28 de abril de 2011

Profetas vêm, profetas vão

Nesta Quarta-feira, a  igreja americana (e mundial) perde mais um dos seus exímios profetas. É com pesar que recebemos a notícia da morte do Rev. David Wilkerson, pastor fundador e presidente da Times Square Church, NYC.

Há um tempo, tenho constatado que Deus está levando nossos exemplos e calando alguns de nossos profetas. Recentemente, perdemos um dos homens mais importantes na história das Assembleias de Deus, que foi o pastor José Pimentel de Carvalho. Antes dele, perdemos o genro de um dos pioneiros da denominação no Brasil, Bruno Skolimosky, pastor Alfredo Reikdal. E assim estão indo nossos grandes homens da fé. Sim, nos restam alguns poucos. Sim, ainda há profetas de Deus em nosso meio. A igreja ainda pode atentar para a voz e/ou para os escritos de homens como John Stott, John Piper, Paul Washer, John MacArthur Jr., Russel Sheed, Tim Keller, C. J. Mahaney, Augustus Nicodemus e tantos outros. Mas pouco a pouco, Deus está colhendo "seus molhos".

Meu desejo e oração é para que Deus levante homens como os que passaram. Muitos são aqueles que afirmam: "Precisamos de um novo Lutero", mas na verdade, precisamos, não de um Luther apenas, mas de um novo C. S. Lewis,  de um novo Martyn Lloyd-Jones, de um novo John Owen, de um novo Arthur W. Pink, de um novo Jonathan Edwards, de um novo George Whitfield, de um novo John Wesley, de um novo Charles Spurgeon, de um novo David Wilkerson. Assim como em Malaquias 4,5, lemos a promessa  de que Deus enviaria "o profeta Elias" e esta profecia  cumpriu-se com a vinda de João, o Batista (“este é o Elias que havia de vir” - Mateus 11,14), que Deus, de igual modo, possa levantar homens, como os homens supracitados. É a necessidade da igreja destes últimos tempos!

Que nossos pastores tenham a mesma devoção de David Wilkerson, a ponto de vender sua TV para dedicar-se ao ministério e a oração, como fez o nobre reverendo, e que nós, jovens obreiros, possamos "achar graça diante do Senhor", como alcançou Noé (Gn. 6,8), para que naquele grande dia possamos ouvir dos lábios de nosso Salvador, o mesmo que David Wilkerson e tantos outros brevemente ouvirão: "Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco foste fiel, sobre muito te colocarei; entra no gozo do teu Senhor" (Mt. 25,21). Eis a nossa bendita esperança!

26 de abril de 2011

Síntese pentecostal da Igreja Cristã durante os séculos (2)

 1ª parte deste estudo aqui.
PERSPECTIVA HISTÓRICA
 Ao longo de toda a História, desde o dia de Pentecostes que marca de forma indelével o nascimento da Igreja em Jerusalém até aos dias de hoje, sempre o batismo no Espírito Santo foi uma experiência à disposição de todo o crente, embora nem sempre tivesse assumido a dimensão que lhe conhecemos nos primórdios da igreja e do início do século XX. Servimo-nos aqui de um interessante estudo publicado pelo periódico “Mensageiro da Paz” de Janeiro a Junho deste ano.

No brilhante prefácio de "O testemunho dos séculos", o missionário sueco Samuel Nyström ressalta que um dos motivos pelos quais há poucos registros históricos de manifestação dos dons espirituais antes do século XIX é que os historiadores, cessacionistas em sua totalidade, omitiram de suas obras manifestações como profecias e línguas estranhas, que quando eventualmente citadas eram apresentadas, manifestações como profecias e línguas estranhas, que quando eventualmente citadas eram apresentadas, nas palavras de Nyström, como “excentricidades passageiras, coisas inconvenientes até para serem descritas”.

