os cultos assembleianos não são mais os mesmos
Quem já participou de um culto em uma Assembleia de Deus na déc. 1970-80, não reconhece um culto assembleiano hoje. Havia uma valorização pelos hinos do hinário (a Harpa Cristã), uma importância era dada para o ensino e exposição das Escrituras, o Coral se apresentava, a banda ou a Orquestra também, os irmãos testemunhavam, era uma verdadeira festa na presença de Deus. Mas hoje, o hinário foi trocado pela "adoração" do Ministério de Louvor, o culto é cansativo pois dezenas de departamentos DEVEM cantar, são milhares de lembretes e avisos, ofertas para tudo e mais um pouco e um tempo mínimo para a Palavra, tempo este que o pregador quase nunca obedece e sempre passa do horário que o culto estava programado para terminar, que normalmente nas ADs, são às 21:00hs.

2) Cultos ao Ar Livre
Quem se lembra dos cultos ao Ar Livre, como eram chamados, que os irmãos faziam nas praças e calçadas? eu lembro e já tive a oportunidade de participar de muitos! parecia antiquado, mas pelo menos saíamos as ruas para propagar o evangelho. Diferente de hoje que, depois que construiram templos majestosíssimos, tudo o que o povo menos quer, é sair do conforto e alcançar o perdido onde ele realmente está.

3) Trocaram cultos apreciados pelos assembleianos, como os tradicionais "cultos de departamento", pelas "campanhas" e pelos "Culto de Libertação, ou da Vitória, ou do Milagre etc".
Quem lembra do "culto das crianças" ou do "culto da Mocidade" ou do "Culto da CIBE?" Eu adorava participar! se hoje desempenho algumas funções em minha igreja local, é porque aprendi quando criança nestes cultos abençoados. Mas, infelizmente, muitas igrejas trocaram estes cultos pelos "Cultos da bênção, da vitória, do milagre, da conquista, da libertação etc". A igreja vive em campanhas intermináveis! Infelizmente, é difícil, em nossos dias, passar em frente à uma Assembleia de Deus e não encontrar alguma faixa que anuncie alguma "campanha" ou algum "culto da Vitória" ou "do Milagre". Quem acostumou a comer bem, não comerá a miséria que hoje se tem dado.

4) Onde foram parar as vigílias?

Vigília. Esse era um dos cultos mais vibrantes nas Assembleias de Deus. Já perdi a conta de quantos cultos de Vigília já participei e de quantas madrugadas passei em oração e adoração com minha congregação local. Contudo, parece que as coisas mudaram, e para pior. Parece que alguns perderam o gosto pelas coisas de cima. Anularam as vigílias e ganhamos uma igreja fraquejante.

5) Pastores visitavam seus membros 
Era normal receber o pastor em casa. Isso começou desde muito cedo, ainda com Gunnar Vingren, Daniel Bérg e Nels Nelson. Eles visitavam seus irmãos e ovelhas, viam a situação de suas vidas, oravam com eles, aconselhava-os e faziam com que aqueles crentes se fortalecessem mais no Senhor e, no fluir disto, fossem bons crentes em suas igrejas. Mas, e hoje? muitos mal sabem o nome do pastor, simplesmente porque quando acaba o culto, ele corre para o seu gabinete ou para o seu carro importado. Visita no lar? bem, ligue para a secretaria e marque um horário com ele em seu gabinete, é a resposta que recebemos.

Você até pode dizer que estou sendo saudosista, e você não está errado! a Assembleia de Deus ainda possui em seu rol de membros, incontáveis senhores e senhoras da época de Paulo Leivas Macalão e Cícero Canuto de Lima. Qualquer mudança é fatal para eles! não quero dizer com isso que não devemos interagir com o nosso tempo, mas quero asseverar que os "bons contumes" devem permanecer nesta igreja que, outrora, era tão conceituada e tão amada pelos seus membros. Com muito lamento, sei que existem igrejas pelo Brasil completamente frias, paradas, que dormem. E, pouco a pouco, os crentes procuram outra casa espiritual, para que possam se refugiar. Há uma gama de crentes tristes, desanimados, sem o tão proclamado "fogo pentecostal" que arde em todo assembleiano. Isso não é culpa da igreja. Sem medo de errar, digo que isso é culpa da liderança, dos homens que sentam nas cadeiras do centro, nos púlpitos das ADs. Isso é culpa das brigas por ministérios, por presidência de convenção, da soberba de pastores, da imaturidade de líderes, do nepotismo que impera, da falta de discernimento espiritual. Liderança corrompida, corrói a doutrina e devasta a vida da igreja.

26 de outubro de 2011

Lançai sobre Ele seus problemas e pare de reclamar!

por Cleison Brugger

Pessoas reclamonas nos norteiam todos os dias. Reclamam de seus empregos, de seus filhos, de suas frustrações e de cada ponto de suas vidas. Alguém poderá dizer que reclamar é algo normal e outros assegurar que  é até uma atitude saudável. Bem, pode ser, mas creio que isto não se aplica aos cristãos que oram. Quem ora não tem do que reclamar, pois a partir do momento que oramos, os problemas deixam de ser nossos e passam a estar nas mãos de Deus. Se, depois de orarmos, continuamos a reclamar, fazemos isto sem direito algum, pois estamos reclamando daquilo que não mais nos pertence. Podemos reclamar quando os motivos da reclamação estiverem sob nosso poder, mas ao momento que colocarmos nas mãos do Altíssimo, deixamos de reclamar e passamos a confiar no Senhor e no seu incomensurável poder.  

O apóstolo Pedro escreveu em sua primeira epístola: "Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que Ele, em tempo oportuno, vos exalte; lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós" (1Pe. 5. 6-7 - ARA).  É interessante notar como no versículo anterior (vv.5), o apóstolo orienta: "cingi-vos todos de humildade". Isso será importante para quando "em tempo oportuno - gr. kairós - "no tempo certo" -, ele nos exaltar" (vv.7). A exaltação de Deus, - não no sentido de engrandecer-nos, como alguns pensam e querem, mas de abençoar-nos - não nos deixa soberbos, porque "Deus resiste aos soberbos" (vv.5c), mas faz com que a nossa humildade permaneça, pois "aos humildes Deus concede a sua graça" (vv.5d). E então, voltamos ao que o apóstolo Pedro disse: "lançando sobre Ele toda a vossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós" (v.7a). Preocupações pessoais, angústias familiares, ansiedade pelo presente, cuidados pelo futuro, por nós mesmos, por outros, pela igreja, tudo isso e mais um pouco, somos convidados a lançarmos sobre Deus. Somos instados a pararmos de reclamar e descansarmos em Deus. As Escrituras asseguram: Ele cuida de nós!

E como podemos lançar nossas ansiedades em Deus? podemos o fazer na oração. Mateus 6.33 diz: "Buscai, em primeiro lugar, o Reino de Deus e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão dadas por acréscimo". "Buscar em primeiro lugar o reino de Deus" significa "saturar nossos pensamentos com Seus desejos". Isso é paralelo a Salmos 37.4 que diz: "deleite-se no Senhor, e Ele atenderá aos desejos do seu coração" (Sl 37.4 - NVI). O deleitar-se em Deus faz com que deixemos que as demais coisas sejam acrescentadas em nossas vidas pelo Senhor (Mt. 6.33b). Assim, nossa oração é agradável a Deus, não somente porque oramos, mas também, porque paramos para orar e cremos em sua provisão. Largamos as outras coisas e nos apresentamos diante do trono de Deus, por considerarmos este segundo infinamente mais importante que as demais coisas.

