25 de agosto de 2011

A face gloriosa de Deus

por Cleison Brugger

"Faze com que a luz do teu rosto brilhe sobre nós" - Salmo 4.6b

O rosto de Deus reflete glória, majestade, beleza, esplendor, bondade, magnitude, amor, mas também reflete ira, furor, ódio e impetuosidade, tudo isto numa mesma intensidade. Se o amor de Deus é plenamente abundamente, também o é sua ira; se a afeição de Deus é perfeitamente ampla, também o é seu furor. Quando as Escrituras dizem que "Deus é amor" e que  "Deus é ira", está nos mostrando que Deus é plenamente abundante em todos os seus atributos. Deus não é mais amor do que ira e vice-versa. Se Deus é perfeito, então todos os seus atributos também o são, sem tirar, nem por. Só existe uma diferença entre um e outro: o Seu amor dura para sempre (Sl. 136.1), mas a Sua ira, dura só um momento (Sl. 30.5). Contudo, a mesma disposição que temos em receber o amor do Eterno, não tenhamos em receber Sua ira. Tal qual um Sol que da calma manhã até o crepúsculo do dia, raia com sua imponência, assim é o amor e a ira de Deus: faz toda a diferença se você sente o raiar do Sol às 9 da manhã do que às 3 horas da tarde. É o mesmo Sol, numa mesma intensidade (ele não é mais Sol à tarde do que de manhã), só muda o período.

Enquanto pecadores e, por natureza, filhos da ira (Ef. 2.3), o nosso clamor a Deus é: "esconde a tua face dos meus pecados" (Salmo 51.9b), pois "o rosto do Senhor volta-se contra os que praticam o mal, para apagar da terra a memória deles" (Sl. 34.16-NVI) e ainda "os olhos do Senhor estão sobre os justos, e os seus ouvidos atentos às suas orações; Mas o rosto do Senhor é contra os que fazem o mal" (IPe. 3.12). A face do Senhor é santa e, por esta razão, o pecador não consegue olhar para ela. Diante da face do Senhor, os homens tremem (Ez. 38.20).
Mas quando somos atraídos a Cristo pelo Pai (Jo. 6.44) e, assim, cremos e confessamos acerca de Jesus: " Tu és o Cristo, o Filho de Deus vivo" ( Mt 16.16), o Espírito Santo comunica ao nosso coração para que possamos ter condições de olhar para a Face de Deus: "Quando tu disseste: Buscai o meu rosto; o meu coraçäo disse a ti: O teu rosto, SENHOR, buscarei" (Sl. 27.8).

A partir disto, passamos a ter prazer na santa face de Deus e conseguimos olhar para ela, pois para os salvos "na luz do rosto do rei está a vida" (Pv. 16.15) e, por isso, clamamos como Davi: "faze a luz do teu rosto brilhar sobre nós" (Sl. 4.6b), pois da luz do rosto de Deus emana vida, glória, graça, beleza, virtude e tudo o que é santo, bom, belo e agradável.  Assim como a intensidade do Sol é a mesma, mas fará diferença se olharmos para o Sol às 7 da manhã e às 3 da tarde, assim a intensidade do rosto de Deus é a mesma, mas enquanto os pecadores dizem: "afasta de nós o Teu rosto", os santos clamam: "faze brilhar sobre nós a luz da Tua face". O sol é apenas uma pequena faísca comparado ao brilho do nosso Redentor.

"E no meio dos sete castiçais um semelhante ao Filho do homem, vestido até aos pés de uma roupa comprida, e cingido pelos peitos com um cinto de ouro. E a sua cabeça e cabelos eram brancos como lã branca, como a neve, e os seus olhos como chama de fogo; E os seus pés, semelhantes a latão reluzente, como se tivessem sido refinados numa fornalha, e a sua voz como a voz de muitas águas. E ele tinha na sua destra sete estrelas; e da sua boca saía uma aguda espada de dois fios; e o seu rosto era como o sol, quando na sua força resplandece" (Ap. 1. 13-16).


Preparemo-nos para encontrá-Lo face a face (ICo. 13.12), tal como Moisés O viu (Ex. 33.11).

