21 de fevereiro de 2009

Síntese pentecostal da Igreja Cristã durante os séculos


No início do século XX Deus irrompeu uma vez mais na história com um reavivamento sem precedentes trazendo a Igreja de volta à experiência pentecostal.
Convém assinalar que esta explosão espiritual surge depois da divinização do humanismo, do materialismo e do racionalismo em que se profetizou o fim da religião e da fé qualquer que ela fosse, que se decretou a “morte de Deus”, se fizeram os ataques mais violentos à Bíblia e à Igreja cristã, se tentou desacreditar o sobrenatural e o miraculoso e em que o liberalismo teológico negou a inspiração da Bíblia como Palavra de Deus e da pessoa de Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.
Mas importa também reparar que este despertamento acontece antes de a modernidade ser substituída pela pós-modernidade, a razão ser substituída pelo coração, e a racionalidade ser substituída pela subjetividade.
No meu entender há uma nítida antecipação de Deus em relação a uma geração exausta, desiludida e frustrada pelas ilusões que lhe foram trazidas pela ciência e pela tecnologia, pela filosofia da morte de Deus, pelos regimes políticos do super-homem nazista ou do comunismo ateu e que há de ser uma vez mais enganada pelas emoções, pelos sentimentos e pelo hedonismo.
O movimento pentecostal surge assim antes do estertor do racionalismo e do aparecimento de uma corrente espiritualista corporizada pelo movimento Nova Era em que quem manda é o coração e o sentimento sob a batuta tantas vezes da superstição e do oculto. “Segue o que sentes” é o lema. Deus conduz a Igreja a uma experiência em que a tradição, a razão e o coração são contemplados em linha com a revelação bíblica. A experiência pentecostal vem na linha da verdadeira e genuína tradição da igreja de Jesus Cristo, ilumina a razão com a inerrante, universal, imutável e eterna Palavra de Deus e enche o coração do homem de uma presença divina transbordante.
A Igreja que estivera e continuaria a estar sob o fogo cruzado do inimigo haveria de ser revestida do fogo do alto e nutrida por Deus para com um novo impulso dar cumprimento à grande comissão conforme Jesus a enunciara no Evangelho de Marcos: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizados será salvo; quem, porém, não crer será condenado. Estes sinais hão de acompanhar aqueles que crêem: em meu nome expelirão demônios; falarão novas línguas; pegarão em serpentes; e, se alguma coisa mortífera beberem, não lhes fará mal; se impuserem as mãos sobre enfermos, eles ficarão curados.” (Marcos 16.15-18).
Tudo isto nos recorda que como Cristo referiu apenas o Espírito Santo nos foi concedido para convencer o homem da sua condição e levá-lo a um genuíno arrependimento, a experimentar o novo nascimento e a viver em santidade de vida: “Convém-vos que eu vá, porque se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei. Quando ele vier convencerá o mundo do pecado, da justiça e do juízo; do pecado, porque não crêem em mim; da justiça, porque vou para o Pai, e não me vereis mais; do juízo, porque o príncipe deste mundo já está julgado.” (João 16.7-11).
O mesmo já havia acontecido com o movimento da Reforma protestante erguendo o fundamento das Escrituras, da fé e da graça, e provocando um corte com as trevas da pré-modernidade na autoridade da tradição e antecipando-se à nova ditadura do racionalismo que haveria de surgir com o iluminismo e com a chamada era das luzes.
É interessante o movimento pentecostal acabaria igualmente por se antecipar em termos sociais ao movimento encabeçado por Martin Luther King que contribuiria decisivamente para pôr um ponto final na segregação e discriminação racial nos Estados Unidos. A explosão pentecostal tem num negro William Seymour um dos seus principais vasos, o que levou os detratores a escrever que a Azusa Street Mission era uma “vergonhosa mistura de raças...” e Frank Bartleman por seu turno haveria de observar em outros termos: “A ‘linha da cor’ foi removida pelo sangue’”.
