12 de setembro de 2011

O pentecostalismo bíblico e os falsos 'pentecostalismos'


 por Cleison Brugger

Neste dia 12, o  blog Púlpito Cristão, postou um vídeo (você pode ver acima) em que Edir Macedo (não acho justo chamá-lo de  bispo), querendo dar uma de apologista, critica o culto [pseudo]pentecostal, igualando-o aos cultos afro-brasileiros. De início, acho a iniciativa de Edir Macedo um tanto quanto hipócrita, visto que, como bem disse o blog supracitado, quem iniciou com as práticas sincretistas no meio evangélico foi o próprio Edir Macedo, quando no uso de arruda, sal grosso e diversas outras sandices, erguia a bandeira da "boa-cumba" (macumba gospel) dentro de sua igreja, a IURD (Igreja Universal do Reino de Deus) que, recentemente, junto com a IMPD (Igreja Mundial do Poder de Deus) do "apóstolo" Waldomiro Santiago, foi declarada como uma seita na última assembleia do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB).

Em contrapartida, o pastor da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, Marco Feliciano, querendo "defender" as bizarrices pentecostais, disse que "na questão dos cultos comparados pelo nobre Bispo, notamos sim semelhanças inúmeras, mas por que tanta semelhança? Vamos a explicação. O diabo tem poder isso é inegável, todavia Deus tem TODO o PODER!". Em sua concepção, os cultos afros são semelhantes aos da igreja "pentecostal", por que Satanás imita-nos, e não o contrário. Falando ainda da semelhança dos cultos, ele diz que "a diferença está na fonte do poder que se manifesta  nestes cultos. E, como pentecostal genuíno, criado no fogo de Jeová", diz ele, "não tenho dúvida alguma qual é a fonte das manifestações em nossos cultos pentecostais: Vem do único e verdadeiro Deus."

Apresentados ambos os lados, tanto de Macedo como de Feliciano, reproduzo abaixo o comentário que fiz a respeito do vídeo postado no blog de Edir Macedo e (re)postado pelo blog Púlpito Cristão:

"Concordo no que tange aos excessos pentecostais e a carismania (manipulação dos dons) que ocorre em muitas igrejas pentecostais (é certo que as Assembleias de Deus é a maior da classe pentecostal, mas não podemos olhar somente para ela, visto que existem igrejas pentecostais 'a balde' com diversos nomes e origens). Mas o que também devemos saber, é que as bizarrices que o vídeo acima mostrou e que realmente acontecem em diversas ‘igrejolas’ pseudo-pentecostais por este Brasil, são largamente combatidas e denunciadas por pastores, teólogos e cristãos pentecostais sérios e compromissados com a sã doutrina e com a coerência. Até mesmo a CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil), que responde pela maior parcela da Assembleia de Deus no Brasil, combate veementemente tais loucuras. Por esta razão, Edir Macedo (como sempre) está sendo, mais uma vez, hipócrita e injusto, pois a igreja pentecostal não se limita a isto e muito menos concorda com isto. A igreja pentecostal a que conheço, é uma igreja que crê nos dons espirituais com temor, decência, ordem e coerência. Essas ‘igrejolas’ nada mais são do que pseudo-pentecostais ou seitas, classe em que, infelizmente, a IURD está classificada."

Ao contrário de Marco Feliciano, temos um verdadeiro apologista pentecostal, pastor Esdras Costa Bentho que, em seu blog, declara que "há igrejas "carismaniacas", que vivem um "pseudopentecostalismo", afastadas da orientação escriturística dos capítulos 12,13 e 14 de 1 Coríntios. Essa carismania é uma expressão "louca", "malsã" e antibíblica. Como certa vez asseverou Joseph L. Castleberry (deão acadêmico do Seminário Teológico das Assembléias de Deus em Springfield, Missouri - EUA): "Os que criticam o abuso dos carismata têm feito bem em chamar tal adoração “carismania”. É justamente a forma maníaca de expressão carismática que o apóstolo Paulo se opõe. Entretanto, enquanto é bom nos unirmos a Paulo em oposição à adoração maniankos, seria um grave erro proibir totalmente o exercício dos carismata. O verdadeiro louvor pentecostal-carismático se encontra no equilíbrio."