Portanto, quem vive reclamando, mostra que não confia em seu Senhor e não crê em seu infinito poder, pois quem descansa em Deus não tem motivos para reclamações e dores de cabeça, pois crêem que o Senhor é "galardoador daqueles que o buscam" (Hb. 11.6). Matthew Henry, em seu comentário sobre o cap. 6 de Mateus, disse: "A conclusão de todo o assunto é que é a vontade e o mandamento do Senhor Jesus, que pelas orações diárias possamos obter força para sustentar-nos sob nossos problemas cotidianos, e armar-nos contra as tentações que os acompanham e não deixar que nenhuma dessas coisas nos comovam. Bem-aventurados os que tomam o Senhor como seu Deus, e dão plena prova disso confiando-se totalmente a sua sabia disposição". Confiar e descansar - não reclamar! - é a ordem para nós!

Soli Deo Gloria.

17 de outubro de 2011

Cante as Escrituras - Conferência Rio de Janeiro.


Depois do Distrito Federal, é a vez do Rio de Janeiro receber uma conferência do Cante as Escrituras. Ela ocorrerá na Igreja Batista Central de Campo Grande, contando com a presença do João Victor (responsável pelo Aconselhamento Bíblico do Voltemos ao Evangelho), do Yago Martins (colaborador do Voltemos ao Evangelho) e do Renato Vargens (editor do www.renatovargens.com.br ). Tudo custará, como de costume, apenas 1 kg de alimento a ser entregue no dia do evento.  Se você mora longe e não tem como participar, vá em www.canteasescrituras.com/aovivo e veja toda a conferência online.

 P.S.: Em meio a tantas músicas sem Bíblia (e até mesmo sem noção!) no meio evangélico, o Ministério Cante as Escrituras tem se levantado contra esta mazela, sendo a favor da verdade das Escrituras em nossas músicas e da centralidade em Deus naquilo que cantamos. Este ministério tem andado pelo Brasil, por diversas denominações, fazendo conferências e despertando vidas para voltarmos a cantar as Escrituras. Para você que não conhece este ministério, acesse o site clicando aqui.

11 de outubro de 2011

Minhas considerações sobre John Piper no Rio de Janeiro

por Cleison Brugger

 Na manhã do dia 09/10 (domingo), deixei minha congregação local e fui em direção ao Centro de Convenções Rio Centro, onde aconteceria a Conferência "Juntos em Cristo", na qual o pastor americano batista-reformado John Piper pregaria pela última vez. "Juntos em Cristo" é uma parceria da Editora Fiel com diversas denominações do Rio de Janeiro, como a Igreja Cristã Nova Vida, Igrejas Presbiterianas, Igrejas Batistas, Assembleia de Deus em Venda da Cruz etc.
 
Na verdade, eu esperava menos, bem menos! esperava chegar num auditório qualquer, ouvir o tão esperado homem falar e logo em seguida, seríamos despedidos. Mas na verdade, a ministração de John Piper aconteceu apenas para somar. Na verdade, havia uma atmosfera espiritual ali que, atrevo dizer, nem mesmo o Dr. Piper pôde explicar.

Este domingo (09/10) foi muito especial para centenas de pessoas. Logo bem cedo, muitas pessoas se deslocaram de seus bairros e cidades, e foram em direção ao Rio Centro, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro, local onde a conferência "Juntos em Cristo" aconteceria. À parte a péssima distribuição de transporte público no Rio, chegamos (eu e alguns amigos) ao local no horário combinado. Antes de chegarmos, ainda dentro do ônibus, haviam pessoas tensas porque iriam se atrasar para o evento. Eu, na verdade, fiquei muito surpreso e alegre. Como um homem do outro canto do mundo pode influenciar tanta gente? eis uma pergunta de difícil esclarecimento.

Ao chegarmos no Pavilhão 05, trocamos nossas fichas por um adesivo com o nome da conferência: "Juntos em Cristo". Por mais incrivel que fosse, era exatamente isso que estava acontecendo ali: presbiterianos, metodistas, episcopais, assembleianos, batistas, congregacionais, pentecostais e tantas outras pessoas de outros segmentos estavam ali unidas e reunidas com um só propósito: fazer com que a glória de Cristo pareça bela e seja o motivo de satisfação dos homens.

De início, fomos recebidos com uma calorosa recepção do pastor da Igreja Presbiteriana da Gávea-RJ e logo depois, oramos junto com o bispo primaz da Aliança das Igrejas Cristãs Nova Vida, Bispo Walter MacAlister.

Após alguns anúncios, agradecimentos e lembretes, louvamos a Deus com hinos sacros. Certamente, a maioria dos que estavam ali eram presbiterianos, mas foi surpreendente ouvir a massa cantando em uníssono.

Após a leitura devocional, que fora feita no adequadíssimo Salmo 133, paramos para ouvir o pastor John Piper. Piper falou sobre "O maior propósito do mundo: a alegria". Piper iniciou falando que ser sério não é o oposto de ser alegre: "O oposto de sério não é alegre, mas trivial e tolo. É possível estar cheio de alegria e ser sério. A busca pela alegria não é trivial, mas central. Não é opcional, é necessária. O propósito desta mensagem é explicar o por quê disto." Ele ainda disse que "a busca pela alegria é uma busca muito séria, e a nossa vida cristã depende disso". Falando sobre Hebreus 11.6, Piper nos ensinou que a "fé é aproximar-se de Deus para abraçá-lo como satisfação da fome que existe em nossas almas. Fé é estar satisfeito com tudo o que Deus é para nós, em Cristo Jesus". Terminou dizendo que "Deus não nos deixou sós em nossa busca de alegria, pois Ele sabe que somos pecadores que trocaram a glória de Deus por coisas terrenas. Deus enviou Seu Filho para superar todas as barreiras entre Ele e nossa alegria nele. A barreira da nossa culpa, da nossa justiça e da Sua terrível ira. "Devemos buscar nossa alegria em Jesus pois, fazendo isso, Ele é glorificado", disse, dando término ao último sermão pregado em solo brasileiro.

Depois de pouco mais de 1h30min. ouvindo o Senhor falar por intermédio de seu servo, participamos de algo que eu não imaginaria que haveria ali: a ceia do Senhor. Foi um momento singular na presença de Deus. Ao som de hinos como "Grandioso és Tu", "Castelo Forte" e "Nome bom", pudemos nos confraternizar com nossos irmãos e comungar de uma mesma fé, de um mesmo Senhor, de um só batismo e de um só amor. A ceia do Senhor foi celebrada pelo pastor John MacAlister, pastor da Catedral da Igreja Cristã Nova Vida no Recreio, e filho do Bp. Walter MacAlister. Naquela celebração, pudemos sentir quão indiferente são nossas questões teológicas, denominacionais e administrativas, tendo em vista o Espírito que nos úne.

Foi maravilhoso saber que Deus está derribando as barreiras que nos separam. Arminianos param para ouvir calvinistas. Calvinistas oram juntos com arminianos. Presbiterianos abraçam assembleianos. Batistas sorriem com risos sinceros para congregacionais e metodistas. Quero crer que isso é o início de um avivamento na igreja carioca e brasileira. Naquela reunião, vimos que, de fato, o povo de Deus está junto, em Cristo e por Cristo. Que Deus abençoe a Editora Fiel, que tem sido um grande baluarte em favor da verdade das Escrituras e na disseminação desta verdade. E aos pastores e obreiros que, preocupados com a vida espiritual de nossa cidade e igrejas, têm manifestado um zelo especial e uma grande preocupação concernente ao reino de Deus. Redundará em glória, para a glória de Deus.

O que tivemos depois da reunião? um povo alimentado, forte, coeso, amando as Escrituras e entendendo que é ela somente quem deve ser pregada. Talvez, quem sabe, esta reunião foi o começo de uma mudança no cenário religioso de nossa nação. E sendo otimista, quem sabe esta reunião seja o início da propagação dos 5 Solas, primeiramente em nossas vidas, e depois, em nossos púlpitos e igrejas.