Faço alusão a estas realidades porque hoje importa uma vez mais mantermos acesa a chama da consciência da soberania de Deus. Ele nunca é apanhado de surpresa e sempre concede à Igreja de cada tempo os recursos necessários para dar resposta aos questionamentos de cada geração.
Qualquer que seja a surpresa que Deus nos reserve ela estará sempre na linha da Sua revelação e do Seu Espírito, proclamando Jesus Cristo como único Senhor e Salvador.
PERSPECTIVA HISTÓRICA.
Ao longo de toda a História, desde o dia de Pentecostes que marca de forma indelével o nascimento da Igreja em Jerusalém até aos dias de hoje, sempre o batismo no Espírito Santo foi uma experiência à disposição de todo o crente, embora nem sempre tivesse assumido a dimensão que lhe conhecemos nos primórdios da igreja e do início do século XX.
Servimo-nos aqui de um interessante estudo publicado pelo periódico “Mensageiro da Paz” de Janeiro a Junho deste ano.
No brilhante prefácio de O testemunho dos séculos, o missionário sueco Samuel Nyström ressalta que um dos motivos pelos quais há poucos registros históricos de manifestação dos dons espirituais antes do século XIX é que os historiadores, cessacionistas em sua totalidade, omitiram de suas obras manifestações como profecias e línguas estranhas, que quando eventualmente citadas eram apresentadas, manifestações como profecias e línguas estranhas, que quando eventualmente citadas eram apresentadas, nas palavras de Nyström, como “excentricidades passageiras, coisas inconvenientes até para serem descritas”.
Outro fator é que os casos de glossolalia (como o fenômeno das línguas estranhas é descrito tecnicamente) foram realmente muito raros depois do terceiro século até ao período da Reforma Protestante, já que o advento da Igreja Católica Romana, com os seus dogmas heréticos que afetaram até o conceito de salvação, acabou jogando a cristandade em uma profunda era de trevas espirituais. Some-se a isso a má vontade dos historiadores e temos esta escassez de registros. A glossolalia só voltou a ganhar registros significativos quando retomou com força total nos séculos XIX e XX.
Este trabalho faz alusão a seis referências à experiência pentecostal até ao século III.
Um deles é citado por Emílio Conde em O testemunho dos séculos. Conde menciona uma história narrada pelo reverendo Frederic William Farrar (1831-1903), historiador e deão da Catedral de Canterbury, na Inglaterra. Em suas pesquisas sobre a Igreja Primitiva, Farrar registra a visita às escondidas de um príncipe britânico da Corte Romana a uma reunião cristã. Segundo a narrativa, em dado momento da reunião, “línguas estranhas” foram ouvidas.
“As palavras que pronunciavam eram elevadas, solenes e cheias de significação misteriosa. Não falavam a sua própria língua, mas parecia que falavam toda a qualidade de idiomas, embora não se pudesse dizer se hebraico, grego, latim ou persa. Isso se deu com uns e outros, segundo o impulso poderoso quer operava na ocasião”, transcreve Farrar, que em seguida declara:”O príncipe os ouvira falar em línguas. Ele fora testemunha ocular do fenómeno pentecostal que o paganismo não conhecia”.
Esse era um culto da Igreja Primitiva do primeiro século. É só a partir do século III que a freqüência dos dons espirituais não é mais a mesma.
O outro relato refere-se a um movimento espiritual no segundo século liderado por Montano que haveria de descarrilar para a heresia por falta de sólido fundamento bíblico:
O movimento surgiu na Frigia, Ásia Menor romana (Turquia), em meados do segundo século, e visava o despertamento espiritual da Igreja. É que algumas comunidades cristãs estavam esfriando espiritualmente, inclusive olvidando os dons espirituais, tão comuns no primeiro século. O adepto mais famoso do montanismo, como ficou conhecido o movimento, foi Tertuliano, um dos Pais da Igreja.