23 de agosto de 2011

O divisionismo na Igreja brasileira

Por Robinson Cavalcanti

O primeiro século do Protestantismo no Brasil ainda foi marcado pela era de uma relativa “sobriedade” quanto ao divisionismo. Somando-se os grupos migratórios e os missionários, de 1810 (Tratado de Livre Navegação e Comércio) a 1910, se estabeleceram aqui as seguintes “denominações”:

1. Luteranos;

2. Congregacionais;

3. Presbiterianos;

4. Batistas;

5. Metodistas;

6. Anglicanos/Episcopais.

Tivemos a criação, pelos irmãos presbiterianos Vieira Ferreira da autóctone e proto-pentecostal
(7) Igreja Evangélica Brasileira.

8. Igreja Cristã Evangélica (congregacionais imersionistas), em 1901, e, finalmente, o cisma (nacionalismo/questão maçônica), que fez surgir, em 1903, a

(9) Igreja Presbiteriana Independente (IPI).

A primeira metade do segundo século (1910-1960) foi marcada pela chegada do Pentecostalismo:

(10) Congregação Cristã no Brasil e

(11) Assembleia de Deus.

Na década de 1930, uma dissidência da Assembleia de Deus, no Nordeste, cria a

(12) Igreja de Cristo,

E uma dissidência da IPI, em São Paulo, cria a

(13) Igreja Presbiteriana Conservadora (IPC).

No pós-segunda Guerra Mundial, os ecos das lutas forâneas entre ecumenismo (agora hegemonizada pelos liberais) do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), fundamentalismo do Concílio Internacional de Igrejas Cristãs (CIIC) e evangelicalismo da Fraternidade Evangélica Mundial (WEF) têm um rebatimento também aqui, com a criação, no Nordeste, da

(14) Igreja Presbiteriana Fundamentalista (IPF).

O fundamentalismo igualmente nos chega com os

(15) Batistas Regulares.

Também no Nordeste, uma ala da Assembleia adere ao Calvinismo, e cria a

(16) Igreja Pentecostal Assembleia de Deus.

No meio Pentecostal, aporta aqui a Cruzada Nacional de Evangelização, com a

(17) Igreja do Evangelho Quadrangular,

Surge, de dissidentes dessa e da Assembleia de Deus, a partir do Estado de São Paulo, a nativa

(18) Igreja Evangélica Pentecostal “O Brasil para Cristo”.

De agora em diante, não dá mais para contar. A segunda metade do segundo século da presença protestante no Brasil (1960-2010) vai ser marcada por uma aceleração desenfreada do divisionismo denominacionalista. Primeiro com o chamado “Movimento de Renovação Espiritual”, de tendência pentecostal, que racha as principais e mais antigas denominações históricas (batistas, presbiterianos (IPB e IPI), congregacionais, metodistas e luteranos), gerando, inicialmente, a Convenção Batista Nacional (CBN), a Igreja Presbiteriana Renovada (IPR), a Aliança das Igrejas Congregacionais do Brasil (AICB), a Igreja Metodista Wesleyana (IMW), e a Igreja Luterana Renovada (ILR). Daí em diante esses grupos sofreram subdivisões, e começa a “criatividade brasileira”, com uma miríade de “denominações” pentecostais “made in aqui mesmo”, com os nomes mais“originais”, para dizer o mínimo. Por último, com a Teologia da Prosperidade e a Teologia da Batalha Espiritual “amorenadas”, nos vem o crescente fenômeno do neo(pseudo)pentecostalismo: Igreja Universal do Reino de Deus (IURD), Igreja Internacional da Graça de Deus (IIGD), Igreja Mundial do Poder de Deus (IMPD), e um número avassalador de divisões e subdivisões.