SOLI DEO GLORIA!

12 de setembro de 2011

O pentecostalismo bíblico e os falsos 'pentecostalismos'


 por Cleison Brugger

Neste dia 12, o  blog Púlpito Cristão, postou um vídeo (você pode ver acima) em que Edir Macedo (não acho justo chamá-lo de  bispo), querendo dar uma de apologista, critica o culto [pseudo]pentecostal, igualando-o aos cultos afro-brasileiros. De início, acho a iniciativa de Edir Macedo um tanto quanto hipócrita, visto que, como bem disse o blog supracitado, quem iniciou com as práticas sincretistas no meio evangélico foi o próprio Edir Macedo, quando no uso de arruda, sal grosso e diversas outras sandices, erguia a bandeira da "boa-cumba" (macumba gospel) dentro de sua igreja, a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) que, recentemente, junto com a IMPD (Igreja Mundial do Poder de Deus) do "apóstolo" Waldomiro Santiago, foi declarada como uma seita na última assembleia do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB).

Em contrapartida, o pastor da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, Marco Feliciano, querendo "defender" as bizarrices pentecostais, disse que "na questão dos cultos comparados pelo nobre Bispo, notamos sim semelhanças inúmeras, mas por que tanta semelhança? Vamos a explicação. O diabo tem poder isso é inegável, todavia Deus tem TODO o PODER!". Em sua concepção, os cultos afros são semelhantes aos da igreja "pentecostal", por que Satanás imita-nos, e não o contrário. Falando ainda da semelhança dos cultos, ele diz que "a diferença está na fonte do poder que se manifesta  nestes cultos. E, como pentecostal genuíno, criado no fogo de Jeová", diz ele, "não tenho dúvida alguma qual é a fonte das manifestações em nossos cultos pentecostais: Vem do único e verdadeiro Deus."

Apresentados ambos os lados, tanto de Macedo como de Feliciano, reproduzo abaixo o comentário que fiz a respeito do vídeo postado no blog de Edir Macedo e (re)postado pelo blog Púlpito Cristão:

"Concordo no que tange aos excessos pentecostais e a carismania (manipulação dos dons) que ocorre em muitas igrejas pentecostais (é certo que as Assembleias de Deus é a maior da classe pentecostal, mas não podemos olhar somente para ela, visto que existem igrejas pentecostais 'a balde' com diversos nomes e origens). Mas o que também devemos saber, é que as bizarrices que o vídeo acima mostrou e que realmente acontecem em diversas ‘igrejolas’ pseudo-pentecostais por este Brasil, são largamente combatidas e denunciadas por pastores, teólogos e cristãos pentecostais sérios e compromissados com a sã doutrina e com a coerência. Até mesmo a CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), que responde pela maior parcela da Assembleia de Deus no Brasil, combate veementemente tais loucuras. Por esta razão, Edir Macedo (como sempre) está sendo, mais uma vez, hipócrita e injusto, pois a igreja pentecostal não se limita a isto e muito menos concorda com isto. A igreja pentecostal a que conheço, é uma igreja que crê nos dons espirituais com temor, decência, ordem e coerência. Essas ‘igrejolas’ nada mais são do que pseudo-pentecostais ou seitas, classe em que, infelizmente, a IURD está classificada."

Ao contrário de Marco Feliciano, temos um verdadeiro apologista pentecostal, pastor Esdras Costa Bentho que, em seu blog, declara que "há igrejas "carismaniacas", que vivem um "pseudopentecostalismo", afastadas da orientação escriturística dos capítulos 12,13 e 14 de 1 Coríntios. Essa carismania é uma expressão "louca", "malsã" e antibíblica. Como certa vez asseverou Joseph L. Castleberry (deão acadêmico do Seminário Teológico das Assembléias de Deus em Springfield, Missouri - EUA): "Os que criticam o abuso dos carismata têm feito bem em chamar tal adoração “carismania”. É justamente a forma maníaca de expressão carismática que o apóstolo Paulo se opõe. Entretanto, enquanto é bom nos unirmos a Paulo em oposição à adoração maniankos, seria um grave erro proibir totalmente o exercício dos carismata. O verdadeiro louvor pentecostal-carismático se encontra no equilíbrio."

Ainda sobre o assunto, o teológo pentecostal Donald Gee diz que “Muitos de nossos erros nas áreas onde estão envolvidos os dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e o excepcional sejam transformados no frequente e no habitual. Que todos que desenvolvem desejo excessivo pelas “mensagens” transmitidas por meio dos dons possam aprender com os enormes desastres das gerações passadas com nossos contemporâneos [...] As Sagradas Escrituras é que são lâmpada que ilumina nossos passos e a luz que clareia nosso caminho.”

O bispo anglicano da Diocese do Recife, Dom Robinson Cavalcanti, escreveu que "um grande equívoco cometido pelos sociólogos da religião é o de por sob a mesma rubrica de “pentecostalismo” dois fenômenos distintos. De um lado, o pentecostalismo propriamente dito, tipificado, no Brasil, pelas Assembleias de Deus; e do outro, o impropriamente denominado “neopentecostalismo”, melhor tipificado pela Igreja Universal do Reino de Deus. [...] Equiparar ambos os fenômenos não faz justiça à Igreja Universal e ofende a Assembleia de Deus."

Por este motivo, digo que é hipocrisia e injustiça de Edir Macedo rebaixar a igreja pentecostal ao nível mostrado no vídeo, visto que os próprios pentecostais conscientes, bíblicos e coerentes, refutam e combatem aquele tipo de movimento e, ainda, porque o que foi mostrado não foi uma igreja pentecostal, e sim, um grupo carismaníaco e pseudo-pentecostal. É certo que pentecostalismo, espiritualidade e intelectualidade, têm sido um trinômio cada vez mais raro no pentecostalismo brasileiro, mas critiquemos o pentecostalismo quando, de fato, for pentecostalismo. Isto me faz lembrar do caríssimo Rev. David Wilkerson, quando em uma pregação combatia este pseudo-pentecostalismo desenfreado, disse: "Não posso rir, quando fazem o Espírito Santo parecer um idiota".

9 de setembro de 2011

"Eu sou de São Cristóvão" e "Eu sou de Madureira"

Há quase 40 anos alguém gritou que as Assembleias de Deus no Brasil corriam perigo e que esse risco deveria ser proclamado. Por causa dele, os servos de Deus, em vez de toscanejar, deveriam se precaver e se colocar em prontidão. O alerta foi dado no “Mensageiro da Paz”, órgão oficial da denominação, em janeiro de 1973, por João Pereira de Andrade e Silva, duas vezes diretor da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). Na época, a preocupação era com os ventos de doutrina, as inovações diversas, a aceitação de costumes que “não nos são lícitos”, a falta de santidade etc.



João Pereira dizia que o perigo estava às portas. E estava mesmo. Ele era e é o mesmo que rondava a igreja de Corinto: a grande quantidade de partidos dentro da comunidade. Provavelmente, o pastor John Phillip, preletor inglês especialmente convidado para pregar durante a Convenção Geral de 1981 -- no Estádio Jornalista Felipe Drummond (conhecido por “Mineirinho”), em Belo Horizonte, MG --, pressentiu o problema. Na abertura da reunião, ele abordou o assunto “A liderança segundo o conceito bíblico” e baseou-se exatamente no terceiro capítulo da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Phillip referiu-se aos partidos existentes naquela igreja: o grupo “fundador” (“Eu sou de Paulo”), o grupo “intelectual” (“Eu sou de Apolo”), o grupo “tradicionalista” (“Eu sou de Pedro”) e o grupo dos “falsamente piedosos” (“Eu sou de Cristo”). O pregador visitante terminou sua mensagem assim: “Tanto o grande Paulo como o eloquente Apolo não passavam de dois jardineiros. Tudo o que você pode ter é um pedaço de pau para furar o chão e nele plantar a semente, ou um balde d’água com que regar as plantas. Nada mais. De fato, nós mesmos nada somos. Por isso precisamos uns dos outros. De nada adianta plantar, se não houver quem regue. De nada vale regar, se ninguém plantou. Somos, isto sim, cooperadores. Juntos formamos uma grande unidade com Deus”.