Montano não tinha cargos eclesiásticos. Ele e três mulheres ricas, Priscila, Quintila e Maximila, percorriam as cidades pregando a necessidade de viver uma vida de santidade para estar pronto para a Vinda de Cristo. Havia línguas estranhas, revelação e profecias. As três mulheres profetizavam. Nas profecias, Deus falava por meio delas na primeira pessoa: “Eu, o Senhor...”.
Um outro registro vem-nos pela pena do anticristão Celso, citado pelos Pais da Igreja:
Celso, um filósofo pagão que odiava os cristãos, menciona em um dos seus discursos do segundo século (176 DC) que os seguidores de Cristo falavam línguas estranhas. O discurso de Celso é citado literalmente nas obras Contra Heresias e Comentário de João, de Orígenes (254 DC).
Orígenes cita-o para comprovar que no segundo século os cristãos falavam em línguas estranhas. Ou seja, já na época de Orígenes, línguas estranhas não eram tão comuns. Em seu discurso, Celso afirma que os cristãos são “estranhos” e “fanáticos”, e que em suas reuniões “falam palavras ininteligíveis para as quais uma pessoa racional não consegue encontrar significado”. Ele diz que são línguas “muito obscuras”.
Além de Tertuliano e Orígenes, apenas mais dois Pais da Igreja citam o falar em línguas estranhas: Irineu e Agostinho.
Irineu era discípulo de Policarpo, que por sua vez foi discípulo do apóstolo João. Ele foi bispo em Lyon, na França. A Igreja de Irineu era uma das poucas comunidades cristãs da época em que os dons espirituais ainda estavam em plena atividade. Em seus escritos do início do terceiro século, Irineu afirma: ”Temos em nossas Igrejas irmãos que possuem dons proféticos e, pelo Espírito Santo, falam toda a classe de idiomas”.
Veio, então, o quarto século, o advento do catolicismo romano, seus dogmas espúrios e o conseqüente engessamento da Igreja. Mesmo assim, há registros de que, no quarto século, Pacómio, o fundador do primeiro mosteiro, falava em grego e latim sem nunca ter estudado essas línguas. Pacómio nunca explicou o caso e todos começaram a atribuir essas suas habilidades ao Espírito Santo. E, finalmente, Agostinho, bispo de Hipona, escreve no mesmo período: ”Faremos o que os apóstolos fizeram quando impuseram as mãos sobre os samaritanos, pedindo que o Espírito Santo caísse sobre eles: esperamos que os convertidos falem novas línguas”.
Agostinho tinha a expectativa de que o que era comum até ao terceiro século continuaria a acontecer no quarto. Porém, quando escreve Cidade de Deus anos depois, já no quinto século, no ocaso do seu ministério, ele transparece não acreditar mais na contemporaneidade de todos os dons espirituais.
Assim, depois do quarto século, praticamente não se houve mais falar de línguas estranhas e de manifestação de dons espirituais. Elas só voltam à tona da Reforma Protestante em diante. Existiram casos entre os séculos V e XV, pois o Espírito Santo nunca deixou de atual plenamente na História, mas foram poucos os que ficaram registrados para a posteridade.
Só no século XII surgem novamente referências concretas a línguas estranhas nos registros históricos:
No século XII, Pedro Valdo, rico comerciante francês do Delfinado (Leste de França), resolve dar todos os seus bens aos pobres e reúne os fiéis dispostos a lutar com ele contra o luxo e a opulência do clero romanista. Nascem, assim, os valdenses, caracterizados pelo desejo de um “evangelismo puro”
Por só reconhecerem “a autoridade dos Evangelhos”, os valdenses foram excomungados em 1182. Perseguidos por Roma, espalharam-se na região de Lyon, depois na Provença e até ao Norte de Itália e à região da Catalunha.
Segundo registros históricos, “os primeiros valdenses falavam línguas desconhecidas”. Esses registros são ressaltados pelo jornalista norte-americano John Sherrill, em uma pesquisa que fez sobre o Movimento Pentecostal antes de aceitar o pentecostalismo, e que foi publicada posteriormente sob o título “They Speak in Other Tongues”.