Ainda sobre o assunto, o teológo pentecostal Donald Gee diz que “Muitos de nossos erros nas áreas onde estão envolvidos os dons espirituais surgem quando queremos que o extraordinário e o excepcional sejam transformados no frequente e no habitual. Que todos que desenvolvem desejo excessivo pelas “mensagens” transmitidas por meio dos dons possam aprender com os enormes desastres das gerações passadas com nossos contemporâneos [...] As Sagradas Escrituras é que são lâmpada que ilumina nossos passos e a luz que clareia nosso caminho.”

O bispo anglicano da Diocese do Recife, Dom Robinson Cavalcanti, escreveu que "um grande equívoco cometido pelos sociólogos da religião é o de por sob a mesma rubrica de “pentecostalismo” dois fenômenos distintos. De um lado, o pentecostalismo propriamente dito, tipificado, no Brasil, pelas Assembleias de Deus; e do outro, o impropriamente denominado “neopentecostalismo”, melhor tipificado pela Igreja Universal do Reino de Deus. [...] Equiparar ambos os fenômenos não faz justiça à Igreja Universal e ofende a Assembleia de Deus."

Por este motivo, digo que é hipocrisia e injustiça de Edir Macedo rebaixar a igreja pentecostal ao nível mostrado no vídeo, visto que os próprios pentecostais conscientes, bíblicos e coerentes, refutam e combatem aquele tipo de movimento e, ainda, porque o que foi mostrado não foi uma igreja pentecostal, e sim, um grupo carismaníaco e pseudo-pentecostal. É certo que pentecostalismo, espiritualidade e intelectualidade, têm sido um trinômio cada vez mais raro no pentecostalismo brasileiro, mas critiquemos o pentecostalismo quando, de fato, for pentecostalismo. Isto me faz lembrar do caríssimo Rev. David Wilkerson, quando em uma pregação combatia este pseudo-pentecostalismo desenfreado, disse: "Não posso rir, quando fazem o Espírito Santo parecer um idiota".

9 de setembro de 2011

"Eu sou de São Cristóvão" e "Eu sou de Madureira"

Há quase 40 anos alguém gritou que as Assembleias de Deus no Brasil corriam perigo e que esse risco deveria ser proclamado. Por causa dele, os servos de Deus, em vez de toscanejar, deveriam se precaver e se colocar em prontidão. O alerta foi dado no “Mensageiro da Paz”, órgão oficial da denominação, em janeiro de 1973, por João Pereira de Andrade e Silva, duas vezes diretor da Casa Publicadora das Assembleias de Deus (CPAD). Na época, a preocupação era com os ventos de doutrina, as inovações diversas, a aceitação de costumes que “não nos são lícitos”, a falta de santidade etc.



João Pereira dizia que o perigo estava às portas. E estava mesmo. Ele era e é o mesmo que rondava a igreja de Corinto: a grande quantidade de partidos dentro da comunidade. Provavelmente, o pastor John Phillip, preletor inglês especialmente convidado para pregar durante a Convenção Geral de 1981 -- no Estádio Jornalista Felipe Drummond (conhecido por “Mineirinho”), em Belo Horizonte, MG --, pressentiu o problema. Na abertura da reunião, ele abordou o assunto “A liderança segundo o conceito bíblico” e baseou-se exatamente no terceiro capítulo da Primeira Carta de Paulo aos Coríntios. Phillip referiu-se aos partidos existentes naquela igreja: o grupo “fundador” (“Eu sou de Paulo”), o grupo “intelectual” (“Eu sou de Apolo”), o grupo “tradicionalista” (“Eu sou de Pedro”) e o grupo dos “falsamente piedosos” (“Eu sou de Cristo”). O pregador visitante terminou sua mensagem assim: “Tanto o grande Paulo como o eloquente Apolo não passavam de dois jardineiros. Tudo o que você pode ter é um pedaço de pau para furar o chão e nele plantar a semente, ou um balde d’água com que regar as plantas. Nada mais. De fato, nós mesmos nada somos. Por isso precisamos uns dos outros. De nada adianta plantar, se não houver quem regue. De nada vale regar, se ninguém plantou. Somos, isto sim, cooperadores. Juntos formamos uma grande unidade com Deus”.