As palavras de João Pereira e de John Phillip foram proféticas, tanto para ontem como para hoje. Antes, o atrito era entre os megaministérios: “Eu sou de São Cristóvão”, “Eu sou de Madureira”, “Eu sou de Belém”, “Eu sou do Brás”. Hoje, ele é personalizado: “Eu sou de José Wellington”, “Eu sou de Manoel Ferreira”, “Eu sou de Samuel Câmara”, “Eu sou de Silas Malafaia”. Antes, era dentro das quatro paredes da denominação. Hoje, é público (usam-se inclusive os programas evangélicos de televisão). Em sã consciência, nenhum asssembleiano tem condições de repetir o que John Phillip disse há trinta anos no Mineirinho: “Juntos formamos uma grande unidade com Deus”. 


Nesses 100 anos de história, a unidade sempre foi difícil nas Assembleias de Deus (bem como em outras denominações). De vez em quando, havia um clamor em favor da unidade, como o do pastor Altomires Sotero da Cunha, que, na Convenção Geral de 1971, propôs que a liderança de Madureira visitasse a igreja de São Cristóvão e vice-versa, “para selar a paz”, o que de fato aconteceu. Nessa ocasião, “houve perdão e abraços e muita alegria”. Contudo, 18 anos depois, em setembro de 1989, aconteceu a maior e mais importante divisão das Assembleias de Deus no Brasil, com o desligamento do Ministério de Madureira e suas convenções.


É consenso que as divisões assembleianas nunca aconteceram por questões doutrinárias, mas por disputas de campos territoriais ou por cargos. Essa é a opinião de Paulo Romeiro, que desenvolve uma pesquisa sobre os movimentos pentecostais brasileiros para a Universidade Presbiteriana Mackenzie.


Segundo o assembleiano Gedeon Freire de Alencar, diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e doutorando em ciências da religião (PUC-SP), “uma igreja que nunca teve uma direção nacional instituída, abriu espaço para figuras isoladas se fortalecerem”1. O problema é complexo e pecaminoso, porque envolve uma rivalidade entre os megaministérios e seus pastores presidentes. Os chamados “ministérios” são como denominações dentro de uma mesma denominação.


Em junho, duas comemorações separadas do centenário foram realizadas na mesma cidade, onde tudo começou, Belém do Pará: uma no dia 10, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, e a outra no dia 16, no Estádio Olímpico do Pará (Mangueirão). 
Na primeira comemoração, presidida por José Wellington Bezerra, a tensão diminuiu com a presença de Samuel Câmara, pastor da Assembleia de Deus de Belém. Na segunda, presidida por Samuel Câmara, ela foi de igual modo reduzida pela presença de José Wellington.


A reconciliação dos diferentes grupos pode ser difícil. Porém, de acordo com Alfredo Borges, “quando Deus exige do homem coisas que ele [com suas próprias forças] não poder fazer sem uma graça especial, ele mesmo, junto com a ordem providencia ao mesmo tempo essa graça”.2 


Em meio ao barulho das comemorações, seria bom ouvir o apelo de Paulo endereçado a duas ovelhas na mesma situação dos assembleianos: “E agora eu quero suplicar àquelas duas estimadas senhoras, Evódia e Síntique: “Por favor, com a ajuda do Senhor, vivam em harmonia” (Fp 2.2, BV). 


Notas
ALENCAR, Gedeon Freire. “Assembleias de Deus; origem, implantação e militância” (1911-1946). São Paulo: Arte Editorial. p. 131.
TEIXEIRA, Alfredo Borges. “Meditações cristãs”. São Paulo: Editora Metodista, 1967. p. 187.

5 de setembro de 2011

Síntese pentecostal da Igreja Cristã durante os séculos (7)

CONT. MOVIMENTO PENTECOSTAL - SÉCULO XX

Com o derramamento do Espírito Santo na Escola Bíblica Betel, em Topeka, Kansas, a doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo com evidência externa de falar em outras línguas foi redescoberta e sistematizada. Porém, apesar de Charles Fox Parham e seus alunos se dedicaram à divulgação desse ensinamento nos Estados Unidos, não foi com eles que o Movimento Pentecostal ganhou notoriedade. O mundo só foi dar conta desse movimento espiritual em 1906, por meio da instrumentalidade de um homem negro e simples, amante da Palavra de Deus: William Joseph Seymour. Foi ele o homem que Deus usou para dar início ao célebre Avivamento da Rua Azusa.

Tudo começou quando Neely Terry, uma moradora de Los Angeles que freqüentava uma pequena Igreja da Santidade, fez uma viagem a Houston, Texas, em 1905. Ela freqüentou a igreja que William Seymour estava pastoreando. Embora Seymour não tivesse recebido ainda o batismo no Espírito Santo com a evidência do falar em outras línguas, estava convencido que era bíblico e pregava esta mensagem com grande fervor.

Seymour aprendeu a doutrina no batismo no Espírito Santo assistindo às aulas que Parham ministrava no país sobre o assunto. Quando Parham chegou à sua região, ele foi até lá ouvi-lo. Porém, como as leis de segregação nos Estados Unidos ainda eram fortes nessa época, as leis determinavam que os negros não podiam assistir a uma aula na mesma sala dos alunos brancos. Por isso, ele teve que colocar uma cadeira no corredor, diante da porta da sala e, dali, assistiu atentamente a todas as aulas de Parham. Após o curso, inflamado pelo que aprendera, William Seymour passou a pregar a mensagem pentecostal no Texas.

Impressionada com o caráter e a mensagem de William Seymour, ao retornar à Califórnia, Neely Terry relatou à sua igreja sobre as mensagens avivadas de Seymour e convidaram-no para visitá-los. Ele concordou em ir. Só que o empreendimento evangelístico, que havia sido inicialmente previsto para durar um mês, acabou durante anos. Os planos de Deus eram diferentes.

Seymour chegou a Los Angeles em 22 de Fevereiro de 1906, e dentro de dois dias estava pregando na Igreja da Santidade de Los Angeles. Ele pregou sobre regeneração, santificação, cura divina e o batismo no Espírito Santo com a evidência de falar em outras línguas. Julia Hutchins, líder da igreja, rejeitou o ensino de Seymour e, dentro de poucos dias, fechou as portas da igreja para ele. O presbitério da igreja rejeitou o ensino de Seymour. No entanto, em meio à perseguição, Seymour continuou firme e inabalável em seu trabalho para o Senhor. Os membros daquela igreja que creram na pregação de Seymour começaram a realizar reuniões com ele em suas casas. Alguns sentiam-se compelidos a passar horas em oração e outros tiveram visões confirmando que Deus iria abençoá-los em Los Angeles com um derramamento espiritual.

O grupo continuou a reunir-se para oração e adoração, realizando cultos na casa de Richard e Ruth Asbery na 214 Bonnie Brae Street. Outros tiveram informações a respeito dos cultos e começaram a freqüentá-los, incluindo algumas famílias brancas que moravam próximas de Igrejas de Santidade.