Nos séculos seguintes, há referências a manifestações espirituais entre algigenses e outros grupos, mas nada muito decreto no que concerne a línguas estranhas. O pré-reformador Girolama Savonarola, do século XV, por exemplo, era usado em profecia e tinha visões, mas não há referência à glossolália em seu ministério. De qualquer forma, isso mostra que os dons espirituais ainda estavam sendo usados, mesmo que não em sua plenitude, como nos primeiros séculos da Igreja. Afinal, se a principal doutrina, a da Salvação, ainda precisava ser resgatada, o que dizer das demais?
Por isso, só após a Reforma Protestante os registros aumentam. Há casos entre os anabatistas e, segundo o historiador alemão T. L. Souer, em sua obra “História da Igreja Cristã”, no volume 3, página 406, o próprio Martinho Lutero falava em línguas estranhas: “Dr. Martin Lutero profetizava, evangelizava, falava em línguas e interpretava revestido de todos os dons do Espírito Santo”. Essa é a única referência histórica à glossolália na vida do célebre reformador, e escrita por um antigo e respeitável historiador alemão do século XIX.
No século XVII, entre os Quacres, há registro de línguas estranhas. W. C. Braaithwait, no seu relato sobre as primeiras reuniões dos Quacres, escreveu: “Esperando no Senhor, recebemos com freqüência o derramamento do Espírito sobre nós e falamos em novas línguas”.
No mesmo período, há glossolália entre os pietistas. O Movimento Pietista nasceu na Alemanha, em 1666. Em seu livro “The Pilgrim Church”, na página 468, o historiador Edmund Hamer Broadbeent (1861-1954) cita registros de línguas em cultos pietistas nos séculos XVII e XVIII: “Um estranho êxtase espiritual vinha sobre alguns ou sobre todos, e começavam a falar em línguas. De quando em quando essas manifestações se repetiam. A muitos deles, estas coisas pareciam mostrar que, agora, eram um só coração e uma só alma no Senhor”.
No século XIX, há um boom de registros de glossolália. Em 1830, na Escócia, uma jovem de Fernicarry, chamada Mary Campbell, planejava tornar-se missionária. Ela começou a orar por isso e, em uma certa noite daquele ano, quando orava junto com outros amigos, Campbell sentiu poderosamente a presença divina e começou a falar em um idioma que não conhecia. No começo, pensou que se tratava de uma língua que a ajudaria na obra missionária, mas nunca pôde identificar que idioma era aquele.
Na mesma época, em Inglaterra, um destacado ministro londrino, o reverendo Edward Irving (1792-1834), pastor presbiteriano, recebeu o batismo no Espírito Santo. Ele e a sua congregação foram excluídos da denominação. Havia línguas e profecias nos cultos.
Foi em Julho de 1822 que Irving, então com 30 anos, foi convidado a pastorear uma pequena congregação da Igreja da Escócia em Londres, a Caledonian Chapel. No início do ano seguinte, as multidões que se reuniam para ouvi-lo eram tão grandes que um novo templo precisou ser construído: a majestosa catedral de Regent Square. Em 1827, quando o novo templo foi inaugurado, cerca de mil pessoas freqüentavam os cultos regularmente, fazendo dela a maior igreja da capital inglesa.
A fama de Irving se devia ao fato de ser um pregador eloqüente. Um historiador diz que “nenhum ídolo e nenhum pecado escapavam do açoite profético de suas denúncias abrasadoras”. Mesmo assim, “a alta sociedade londrina ocorria para ouvi-lo, inclusive distintas personalidades do mundo político e intelectual, como Canning, Lord Liverpool, Bentham e Coleridge. Embora os seus sermões se estendessem em média por duas horas, era preciso reservar lugares com dias de antecedência”.