As palavras de João Pereira e de John Phillip foram proféticas, tanto para ontem como para hoje. Antes, o atrito era entre os megaministérios: “Eu sou de São Cristóvão”, “Eu sou de Madureira”, “Eu sou de Belém”, “Eu sou do Brás”. Hoje, ele é personalizado: “Eu sou de José Wellington”, “Eu sou de Manoel Ferreira”, “Eu sou de Samuel Câmara”, “Eu sou de Silas Malafaia”. Antes, era dentro das quatro paredes da denominação. Hoje, é público (usam-se inclusive os programas evangélicos de televisão). Em sã consciência, nenhum asssembleiano tem condições de repetir o que John Phillip disse há trinta anos no Mineirinho: “Juntos formamos uma grande unidade com Deus”. 


Nesses 100 anos de história, a unidade sempre foi difícil nas Assembleias de Deus (bem como em outras denominações). De vez em quando, havia um clamor em favor da unidade, como o do pastor Altomires Sotero da Cunha, que, na Convenção Geral de 1971, propôs que a liderança de Madureira visitasse a igreja de São Cristóvão e vice-versa, “para selar a paz”, o que de fato aconteceu. Nessa ocasião, “houve perdão e abraços e muita alegria”. Contudo, 18 anos depois, em setembro de 1989, aconteceu a maior e mais importante divisão das Assembleias de Deus no Brasil, com o desligamento do Ministério de Madureira e suas convenções.


É consenso que as divisões assembleianas nunca aconteceram por questões doutrinárias, mas por disputas de campos territoriais ou por cargos. Essa é a opinião de Paulo Romeiro, que desenvolve uma pesquisa sobre os movimentos pentecostais brasileiros para a Universidade Presbiteriana Mackenzie.


Segundo o assembleiano Gedeon Freire de Alencar, diretor pedagógico do Instituto Cristão de Estudos Contemporâneos e doutorando em ciências da religião (PUC-SP), “uma igreja que nunca teve uma direção nacional instituída, abriu espaço para figuras isoladas se fortalecerem”1. O problema é complexo e pecaminoso, porque envolve uma rivalidade entre os megaministérios e seus pastores presidentes. Os chamados “ministérios” são como denominações dentro de uma mesma denominação.


Em junho, duas comemorações separadas do centenário foram realizadas na mesma cidade, onde tudo começou, Belém do Pará: uma no dia 10, no Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, e a outra no dia 16, no Estádio Olímpico do Pará (Mangueirão). 
Na primeira comemoração, presidida por José Wellington Bezerra, a tensão diminuiu com a presença de Samuel Câmara, pastor da Assembleia de Deus de Belém. Na segunda, presidida por Samuel Câmara, ela foi de igual modo reduzida pela presença de José Wellington.


A reconciliação dos diferentes grupos pode ser difícil. Porém, de acordo com Alfredo Borges, “quando Deus exige do homem coisas que ele [com suas próprias forças] não poder fazer sem uma graça especial, ele mesmo, junto com a ordem providencia ao mesmo tempo essa graça”.2 


Em meio ao barulho das comemorações, seria bom ouvir o apelo de Paulo endereçado a duas ovelhas na mesma situação dos assembleianos: “E agora eu quero suplicar àquelas duas estimadas senhoras, Evódia e Síntique: “Por favor, com a ajuda do Senhor, vivam em harmonia” (Fp 2.2, BV). 


Notas
ALENCAR, Gedeon Freire. “Assembleias de Deus; origem, implantação e militância” (1911-1946). São Paulo: Arte Editorial. p. 131.
TEIXEIRA, Alfredo Borges. “Meditações cristãs”. São Paulo: Editora Metodista, 1967. p. 187.