Poucos dias mais tarde, em 12 de Abril, William Seymour finalmente recebeu o batismo no Espírito Santo, aproximadamente às quatro horas da manhã, depois de Ter orado a noite toda.
Uma testemunha ocular, Emma Cotton, mais tarde relembrou aquelas experiências: eles clamaram durante três dias e três noites. As pessoas vinham de todas as partes. Perto da manhã seguinte, não havia como entrar na casa. Conta-se que algumas pessoas que conseguiam entrar na casa caíam sob o poder de Deus sem que houvesse alguém que as sugestionasse a isso, e toda a cidade ficou agitada. Clamaram ali até o chão da casa ceder, mas ninguém ficou ferido. Durante aqueles três dias, muitas pessoas que tinham vindo só para ver o que estava acontecendo receberam o batismo no Espírito Santo. Os doentes ficaram curados e muitos aceitavam Jesus ao entrarem em casa.

25 de agosto de 2011

A face gloriosa de Deus

por Cleison Brugger

"Faze com que a luz do teu rosto brilhe sobre nós" - Salmo 4.6b

O rosto de Deus reflete glória, majestade, beleza, esplendor, bondade, magnitude, amor, mas também reflete ira, furor, ódio e impetuosidade, tudo isto numa mesma intensidade. Se o amor de Deus é plenamente abundamente, também o é sua ira; se a afeição de Deus é perfeitamente ampla, também o é seu furor. Quando as Escrituras dizem que "Deus é amor" e que  "Deus é ira", está nos mostrando que Deus é plenamente abundante em todos os seus atributos. Deus não é mais amor do que ira e vice-versa. Se Deus é perfeito, então todos os seus atributos também o são, sem tirar, nem por. Só existe uma diferença entre um e outro: o Seu amor dura para sempre (Sl. 136.1), mas a Sua ira, dura só um momento (Sl. 30.5). Contudo, a mesma disposição que temos em receber o amor do Eterno, não tenhamos em receber Sua ira. Tal qual um Sol que da calma manhã até o crepúsculo do dia, raia com sua imponência, assim é o amor e a ira de Deus: faz toda a diferença se você sente o raiar do Sol às 9 da manhã do que às 3 horas da tarde. É o mesmo Sol, numa mesma intensidade (ele não é mais Sol à tarde do que de manhã), só muda o período.

Enquanto pecadores e, por natureza, filhos da ira (Ef. 2.3), o nosso clamor a Deus é: "esconde a tua face dos meus pecados" (Salmo 51.9b), pois "o rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal, para apagar da terra a memória deles" (Sl. 34.16-NVI) e ainda "os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações; Mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal" (IPe. 3.12). A face do Senhor é santa e, por esta razão, o pecador não consegue olhar para ela. Diante da face do Senhor, os homens tremem (Ez. 38.20).
Mas quando somos atraídos a Cristo pelo Pai (Jo. 6.44) e, assim, cremos e confessamos acerca de Jesus: " Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" ( Mt 16.16), o Espírito Santo comunica ao nosso coração para que possamos ter condições de olhar para a Face de Deus: "Quando tu disseste: Buscai o meu rosto; o meu coraçäo disse a ti: O teu rosto, SENHOR, buscarei" (Sl. 27.8).

A partir disto, passamos a ter prazer na santa face de Deus e conseguimos olhar para ela, pois para os salvos "na luz do rosto do rei está a vida" (Pv. 16.15) e, por isso, clamamos como Davi: "faze a luz do teu rosto brilhar sobre nós" (Sl. 4.6b), pois da luz do rosto de Deus emana vida, glória, graça, beleza, virtude e tudo o que é santo, bom, belo e agradável.  Assim como a intensidade do Sol é a mesma, mas fará diferença se olharmos para o Sol às 7 da manhã e às 3 da tarde, assim a intensidade do rosto de Deus é a mesma, mas enquanto os pecadores dizem: "afasta de nós o Teu rosto", os santos clamam: "faze brilhar sobre nós a luz da Tua face". O sol é apenas uma pequena faísca comparado ao brilho do nosso Redentor.

"E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece" (Ap. 1. 13-16).


Preparemo-nos para encontrá-Lo face a face (ICo. 13.12), tal como Moisés O viu (Ex. 33.11).

23 de agosto de 2011

O divisionismo na Igreja brasileira

Por Robinson Cavalcanti

O primeiro século do Protestantismo no Brasil ainda foi marcado pela era de uma relativa “sobriedade” quanto ao divisionismo. Somando-se os grupos migratórios e os missionários, de 1810 (Tratado de Livre Navegação e Comércio) a 1910, se estabeleceram aqui as seguintes “denominações”:

1. Luteranos;

2. Congregacionais;

3. Presbiterianos;

4. Batistas;

5. Metodistas;

6. Anglicanos/Episcopais.

Tivemos a criação, pelos irmãos presbiterianos Vieira Ferreira da autóctone e proto-pentecostal
(7) Igreja Evangélica Brasileira.

8. Igreja Cristã Evangélica (congregacionais imersionistas), em 1901, e, finalmente, o cisma (nacionalismo/questão maçônica), que fez surgir, em 1903, a

(9) Igreja Presbiteriana Independente (IPI).

A primeira metade do segundo século (1910-1960) foi marcada pela chegada do Pentecostalismo:

(10) Congregação Cristã no Brasil e

(11) Assembleia de Deus.

Na década de 1930, uma dissidência da Assembleia de Deus, no Nordeste, cria a

(12) Igreja de Cristo,

E uma dissidência da IPI, em São Paulo, cria a

(13) Igreja Presbiteriana Conservadora (IPC).

No pós-segunda Guerra Mundial, os ecos das lutas forâneas entre ecumenismo (agora hegemonizada pelos liberais) do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), fundamentalismo do Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (CIIC) e evangelicalismo da Fraternidade Evangélica Mundial (WEF) têm um rebatimento também aqui, com a criação, no Nordeste, da

(14) Igreja Presbiteriana Fundamentalista (IPF).

O fundamentalismo igualmente nos chega com os

(15) Batistas Regulares.

Também no Nordeste, uma ala da Assembleia adere ao Calvinismo, e cria a

(16) Igreja Pentecostal Assembleia de Deus.

No meio Pentecostal, aporta aqui a Cruzada Nacional de Evangelização, com a

(17) Igreja do Evangelho Quadrangular,

Surge, de dissidentes dessa e da Assembleia de Deus, a partir do Estado de São Paulo, a nativa

(18) Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para Cristo”.

De agora em diante, não dá mais para contar. A segunda metade do segundo século da presença protestante no Brasil (1960-2010) vai ser marcada por uma aceleração desenfreada do divisionismo denominacionalista. Primeiro com o chamado “Movimento de Renovação Espiritual”, de tendência pentecostal, que racha as principais e mais antigas denominações históricas (batistas, presbiterianos (IPB e IPI), congregacionais, metodistas e luteranos), gerando, inicialmente, a Convenção Batista Nacional (CBN), a Igreja Presbiteriana Renovada (IPR), a Aliança das Igrejas Congregacionais do Brasil (AICB), a Igreja Metodista Wesleyana (IMW), e a Igreja Luterana Renovada (ILR). Daí em diante esses grupos sofreram subdivisões, e começa a “criatividade brasileira”, com uma miríade de “denominações” pentecostais “made in aqui mesmo”, com os nomes mais“originais”, para dizer o mínimo. Por último, com a Teologia da Prosperidade e a Teologia da Batalha Espiritual “amorenadas”, nos vem o crescente fenômeno do neo(pseudo)pentecostalismo: Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), e um número avassalador de divisões e subdivisões.