A partir de 1825, Irving começou a reunir-se com amigos na casa do banqueiro Henry Drummond, em Albury Park, para estudar escatologia e “buscar o Senhor, pedindo um derrame do Espírito Santo”. Então, em 1830, surgiram ocorrências de glossolália e profecias na Escócia. Um ano depois, no final de 1831, surgiram também línguas e profecias nos cultos de Regent Square, a igreja pastoreada por Irving, que recusou-se a proibi-las. Semanas depois, Irving foi afastado do pastoreado de Regent Square. Mais de 600 pessoas o acompanharam. Após a morte de Irving aos 42 anos, devido à tuberculose, esse grupo fundou a Igreja Apostólica de Londres, que aos poucos se diluiu.
Em 1854, falando de um avivamento em uma igreja evangélica da Nova Inglaterra, um crente chamado V. P. Simmons escreveu impressionado: ”Em 1854, o ancião F. G. Mathewson falou em línguas, enquanto o ancião Edward Burnham interpretou as mesmas”. Por essa época, os mórmons anunciaram que falavam em línguas em uma colónia de Nauvoo, Illinois. O 7º artigo da fé dos mórmons fala sobre a contemporaneidade dos dons espirituais. Porém, as ocorrências pareciam ser mais um bluff da seita, para chamar a atenção de curiosos, do que manifestações reais do Espírito Santo.
Em 1855, jornais publicam que, dentro da Rússia czarista, um pequeno grupo dissidente da Igreja Ortodoxa Grega falava línguas e profetizava. Em 1873, Ropbert Boyd escreve sobre uma campanha que o célebre evangelista Dwigght Lyman Moody fez em Sunderland, Inglaterra: “Quando cheguei às salas da Associação Cristã de Moços, encontrei a reunião em fogo. Os jovens estavam falando em línguas e profetizando. Que significaria isso? Somente que Moody pregara para eles naquela tarde”.
Nada se sabe sobre Moody ter falado línguas alguma vez. Se o fez foi de forma particular. Sabe-se, porém, que muitos dos que o seguiam falavam em línguas e ele não os criticava por isso. Moody cria em uma “segunda bênção” subseqüente à salvação e que consistia em um “revestimento do poder do Alto”, que ele e R. A. Torrey chamaram de “batismo no Espírito Santo”. A diferença é que os dois não ensinavam que línguas estranhas eram evidência externa do batismo no Espírito.
Em meio ao avivamento do século XIX nos Estados Unidos que começou em 1857 e se estendeu até perto do final do século), e que teve como protagonistas principalmente Charles Finney e Moody, as ocorrências de glossolália aumentaram. Eventualmente, pessoas falavam em línguas nas campanhas de Moody e Finney. Finney cria também em uma “segunda bênção”, mas, como Moody, não a vinculava às línguas. Nesse período, surgiu também o Movimento de Santidade ou Solenes, como é conhecido em inglês, de onde surgiria o Movimento Pentecostal no início do século XX.
Nessa época, R. B. Swan, pastor em Providence, Rhode Island (EUA), escreveu: ”Em 1875, nosso Senhor começou a derramar sobre nós de seu Espírito. Minha esposa, eu e alguns irmãos começamos a proferir algumas poucas palavras em uma língua desconhecida”. Em 1879, mais outro caso: um crente chamado Jethro Walthall, do Estado de Arkansas, falou em línguas. Quando o Movimento Pentecostal se inicia, o caso de Walthall é relembrado e ele escreve:”Quando tive essa experiência, nada sabia do ensino bíblico acerca do baptismo no Espírito Santo ou do falar em línguas”. Como Walthall, muitas pessoas passaram pela mesma experiência nos séculos anteriores, em sua devoção pessoal com Deus, mas por essa doutrina estar relegada naquele período, guardaram essas experiências para si.
