11 de maio de 2011

Síntese pentecostal da Igreja Cristã durante os séculos (4)

Nos séculos seguintes, há referências a manifestações espirituais entre algigenses e outros grupos, mas nada muito decreto no que concerne a línguas estranhas. O pré-reformador Girolama Savonarola, do século XV, por exemplo, era usado em profecia e tinha visões, mas não há referência à glossolália em seu ministério. De qualquer forma, isso mostra que os dons espirituais ainda estavam sendo usados, mesmo que não em sua plenitude, como nos primeiros séculos da Igreja. Afinal, se a principal doutrina, a da Salvação, ainda precisava ser resgatada, o que dizer das demais?

Por isso, só após a Reforma Protestante os registros aumentam. Há casos entre os anabatistas e, segundo o historiador alemão T. L. Souer, em sua obra “História da Igreja Cristã”, no volume 3, página 406, o próprio Martinho Lutero falava em línguas estranhas: “Dr. Martin Lutero profetizava, evangelizava, falava em línguas e interpretava revestido de todos os dons do Espírito Santo”. Essa é a única referência histórica à glossolália na vida do célebre reformador, e escrita por um antigo e respeitável historiador alemão do século XIX.
No século XVII, entre os Quacres, há registro de línguas estranhas. W. C. Braaithwait, no seu relato sobre as primeiras reuniões dos Quacres, escreveu: “Esperando no Senhor, recebemos com freqüência o derramamento do Espírito sobre nós e falamos em novas línguas”.

No mesmo período, há glossolália entre os pietistas. O Movimento Pietista nasceu na Alemanha, em 1666. Em seu livro “The Pilgrim Church”, na página 468, o historiador Edmund Hamer Broadbeent (1861-1954) cita registros de línguas em cultos pietistas nos séculos XVII e XVIII: “Um estranho êxtase espiritual vinha sobre alguns ou sobre todos, e começavam a falar em línguas. De quando em quando essas manifestações se repetiam. A muitos deles, estas coisas pareciam mostrar que, agora, eram um só coração e uma só alma no Senhor”.

No século XIX, há um boom de registros de glossolália. Em 1830, na Escócia, uma jovem de Fernicarry, chamada Mary Campbell, planejava tornar-se missionária. Ela começou a orar por isso e, em uma certa noite daquele ano, quando orava junto com outros amigos, Campbell sentiu poderosamente a presença divina e começou a falar em um idioma que não conhecia. No começo, pensou que se tratava de uma língua que a ajudaria na obra missionária, mas nunca pôde identificar que idioma era aquele.

Na mesma época, em Inglaterra, um destacado ministro londrino, o reverendo Edward Irving (1792-1834), pastor presbiteriano, recebeu o batismo no Espírito Santo. Ele e a sua congregação foram excluídos da denominação. Havia línguas e profecias nos cultos.

Foi em Julho de 1822 que Irving, então com 30 anos, foi convidado a pastorear uma pequena congregação da Igreja da Escócia em Londres, a Caledonian Chapel. No início do ano seguinte, as multidões que se reuniam para ouvi-lo eram tão grandes que um novo templo precisou ser construído: a majestosa catedral de Regent Square. Em 1827, quando o novo templo foi inaugurado, cerca de mil pessoas freqüentavam os cultos regularmente, fazendo dela a maior igreja da capital inglesa.

A fama de Irving se devia ao fato de ser um pregador eloqüente. Um historiador diz que “nenhum ídolo e nenhum pecado escapavam do açoite profético de suas denúncias abrasadoras”. Mesmo assim, “a alta sociedade londrina concorria para ouvi-lo, inclusive distintas personalidades do mundo político e intelectual, como Canning, Lord Liverpool, Bentham e Coleridge. Embora os seus sermões se estendessem em média por duas horas, era preciso reservar lugares com dias de antecedência”.

A partir de 1825, Irving começou a reunir-se com amigos na casa do banqueiro Henry Drummond, em Albury Park, para estudar escatologia e “buscar o Senhor, pedindo um derrame do Espírito Santo”. Então, em 1830, surgiram ocorrências de glossolália e profecias na Escócia. Um ano depois, no final de 1831, surgiram também línguas e profecias nos cultos de Regent Square, a igreja pastoreada por Irving, que recusou-se a proibi-las. Semanas depois, Irving foi afastado do pastoreado de Regent Square. Mais de 600 pessoas o acompanharam. Após a morte de Irving aos 42 anos, devido à tuberculose, esse grupo fundou a Igreja Apostólica de Londres, que aos poucos se diluiu.

Em 1854, falando de um avivamento em uma igreja evangélica da Nova Inglaterra, um crente chamado V. P. Simmons escreveu impressionado: ”Em 1854, o ancião F. G. Mathewson falou em línguas, enquanto o ancião Edward Burnham interpretou as mesmas”. Por essa época, os mórmons anunciaram que falavam em línguas em uma colónia de Nauvoo, Illinois. O 7º artigo da fé dos mórmons fala sobre a contemporaneidade dos dons espirituais. Porém, as ocorrências pareciam ser mais um bluff da seita, para chamar a atenção de curiosos, do que manifestações reais do Espírito Santo.

Em 1855, jornais publicam que, dentro da Rússia czarista, um pequeno grupo dissidente da Igreja Ortodoxa Grega falava línguas e profetizava. Em 1873, Ropbert Boyd escreve sobre uma campanha que o célebre evangelista Dwigght Lyman Moody fez em Sunderland, Inglaterra: “Quando cheguei às salas da Associação Cristã de Moços, encontrei a reunião em fogo. Os jovens estavam falando em línguas e profetizando. Que significaria isso? Somente que Moody pregara para eles naquela tarde”.

Nada se sabe sobre Moody ter falado línguas alguma vez. Se o fez foi de forma particular. Sabe-se, porém, que muitos dos que o seguiam falavam em línguas e ele não os criticava por isso. Moody cria em uma “segunda bênção” subseqüente à salvação e que consistia em um “revestimento do poder do Alto”, que ele e R. A. Torrey chamaram de “batismo no Espírito Santo”. A diferença é que os dois não ensinavam que línguas estranhas eram evidência externa do batismo no Espírito.

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