Igreja Romana conhecera os cismas da Igreja Brasileira (ICAB) e da Igreja Livre (hoje com o remanescente dito Independente), e daí não parou mais de surgir cismas“católicos” em cada esquina. Os Vétero-Católicos, que nunca vieram para o Brasil, olham espantados da Europa a quantidade de grupos que usam essa denominação entre nós. Os Adventistas do Sétimo Dia, além do cisma dos extremados Adventistas da Reforma, viram surgir o nativo e pentecostalizante Adventistas da Promessa. Até os Luteranos/Episcopais também começam a ver surgir grupos “continuantes”, “de convergência”, ou “independentes” (os anglicanos usam o termo “jurisdições” e não“denominações”), algumas formadas por quem nunca pos os pés em uma Igreja Anglicana. E aí nos vem o “movimento apostólico”, com seus apóstolos e apóstolas, o G-12, o M-12, além da importação de movimentos, métodos e macetes que o Tio Sam é pródigo em criar e exportar. Começam a surgir as combinações dentro da cultura “self-service” pós-moderna, como a Igreja Batista Renovada do Sétimo Dia ou a Assembleia do Reino de Deus. De 1989, para cá, após o caso do racha da Convenção de Madureira, afirma-se que houve mais de 100 cismas de Convenções e Ministérios da Assembleia de Deus.
Bem dizia Pero Vaz de Caminha, autor da primeira carta a El-Rei de Portugal, que em nossas terras “em se plantando tudo dá”, especialmente “denominações” de um Cristianismo dilacerado, animado pela “criatividade”, e se auto-enganando com o pensamento “pelo menos o evangelho está sendo pregado!”. Que “evangelho”, cara pálida!?
 -----------------------------------------
Fonte: Publicado com o título “A Igreja vive em pecado – III” no site da Diocese Anglicana do Recife.

17 de agosto de 2011

Uma crítica a hinologia pentecostal

por Cleison Brugger

Você sabe o que é ouvir uma música e se sentir mal? pois bem, é assim que eu tenho me sentido quando ouço algumas músicas pentecostais contemporâneas. Elas bajulam tanto o homem, que causam náuseas. Ultimamente, quando ouço algumas músicas pentecostais, faço a mesma objeção de Isaque: "onde está o Cordeiro?" (Gn. 22:7). Cristo, terminantemente, desapareceu da hinologia pentecostal.

O que temos tido em nossa hinologia, são músicas que apresentam um Deus "que serve", um que existe para a exaltação do homem e não o contrário. Um que sempre está "trabalhando" para beneficiar o homem, sendo Deus o "servo" e nós o "senhor"; um Deus megalomaníaco, que faz o possivel e o impossivel por amor aos seus filhos; um Deus "com pressa" de abençoar, que está sempre "à espera" do homem para que este deixe que Ele o use. Letras apresentando sempre o homem como "o campeão", "o vencedor", "o que está no palco humilhando o inimigo da platéia", quase um imortal. Enfim, antropocentrismo descarado. Fico pensando se, ao escreverem as letras dessas músicas, os compositores antes lêem a Bíblia ou algum livro de auto-ajuda ou, ainda, algum clássico de T.L. Osborn. Sem dúvida alguma, as músicas pentecostais contemporâneas são um reflexo direto dos púlpitos pentecostais: a valorização do hedonismo, da persona, do bem-estar em contraste com a glória e a beleza de Cristo e o evangelho.

Em questão de biblicidade e cristocentralidade nas músicas, perdemos feio para a hinologia adventista. Isso mesmo, adventista. Quem conhece ou já ouviu Coral UNASP, Prisma Brasil, Leonardo Gonçalves, Cânticos Vocal, Arautos do Rei e outros, sabe do que estou falando. Músicas com temáticas biblicocêntricas como a pessoa e a obra de Cristo, a centralidade da cruz, o sacrifício substitutivo de Cristo, a volta iminente de nosso Senhor, entre outras. Em outras palavras, completamente o avesso da hinologia pentecostal.

Então, eu, como um jovem de 19 anos, me pego sentindo saudades. Saudades de Victorino Silva, Ozéias de Paula, Matheus Iensen, Trio Alexandre, Josias Menezes e tantos outros que assumiram o compromisso de exaltar, com suas músicas, a pessoa bendita de nosso Senhor. Minha oração é que os cantores pentecostais de hoje possam olhar para trás e aprender com quem, de fato, sabia compor músicas, pois as de hoje, nada passam de escória e bajulação. E esta mesma oração serve para os pregadores que acham que o grito é essencial na pregação pentecostal. Olhem para trás e aprendam com os antigos mestres e vocês saberão o que é, de fato, pregar.

28 de julho de 2011

Deus está calando seus profetas

O advento da morte de grandes homens sempre me leva a pensar. Penso na minha incapacidade de chegar à altura dos tais. Penso que, por mais que tente, não terei a influência, a relevância e a importância desses grandes homens. Hoje, pela tarde, partiu para estar com o Senhor o reverendo anglicano John Stott, chamado por Billy Graham de "o clérigo mais respeitável no mundo hoje". Li de Stott muito menos do que gostaria. Aliás, sou relativamente novo tendo em vista sua idade e seus anos de ministério. Contudo, desde já, valorizo (e muito), os grandes homens de Deus.

No início do ano, a Assembleia de Deus no Brasil perdeu um grande homem que servia à esta casa: José Pimentel de Carvalho, com seus 95 anos. Filiados a esta grande igreja, também se foram Alfredo Heikdal, Sebastião Mendes, Francisco Pacheco de Brito e outros.Também este ano, partiu para estar com o Senhor o Rev. David Wilkerson, e como eu me consternei. Lembro que, quando peguei o livro "A cruz e o punhal" de Wilkerson, a última coisa que eu queria fazer era parar de ler. Devorei aquele livro em dias e, a partir dali, comecei a nutrir um forte respeito por David Wilkerson e seu honroso ministério. Quando este faleceu, chorei. A partir dali, passei a constatar que Deus está calando os seus profetas. Quem já ouviu Wilkerson pregar, sabe do que estou falando. As lágrimas vêm a porta dos meus olhos, só de lembrar de sua mensagem "um batismo na angústia".

Hoje, pela tarde, eu lia uma entrevista que o pastor assembleiano Antônio Gilberto, de 81 anos, concedeu a revista Cristianismo Hoje (você pode lê-la abaixo), no ano passado. Que homem! não pelo que escreveu ou pregou apenas, mas por sua vida. O repórter relatou que, enquanto ele folheava um exemplar da revista, olhou pela janela e balbuciou, como se falasse consigo mesmo: "quem de nós tem buscado ao Senhor em espírito e em verdade?". Imagino este grande homem com seus olhos ensimesmados, dizendo a frase acima. Glórias a Deus, pois ainda temos este homem, mas não por muito tempo pois, pouco a pouco, Deus está colhendo os seus molhos e calando os seus profetas.

Hoje, se foi John Stott. Sábado passado, parei para ler algumas páginas de seu livro "Cristianismo Equilibrado" e devorei todo o livro. Indiscutivelmente, perdemos um grande homem de Deus e, por esta razão, meu coração está enlutado e tudo o que vem a mim é preocupação. Fico preocupado pois amanhã eu tomarei os púlpitos desta nação, e o que passarei para o povo? qual legado deixarei? muitos dizem que ninguém é insubstituivel, mas tudo depende de como enxergamos alguém "insubstituivel". Posso concordar que todos somos insubstituiveis, mas ninguém é igual a ninguém. Quando Moisés morreu, Josué ficou à frente do povo e a palavra é enfática ao dizer que "nunca mais, em Israel, houve alguém como Moisés, a quem Deus falava cara a cara" (Dt. 34.10). Por isso, entristeço-me. Não porque eles estão indo para casa, mas porque não há quem os substitua, tamanha a singularidade destes grandes homens. Que Deus tenha piedade de nós e levante homens com o caráter, a piedade, o modelo, a sobriedade e a biblicidade de Wilkerson, John Stott, José Pimentel e tantos outros. Que possamos achar graça aos olhos de Deus, é a minha oração.
Com temor e tremor,

Cleison Brugger de Oliveira, aspirante à obreiro aprovado.