Outro caso ocorreu na viagem do teólogo F. B. Meyer (1847-1929) à Estônia no final do século XIX. Meyer conta que visitou congregações baptistas e viu “uma poderosa ação do Espírito Santo”. Escrevendo a crentes em Londres, ele diz: “O dom de línguas é ouvido abertamente nas reuniões, especialmente nas vilas, mas também nas cidades. (...) O pastor da Igreja Baptista disse-me que muitas vezes as línguas irrompem em suas reuniões e, quando elas são interpretadas, têm como significado:”Jesus está vindo. Jesus está perto. Esteja pronto. Não seja negligente”. Quando as línguas são escutadas, incrédulos que porventura estejam na audiência ficam grandemente impressionados”.
Em 1880, na Suíça, uma crente chamada Mary Gerber declara que em momentos especiais de alegria, que descreve como “entregar o meu duro coração ao Espírito Santo”, entoa cânticos espirituais em um idioma que lhe é desconhecido. Anos depois, em visita aos Estados Unidos, Mary estava orando por uma amiga enferma quando começou a cantar e a profetizar fluentemente em inglês, para espanto dele e da sua amiga.
Um outro caso em especial ocorreu na Armênia, em 1880. Membros da Igreja Presbiteriana da vila de Kara Kala pediram a Deus um derramamento do Espírito Santo e vivenciaram um avivamento com línguas estranhas, revelações e profecias. Nesse avivamento, é profetizado um grande mover de Deus para o final do século, atingindo todo o mundo. Essa profecia cumpre-se com o advento do Movimento Pentecostal.
Todos esses casos foram apenas um prelúdio do que aconteceria em Dezembro de 1900 e que deu início ao Movimento Pentecostal.
Surgiram, no século XIX, os pregadores da “segunda bênção”. Homens de Deus como: Dwight Lyman Moody; R. A. Torrey; A. B. Simpson; Andrew Murray; A. J. Gordon; F. B. Meyer e Charles Grandison Finney que passaram a ensinar, à luz da Bíblia, que a nomenclatura bíblica “batismo no Espírito Santo” não era sinônimo de conversão, mas uma experiência subseqüente à conversão e que se caracterizava por ser um revestimento do poder do Alto para dinamizar o serviço cristão.
Moody, Simpson e principalmente Torrey enfatizavam que todo o cristão deveria buscar esse revestimento de poder. Porém, nessa época, os cristãos evangélicos ainda não entendiam que as línguas estranhas eram evidência externa do batismo no Espírito. Os pregadores da segunda bênção criam na contemporaneidade dos dons espirituais. Era comum ouvir registros de que em algumas reuniões havia línguas estranhas, profecia, cura divina, etc., mas nunca se vinculava as línguas ao batismo no Espírito.
Nesse período, grandes servos de Deus começaram a destacar-se, principalmente manifestando dons de cura. Alguns deles foram os norte-americanos: John Alexander Dowie; John Graham Lake e Maria Woodworth Etter. Lake foi curado em 1886, aos 16 anos, após oração de Dowie em seu Divine Healing Home (Lar de Cura Divina), em Chicago. Ele convertera-se em uma reunião do Exército de Salvação, mas passou a congregar na Igreja Metodista ainda adolescente.
Em 1891, John Lake casou com Jennie Stevens e dias depois descobriu que a sua esposa estava com tuberculose e uma incurável doença de coração. Durante anos ele orou por ela, até que, depois de ler Atos 10: 38, orou pela cura da sua esposa com fé na Palavra de Deus e viu o milagre acontecer. Era 28 de Abril de 1898. A partir dessa data, Lake não seria mais o mesmo.
Em 1907, sabendo do Avivamento da Rua Azusa, Lake jejuou pedindo a Deus o baptismo no Espírito com a evidência da glossolália. Ao final do jejum, recebeu a benção e iniciou o seu ministério evangelístico com manifestação da cura divina. Dirigido pelo Espírito, foi para a África do Sul. Antes de morrer, voltou aos Estados Unidos, onde continuou pregando até partir para a Eternidade em 1935. Quando isso ocorreu, as igrejas sul-africanas Missão de Fé Apostólica e Cristã Sião, ambas fundadas por ele naquele país, já contavam, juntas, com mais de 100 mil membros e 600 congregações na África do Sul.