Igreja Romana conhecera os cismas da Igreja Brasileira (ICAB) e da Igreja Livre (hoje com o remanescente dito Independente), e daí não parou mais de surgir cismas“católicos” em cada esquina. Os Vétero-Católicos, que nunca vieram para o Brasil, olham espantados da Europa a quantidade de grupos que usam essa denominação entre nós. Os Adventistas do Sétimo Dia, além do cisma dos extremados Adventistas da Reforma, viram surgir o nativo e pentecostalizante Adventistas da Promessa. Até os Luteranos/Episcopais também começam a ver surgir grupos “continuantes”, “de convergência”, ou “independentes” (os anglicanos usam o termo “jurisdições” e não“denominações”), algumas formadas por quem nunca pos os pés em uma Igreja Anglicana. E aí nos vem o “movimento apostólico”, com seus apóstolos e apóstolas, o G-12, o M-12, além da importação de movimentos, métodos e macetes que o Tio Sam é pródigo em criar e exportar. Começam a surgir as combinações dentro da cultura “self-service” pós-moderna, como a Igreja Batista Renovada do Sétimo Dia ou a Assembleia do Reino de Deus. De 1989, para cá, após o caso do racha da Convenção de Madureira, afirma-se que houve mais de 100 cismas de Convenções e Ministérios da Assembleia de Deus.
Bem dizia Pero Vaz de Caminha, autor da primeira carta a El-Rei de Portugal, que em nossas terras “em se plantando tudo dá”, especialmente “denominações” de um Cristianismo dilacerado, animado pela “criatividade”, e se auto-enganando com o pensamento “pelo menos o evangelho está sendo pregado!”. Que “evangelho”, cara pálida!?
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Fonte: Publicado com o título “A Igreja vive em pecado – III” no site da Diocese Anglicana do Recife.

17 de agosto de 2011

Uma crítica a hinologia pentecostal

por Cleison Brugger

Você sabe o que é ouvir uma música e se sentir mal? pois bem, é assim que eu tenho me sentido quando ouço algumas músicas pentecostais contemporâneas. Elas bajulam tanto o homem, que causam náuseas. Ultimamente, quando ouço algumas músicas pentecostais, faço a mesma objeção de Isaque: "onde está o Cordeiro?" (Gn. 22:7). Cristo, terminantemente, desapareceu da hinologia pentecostal.

O que temos tido em nossa hinologia, são músicas que apresentam um Deus "que serve", um que existe para a exaltação do homem e não o contrário. Um que sempre está "trabalhando" para beneficiar o homem, sendo Deus o "servo" e nós o "senhor"; um Deus megalomaníaco, que faz o possivel e o impossivel por amor aos seus filhos; um Deus "com pressa" de abençoar, que está sempre "à espera" do homem para que este deixe que Ele o use. Letras apresentando sempre o homem como "o campeão", "o vencedor", "o que está no palco humilhando o inimigo da platéia", quase um imortal. Enfim, antropocentrismo descarado. Fico pensando se, ao escreverem as letras dessas músicas, os compositores antes lêem a Bíblia ou algum livro de auto-ajuda ou, ainda, algum clássico de T.L. Osborn. Sem dúvida alguma, as músicas pentecostais contemporâneas são um reflexo direto dos púlpitos pentecostais: a valorização do hedonismo, da persona, do bem-estar em contraste com a glória e a beleza de Cristo e o evangelho.

Em questão de biblicidade e cristocentralidade nas músicas, perdemos feio para a hinologia adventista. Isso mesmo, adventista. Quem conhece ou já ouviu Coral UNASP, Prisma Brasil, Leonardo Gonçalves, Cânticos Vocal, Arautos do Rei e outros, sabe do que estou falando. Músicas com temáticas biblicocêntricas como a pessoa e a obra de Cristo, a centralidade da cruz, o sacrifício substitutivo de Cristo, a volta iminente de nosso Senhor, entre outras. Em outras palavras, completamente o avesso da hinologia pentecostal.

Então, eu, como um jovem de 19 anos, me pego sentindo saudades. Saudades de Victorino Silva, Ozéias de Paula, Matheus Iensen, Trio Alexandre, Josias Menezes e tantos outros que assumiram o compromisso de exaltar, com suas músicas, a pessoa bendita de nosso Senhor. Minha oração é que os cantores pentecostais de hoje possam olhar para trás e aprender com quem, de fato, sabia compor músicas, pois as de hoje, nada passam de escória e bajulação. E esta mesma oração serve para os pregadores que acham que o grito é essencial na pregação pentecostal. Olhem para trás e aprendam com os antigos mestres e vocês saberão o que é, de fato, pregar.