27 de julho de 2011

Pelo retorno à Palavra

O pastor Antônio Gilberto, consultor teológico e doutrinário da Assembleia de Deus, é um homem honradíssimo e respeitado nos círculos evangélicos. Aos 81 anos, está ativo e operante, seja na CPAD (Casa Publicadora das Assembleias de Deus), seja nos púlpitos ou em conferências em que ele esteja ministrando. Há anos, é pastor-auxiliar na Assembleia de Deus em Cordovil-RJ e, nestes últimos tempos, tem sido uma voz contra modismos neopentecostais e a mercantilização da fé. A entrevista, feita pela revista Cristianismo Hoje, data de 10 de dezembro de 2010, mas vale muito a pena ler.

CRISTIANISMO HOJE – Como está a Assembleia de Deus hoje, às portas do centenário?

ANTÔNIO GILBERTO – Eu digo que ela está caminhando bem, pela graça de Deus. O início de nossa igreja e seu crescimento são provas de que esta obra não pode ser dos homens. Como o trabalho daqueles dois obreiros estrangeiros [N.da Redação: os missionários suecos Gunnar Vingren e Daniel Berg, oriundos dos Estados Unidos, fundaram a Assembeia de Deus no Pará, em 1911] poderia despertas espiritualmente o país se não fosse pela ação do Espírito Santo? Hoje, a Assembleia de Deus é querida e acatada, tem comunhão com as igrejas coirmãs e é uma referência em sentido geral.

Quantos membros tem a denominação?

É uma pergunta muito difícil de ser respondida, inclusive por causa de seu tamanho. Há mais de quinze anos, fizemos um levantamento amplo. Embora não tenha havido o retorno de todas as informações solicitadas, projetamos com segurança uma membresia da ordem de 11 milhões. O levantamento baseou-se apenas nos membros batizados, sem levar em conta as crianças e os frequentadores eventuais. Claro que não podemos afirmar este número com rigor científico, mas serve para dar uma noção da amplitude de nossa igreja.

Durante muito tempo, a Assembleia de Deus foi vista como uma igreja conservadora em relação a usos e costumes. Hoje, percebe-se maior liberalidade, sobretudo no contexto urbano. Houve exageros no passado?

Acontece que muitos irmãos e irmãs do passado, com pouco conhecimento do assunto à luz das Escrituras, praticaram excessos, estabelecendo regras individuais e regionais desnecessárias. Usos e costumes bons e santos devem fazer parte do testemunho cristão.

O uso da TV, por exemplo. Dizia-se que o crente não podia assistir à televisão, mas hoje os evangélicos usam-na largamente para anunciar o Evangelho.

Exato. Já se disse que a TV era anátema e pecaminosa. Aqueles irmãos do passado eram sinceros em sua fé, mas a ignorância e o exagero levam ao erro de muitas maneiras. Sabemos também que a mera observação de usos e costumes na igreja, de modo legalista, sem o lastro e a prática da doutrina bíblica, leva o cristão ao farisaísmo, ao legalismo, ao fanatismo religioso, à falsa santidade e à pretensa salvação pelas obras. Só que hoje vem ocorrendo o abandono de bons costumes que têm origem na doutrina cristã.  Hoje, há pessoas que dizem que a Bíblia não trata de costumes. É que a palavra “costumes” nem sempre é traduzida pelo emprego deste termo na Bíblia. Se a doutrina bíblica for compreendida e observada com sabedoria e discernimento, ela certamente levará à prática de bons costumes. A doutrina é a garantia de perenidade de qualquer igreja.

Diversas igrejas independentes têm usado o nome “Assembleia de Deus”, mesmo sem qualquer ligação com a CGADB. A denominação cogita alguma medida contra isso?

Quem pode pronunciar-se sobre este ponto é a Direção nacional da igreja. Esses chamados “pentecostais” ou “neopentecostais” leem a Bíblia, mas não a estudam no sentido estrito deste termo. Eles só querem saber de manifestações humanas, como gritar, rolar, pular, expulsar demônio, praticar exorcismo. É um inominável erro cuidar só de manifestações e não do verdadeiro relacionamento com Deus, aquele que transforma a vida das pessoas. Primeiro, a predominância do Espírito Santo segundo as Escrituras; depois, os efeitos de sua manifestação. No início do movimento neopentecostal no Brasil, por volta dos anos 1960, várias igrejas que surgiram me convidavam para lhes ministrar sobre as doutrinas fundamentais da fé cristã. Esse interesse arrefeceu, como é fácil detectar nos seus escritos e programas de rádio e televisão. Esses grupos precisam despertar a tempo para, em primeiro lugar, dar espaço contínuo e amplo ao estudo sistemático da Palavra de Deus. A Assembleia de Deus está correndo o mesmo perigo; muito pouco estudo da Bíblia, priorizando suas doutrinas básicas. 

E quais são as doutrinas básicas observadas pela Assembleia de Deus?
O assunto é muito extenso para tratar numa entrevista, mas eu poderia destacar algumas. A inspiração divina da Bíblia, que é específica, única e plenária. Quando o apóstolo João encerrou o Apocalipse e guardou a sua caneta, encerrou-se também, na providência divina, o cânon das Sagradas Escrituras. Sua inspiração é plenária no sentido de que Deus colocou na mente dos santos escritores sagrados não só a ideia ou o conceito da mensagem recebida dele, mas além disso guiou-os sobrenaturalmente na escolha das palavras. Também enfatizamos a salvação pela graça divina, quando o homem carente da salvação aproxima-se de Deus pela fé em Cristo. Ninguém tem mérito algum para ser salvo. Ser moralista, caridoso e altruísta é agradável a Deus, mas nada disso leva à salvação. Também cremos no Deus trino e triúno. Essa é uma verdade bíblica e doutrinária que transcende a mente humana, por mais capacitada que ela seja. Nem gênios como Newton e Einstein foram capazes de entender a triunidade de Deus. O que nos cabe é aceitar pela fé o que o Senhor diz na sua Palavra. O Pai é Deus, o Filho é Deus, o Espírito Santo é Deus. E também várias outras doutrinas fundamentais, como a do pecado, a da santificação, a da volta de Jesus em breve...

Como a Igreja Evangélica deve agir em face do mundo?

A Igreja de Jesus – a verdadeira Igreja, aquela que teme ao Senhor e segue a sua Palavra – não pode se coadunar com a filosofia do mundo, que cada vez mais afunda no pecado. A Igreja neotestamentária é necessariamente diferente do mundo; de modo que, no dia em que a Igreja se coadunar com o mundo, e vice-versa, será o fim. Quando o mundo diz sim, a Igreja diz não. É assim que deve ser.

Essa diferença tem se diluído?

Infelizmente, a Igreja está muito mais parecida com o mundo do que deveria. Nós devemos enxergar esse processo como sinal dos tempos – e, sem querer ser pessimista ou negativo, tudo que tem acontecido ao redor do mundo faz parte de um panorama profético. E haverá choques tremendos entre o povo de Deus e o mundo. Veja esse pacote de leis que hoje tramitam no Congresso Nacional e nas Assembleias Legislativas. Refiro-me a temas como a chamada união civil de homossexuais, a legalização do aborto, a descriminalização do uso de drogas hoje ilegais e as restrições ao trabalho de evangelização, entre tantos outros pontos. Mais do que nunca, o crente precisa manter-se fiel. A segunda vinda de Jesus ao mundo é um acontecimento iminente. A qualquer momento, o Senhor virá. Que bom seria se o mundo despertasse para buscar ao Senhor enquanto é tempo!

O senhor prevê uma perseguição contra a Igreja no Brasil?