5 de setembro de 2011

Síntese pentecostal da Igreja Cristã durante os séculos (7)

CONT. MOVIMENTO PENTECOSTAL - SÉCULO XX

Com o derramamento do Espírito Santo na Escola Bíblica Betel, em Topeka, Kansas, a doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo com evidência externa de falar em outras línguas foi redescoberta e sistematizada. Porém, apesar de Charles Fox Parham e seus alunos se dedicaram à divulgação desse ensinamento nos Estados Unidos, não foi com eles que o Movimento Pentecostal ganhou notoriedade. O mundo só foi dar conta desse movimento espiritual em 1906, por meio da instrumentalidade de um homem negro e simples, amante da Palavra de Deus: William Joseph Seymour. Foi ele o homem que Deus usou para dar início ao célebre Avivamento da Rua Azusa.

Tudo começou quando Neely Terry, uma moradora de Los Angeles que freqüentava uma pequena Igreja da Santidade, fez uma viagem a Houston, Texas, em 1905. Ela freqüentou a igreja que William Seymour estava pastoreando. Embora Seymour não tivesse recebido ainda o batismo no Espírito Santo com a evidência do falar em outras línguas, estava convencido que era bíblico e pregava esta mensagem com grande fervor.

Seymour aprendeu a doutrina no batismo no Espírito Santo assistindo às aulas que Parham ministrava no país sobre o assunto. Quando Parham chegou à sua região, ele foi até lá ouvi-lo. Porém, como as leis de segregação nos Estados Unidos ainda eram fortes nessa época, as leis determinavam que os negros não podiam assistir a uma aula na mesma sala dos alunos brancos. Por isso, ele teve que colocar uma cadeira no corredor, diante da porta da sala e, dali, assistiu atentamente a todas as aulas de Parham. Após o curso, inflamado pelo que aprendera, William Seymour passou a pregar a mensagem pentecostal no Texas.

Impressionada com o caráter e a mensagem de William Seymour, ao retornar à Califórnia, Neely Terry relatou à sua igreja sobre as mensagens avivadas de Seymour e convidaram-no para visitá-los. Ele concordou em ir. Só que o empreendimento evangelístico, que havia sido inicialmente previsto para durar um mês, acabou durante anos. Os planos de Deus eram diferentes.

Seymour chegou a Los Angeles em 22 de Fevereiro de 1906, e dentro de dois dias estava pregando na Igreja da Santidade de Los Angeles. Ele pregou sobre regeneração, santificação, cura divina e o batismo no Espírito Santo com a evidência de falar em outras línguas. Julia Hutchins, líder da igreja, rejeitou o ensino de Seymour e, dentro de poucos dias, fechou as portas da igreja para ele. O presbitério da igreja rejeitou o ensino de Seymour. No entanto, em meio à perseguição, Seymour continuou firme e inabalável em seu trabalho para o Senhor. Os membros daquela igreja que creram na pregação de Seymour começaram a realizar reuniões com ele em suas casas. Alguns sentiam-se compelidos a passar horas em oração e outros tiveram visões confirmando que Deus iria abençoá-los em Los Angeles com um derramamento espiritual.

O grupo continuou a reunir-se para oração e adoração, realizando cultos na casa de Richard e Ruth Asbery na 214 Bonnie Brae Street. Outros tiveram informações a respeito dos cultos e começaram a freqüentá-los, incluindo algumas famílias brancas que moravam próximas de Igrejas de Santidade.

Poucos dias mais tarde, em 12 de Abril, William Seymour finalmente recebeu o batismo no Espírito Santo, aproximadamente às quatro horas da manhã, depois de Ter orado a noite toda.
Uma testemunha ocular, Emma Cotton, mais tarde relembrou aquelas experiências: eles clamaram durante três dias e três noites. As pessoas vinham de todas as partes. Perto da manhã seguinte, não havia como entrar na casa. Conta-se que algumas pessoas que conseguiam entrar na casa caíam sob o poder de Deus sem que houvesse alguém que as sugestionasse a isso, e toda a cidade ficou agitada. Clamaram ali até o chão da casa ceder, mas ninguém ficou ferido. Durante aqueles três dias, muitas pessoas que tinham vindo só para ver o que estava acontecendo receberam o batismo no Espírito Santo. Os doentes ficaram curados e muitos aceitavam Jesus ao entrarem em casa.