Outro fator é que os casos de glossolalia (como o fenômeno das línguas estranhas é descrito tecnicamente) foram realmente muito raros depois do terceiro século até ao período da Reforma Protestante, já que o advento da Igreja Católica Romana, com os seus dogmas heréticos que afetaram até o conceito de salvação, acabou jogando a cristandade em uma profunda era de trevas espirituais. Some-se a isso a má vontade dos historiadores e temos esta escassez de registros. A glossolalia só voltou a ganhar registros significativos quando retomou com força total nos séculos XIX e XX.

Este trabalho faz alusão a seis referências à experiência pentecostal até ao século III.
Um deles é citado por Emílio Conde em O testemunho dos séculos. Conde menciona uma história narrada pelo reverendo Frederic William Farrar (1831-1903), historiador e deão da Catedral de Canterbury, na Inglaterra. Em suas pesquisas sobre a Igreja Primitiva, Farrar registra a visita às escondidas de um príncipe britânico da Corte Romana a uma reunião cristã. Segundo a narrativa, em dado momento da reunião, “línguas estranhas” foram ouvidas. “As palavras que pronunciavam eram elevadas, solenes e cheias de significação misteriosa. Não falavam a sua própria língua, mas parecia que falavam toda a qualidade de idiomas, embora não se pudesse dizer se hebraico, grego, latim ou persa. Isso se deu com uns e outros, segundo o impulso poderoso quer operava na ocasião”, transcreve Farrar, que em seguida declara:”O príncipe os ouvira falar em línguas. Ele fora testemunha ocular do fenómeno pentecostal que o paganismo não conhecia”.

Esse era um culto da Igreja Primitiva do primeiro século. É só a partir do século III que a freqüência dos dons espirituais não é mais a mesma.
O outro relato refere-se a um movimento espiritual no segundo século liderado por Montano que haveria de descarrilar para a heresia por falta de sólido fundamento bíblico:
O movimento surgiu na Frigia, Ásia Menor romana (Turquia), em meados do segundo século, e visava o despertamento espiritual da Igreja. É que algumas comunidades cristãs estavam esfriando espiritualmente, inclusive olvidando os dons espirituais, tão comuns no primeiro século. O adepto mais famoso do montanismo, como ficou conhecido o movimento, foi Tertuliano, um dos Pais da Igreja.

Montano não tinha cargos eclesiásticos. Ele e três mulheres ricas, Priscila, Quintila e Maximila, percorriam as cidades pregando a necessidade de viver uma vida de santidade para estar pronto para a Vinda de Cristo. Havia línguas estranhas, revelação e profecias. As três mulheres profetizavam. Nas profecias, Deus falava por meio delas na primeira pessoa: “Eu, o Senhor...”.

Um outro registro vem-nos pela pena do anticristão Celso, citado pelos Pais da Igreja:
Celso, um filósofo pagão que odiava os cristãos, menciona em um dos seus discursos do segundo século (176 DC) que os seguidores de Cristo falavam línguas estranhas. O discurso de Celso é citado literalmente nas obras "Contra Heresias e Comentário de João", de Orígenes (254 DC).

Orígenes cita-o para comprovar que no segundo século os cristãos falavam em línguas estranhas. Ou seja, já na época de Orígenes, línguas estranhas não eram tão comuns. Em seu discurso, Celso afirma que os cristãos são “estranhos” e “fanáticos”, e que em suas reuniões “falam palavras ininteligíveis para as quais uma pessoa racional não consegue encontrar significado”. Ele diz que são línguas “muito obscuras”.

22 de abril de 2011

Síntese pentecostal da Igreja Cristã durante os séculos (1)

Por ocasião do centenário das Assembleias de Deus no Brasil, a Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD) publicou, neste 2º trimestre, uma revista comemorativa, tal qual fez em 2006 por ocasião dos 100 anos do Movimento Pentecostal. Por esta razão, é oportuno relembrarmos as origens deste movimento que deu origem as Assembleias de Deus, denominação que, embora fragmentada, é ainda um baluarte para a nação brasileira. Dividido em 4 partes, contaremos sobre a perpectiva histórica deste movimento, seu vertiginoso crescimento pelo mundo, seus principais ministros etc. A história do Movimento Pentecostal é uma riqueza que nós precisamos conhecer. Vale lembrar que o texto é do renomado pastor e teólogo assembleiano Antônio Gilberto, por isso, merece nosso respeito e credibilidade.  Segue-se a 1ª parte:

No início do século XX Deus irrompeu uma vez mais na história com um reavivamento sem precedentes trazendo a Igreja de volta à experiência pentecostal. Convém assinalar que esta explosão espiritual surge depois da divinização do humanismo, do materialismo e do racionalismo em que se profetizou o fim da religião e da fé qualquer que ela fosse, que se decretou a “morte de Deus”, se fizeram os ataques mais violentos à Bíblia e à Igreja cristã, se tentou desacreditar o sobrenatural e o miraculoso e em que o liberalismo teológico negou a inspiração da Bíblia como Palavra de Deus e da pessoa de Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.

Mas importa também reparar que este despertamento acontece antes de a modernidade ser substituída pela pós-modernidade, a razão ser substituída pelo coração, e a racionalidade ser substituída pela subjetividade.
No meu entender, há uma nítida antecipação de Deus em relação a uma geração exausta, desiludida e frustrada pelas ilusões que lhe foram trazidas pela ciência e pela tecnologia, pela filosofia da morte de Deus, pelos regimes políticos do super-homem nazista ou do comunismo ateu e que há de ser uma vez mais enganada pelas emoções, pelos sentimentos e pelo hedonismo.

O movimento pentecostal surge assim antes do estertor do racionalismo e do aparecimento de uma corrente espiritualista corporizada pelo movimento Nova Era em que quem manda é o coração e o sentimento sob a batuta tantas vezes da superstição e do oculto. “Segue o que sentes” é o lema. Deus conduz a Igreja a uma experiência em que a tradição, a razão e o coração são contemplados em linha com a revelação bíblica. A experiência pentecostal vem na linha da verdadeira e genuína tradição da igreja de Jesus Cristo, ilumina a razão com a inerrante, universal, imutável e eterna Palavra de Deus e enche o coração do homem de uma presença divina transbordante.

A Igreja que estivera e continuaria a estar sob o fogo cruzado do inimigo haveria de ser revestida do fogo do alto e nutrida por Deus para com um novo impulso dar cumprimento à grande comissão conforme Jesus a enunciara no Evangelho de Marcos: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizados será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.” (Marcos 16.15-18).
Tudo isto nos recorda que como Cristo referiu apenas o Espírito Santo nos foi concedido para convencer o homem da sua condição e levá-lo a um genuíno arrependimento, a experimentar o novo nascimento e a viver em santidade de vida: “Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo; do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.” (João 16.7-11).

O mesmo já havia acontecido com o movimento da Reforma protestante erguendo o fundamento das Escrituras, da fé e da graça, e provocando um corte com as trevas da pré-modernidade na autoridade da tradição e antecipando-se à nova ditadura do racionalismo que haveria de surgir com o iluminismo e com a chamada era das luzes.

É interessante o movimento pentecostal acabaria igualmente por se antecipar em termos sociais ao movimento encabeçado por Martin Luther King que contribuiria decisivamente para pôr um ponto final na segregação e discriminação racial nos Estados Unidos. A explosão pentecostal tem num negro William Seymour um dos seus principais vasos, o que levou os detratores a escrever que a Azusa Street Mission era uma “vergonhosa mistura de raças...” e Frank Bartleman por seu turno haveria de observar em outros termos: “A ‘linha da cor’ foi removida pelo sangue’”.
 

Faço alusão a estas realidades porque hoje importa uma vez mais mantermos acesa a chama da consciência da soberania de Deus. Ele nunca é apanhado de surpresa e sempre concede à Igreja de cada tempo os recursos necessários para dar resposta aos questionamentos de cada geração.
Qualquer que seja a surpresa que Deus nos reserve ela estará sempre na linha da Sua revelação e do Seu Espírito, proclamando Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.