Mas sem dúvida nenhuma. A propósito, eu faço parte de uma comissão em nossa denominação encarregada de redigir posições bíblico-doutrinárias sobre assuntos como união de homossexuais, família, casamento e o divórcio, inclusive o de obreiros. Queremos dar orientação clara ao nosso povo. Estamos nos debruçando sobre isso já prevendo que, se este pacote de leis for aprovado, perseguições tremendas virão, como já tem acontecido aos cristãos em outras partes do globo. Somente uma Igreja neotestamentária, ortodoxa, que teme ao Senhor e respeita a Bíblia no sentido correto, estará preparada para enfrentar estes novos tempos. A profecia de Daniel, nos capítulos 2 e 7 de seu livro, sem dúvida abarca o que estamos a responder. Tudo começou com “ouro”, mas terminou com “ferro misturado ao barro”. Não haverá inversão disso, como querem os homens que pensam sem Deus. A Palavra do Senhor é fiel e infalível. Há uma degradação crescente e geral no mundo, conforme I João 4.3. 

 Esse panorama de degradação o deixa chocado?

Não, eu não me choco com isso. Vejo tudo como uma advertência espiritual. O Senhor advertiu a todos sobre isso textos como o de Mateus 24. O mundo está posto no maligno. Todas as instituições seculares sofrem com a influência e ação malignas. Não estou dizendo que todas as pessoas que não conhecem o Senhor agem deliberadamente de má-fé. Mas o secularismo da sociedade as afasta de Deus. E neste contexto, a Igreja de Cristo deve proceder como dela está escrito em I Pedro 2.11, como peregrina e forasteira. Isto é, ela não pertence a este mundo. E por falar nisso, ela está perdendo sua identidade bíblica. E como recuperá-la? Voltando à Palavra de Deus e, ao mesmo tempo, clamando por um avivamento genuíno, soberano, irresistível, como já aconteceu tantas vezes na Bíblia e também na história da Igreja.

Como definir avivamento?
Há quem pense que o avivamento espiritual da Igreja caracteriza-se
apenas pela manifestação de dons sobrenaturais e operação de milagres. Segundo as Escrituras, avivamento éuma renovação espiritual soberana da parte de Deus, uma sobrenatural intervenção divina entre o seu povo. E isso se caracteriza inicialmente pela fome incontida pela Palavra de Deus. Sempre que uma igreja é despertada pelo Espírito de Deus, ela busca sem cessar a renovação espiritual, a santificação e o conhecimento constante e profundo da Palavra de Deus, tanto na congregação como na vida de cada crente. 

Mas então como a Igreja Evangélica tem crescido tanto no país?

Não é bem assim no presente momento. O número de genuínas decisões por Cristo vem diminuindo nas igrejas. A Igreja tem crescido em quantidade. Não sou contra a quantidade – quanto mais pessoas se tornarem crentes em Jesus, melhor. Mas, quanto aos seus, o Senhor conta primeiro com a qualidade de vida espiritual, moral, social e familiar. Lembre-se do caso de Gideão: Deus só permitiu que ele fosse acompanhado por 300 homens à guerra, ao invés dos milhares que havia. Ora, do dia para a noite você consegue encher um templo ou um estádio de gente; basta dizer o que as pessoas gostam e querem ouvir. No início da Igreja, praticamente não havia necessidade de apelo e convite para o povo vir a Cristo. O poder de Deus era tão manifesto que as pessoas, por livre iniciativa, procuravam os apóstolos com a pergunta: “Que devo fazer para ser salvo?”.

A situação está assim por culpa da liderança?

Nesta resposta, eu gostaria de substituir a palavra “liderança” por “os pastores”. Liderança tem a ver com direção, mas, em termos de igreja prefiro abordar o assunto partindo dos pastores, aqueles que receberam de Deus o chamado e o ministério de apascentar. O pastor tornar-se líder porque antes já era pastor; ele não é pastor simplesmente porque é líder de uma obra. Nem todo líder cristão é obreiro do Senhor só pelo fato de ser líder. O pastor que apenas é líder torna-se um profissional, e não um vocacionado da parte do Senhor. E os pastores precisam enfatizar a importância primordial da Bíblia Sagrada. Está faltando a Palavra em nossos púlpitos. Hoje, nos cultos evangélicos, 80% do tempo é gasto com assuntos e atividades que nada têm a ver com a exposição da Palavra de Deus. Veja as músicas de hoje – não têm nada de Bíblia, é só passatempo. Muitas vezes, quem compõe nem salvo por Cristo é. O resultado está aí: carência espiritual, pobreza de fé, crentes sem vida. Nossos pastores precisam despertar para semear a Bíblia. O povo está sem alimento. Se a ovelha recebe comida fraca, ou adulterada, pobre dessa ovelha!

A solução seria o incentivo à Escola Bíblica Dominical (EBD), uma instituição que atravessa uma crise em tantas igrejas?

Repito que uma igreja, um povo, uma família, quando despertados por
Deus, mediante o Espírito Santo e a Palavra, procurarão com perseverança conhecer a Bíblia. A EBD deve enfatizar o estudo da Palavra de maneira metódica, atingindo desde o bebê até ao ancião, com professores treinados, de maneira sistemática. É preciso haver currículos definidos, senão o assunto fica a esmo. É claro que, mesmo se for ministrada de maneira precária, a Palavra sempre trará resultados na vida das pessoas, pois ela é viva e não volta vazia. Contudo, não atingirá o objetivo de construir uma igreja forte. No passado, a luta do inimigo era para destruir a Bíblia. Quantas bíblias foram queimadas na Idade Média, nas fogueiras da Inquisição? Hoje, como o diabo sabe que não há como fazer isso, sua luta é para corromper a mensagem da Palavra. E está conseguindo!

Em 1989, a Assembleia de Deus dividiu-se em dois grandes segmentos, a CGADB e a Convenção de Madureira (Conamad). Passados vinte anos, os dois grupos estão mais próximos ou mais distantes?

Não chamaria o que aconteceu de divisão, e sim, de cisão administrativo-eclesiástica.  Acompanhei bem de perto o processo e sei que havia desde algum tempo certas discordâncias, mas não desavenças espirituais, religiosas e doutrinárias. As igrejas Assembleias de Deus professam a mesma doutrina. Eu integro a CGADB e, regularmente, sou gentil e honrosamente convidado por colegas obreiros da Conamad para participar de eventos e ministrar a Palavra de Deus. Sinto-me honrado e também grato a esses companheiros de ministério por essas solicitações. Da mesma forma, temos regularmente pastores e outros líderes de Madureira em eventos da CGADB. Eu, pessoalmente, mantenho a expectativa de desaparecimento desta cisão.

 O que o senhor experimentou no passado e sente falta nos dias de hoje?

Ah! Do movimento dinâmico e sempre crescente de evangelização; da inflexível e intensa disposição e vontade de todos os crentes de ganhar pessoalmente almas para Jesus. Logo que Jesus me converteu,
aos 14 anos de idade, Deus me usou para evangelizar uma família inteira, ajudado por outros irmãos. Aquelas sete pessoas se entregaram a Cristo e se tornaram crentes fiéis, perseverantes e frutíferos para a glória de Deus. Que alegria! Sinto falta também dos cultos de oraçao e de vigília daquela época. Hoje, o tempo que passamos na presença do Senhor, buscando a sua face em cultos coletivos, é tão curtinho... Outra coisa maravilhosa era a comunhão cristã fortíssima entre os irmãos. Todos na igreja eramunidos. O que acontecia a um era compartilhado por todos.

 A esta altura da vida, qual a sua prioridade?

Permanecer fiel. Fiel a Deus; fiel à sua Palavra; fiel à doutrina; fiel à família; fiel aos compromissos assumidos; e fiel à minha igreja e aos colegas de ministério. A fidelidade só pode trazer felicidade. Imagine a alegria de, conforme Paulo disse em II Timóteo 2.15, podermos nos apresentar a Deus como obreiros aprovados! Mas Deus dá-nos da sua graça. “A minha graça te basta”, disse Deus ao apóstolo.