Maria Woodworth converteu-se a Cristo em 1857, na Igreja dos Discípulos. Passou um tempo com os Quakers e depois voltou à Igreja dos Discípulos. Quando pregava em uma congregação da sua igreja, foi batizada no Espírito Santo com evidência de línguas estranhas. Como essa doutrina ainda não havia sido popularizada por Charles Parham, Etter entendera apenas que o revestimento do poder do Alto que recebera viera, nesse caso, acompanhado de línguas. Ela só foi compreender a experiência que vivenciara posteriormente sua pregação era acompanhada por visões, profecias, milagres, línguas e libertações. Quando o Avivamento de Azusa começou, Etter se juntou a ele.
Foi só com Charles Fox Parham que a doutrina do Batismo do Espírito Santo passou a ser entendida como é hoje. Foi ele quem resgatou a compreensão, bastante clara nos tempos apostólicos, de que as línguas estranhas eram evidência externa do batismo no Espírito.
Tudo ocorreu quando Parham, um professor de Teologia pertencente à Igreja metodista, resolveu abrir um seminário em Topeka, Kansas. Ele abriu a Escola Bíblica Betel, como passou a ser conhecida, em uma casa que pertencera a um tal de Stone, que fizera um trabalho mal feito ao construir o lugar. Por isso, o casarão passou a ser chamado de a “ tolice de Stone”. Era Outubro de 1900 quando ele começou as aulas para cerca de 40 estudantes. Alguns deles já haviam estudado em outros institutos bíblicos.
O que atraiu esses alunos foi o fato de a proposta de Parham consistir em promover um ano de estudos onde ele e os demais alunos estudariam sobre “como descobrir o poder que capacitará a Igreja a enfrentar o desafio do novo século”. Seria um ano de treinamento com estudo da Palavra, oração e evangelismo. Cada aluno teria um período de três horas do dia dedicadas exclusivamente à oração. Conta-se que alguns passavam a noite orando. Era também uma “escola da fé”, como se chamava, já que nenhuma taxa seria cobrada para moradia e alimentação. O objetivo da escola era, em síntese, preparar-se para a obra do Senhor e clamar a Deus por um novo avivamento para as igrejas.
Em 25 de Dezembro de 1900, depois de estudarem sobre Arrependimento, conversão, consagração, santificação, Cura Divina e Segunda Vinda de Jesus, Parham precisou viajar, mas deixou uma tarefa para seus alunos. Disse ele: “Em nossos estudos, nos deparamos com um problema. E o segundo capítulo de Atos? (...) Tendo ouvido tantas entidades religiosas reivindicarem diferentes provas para a evidência do recebimento do batismo recebido no Dia de pentecostes, quero que vocês estudem diligentemente qual é a evidência bíblica do batismo no Espírito, para que possamos apresentar ao mundo alguma coisa incontestável, que corresponda de forma absoluta com a Palavra”. Três dias depois, Parham retorna e seus alunos apresentam a seguinte resposta: a prova irrefutável em cada ocasião era que eles falavam em línguas, e mesmo nas passagens bíblicas onde as línguas não são citadas na experiência do batismo no Espírito, elas estão claramente implícitas. Parham concordou com a resposta e passou a sistematizar a doutrina.
Porém, em 1 de Janeiro de 1901, a Escola Bíblica Betel saiu da teoria para a prática. Em um período de oração, a aluna Agnes Ozman, de 18 anos, pediu para que Parham e os demais alunos impusessem as mãos sobre ela pedindo o batismo no Espírito Santo. Eram 11h daquele dia quando Ozman se tornou a primeira pessoa, depois do período apostólico, a receber o batismo no Espírito consciente de que as línguas eram a sua evidência externa. O poder sobre ela foi tamanho que passou três dias sem conseguir falar em inglês. Ozman transbordava no Espírito toda à hora, louvando a Deus em línguas em todos os momentos. Nos demais dias, todos os outros receberam o batismo, inclusive o próprio Parham, que foi um dos últimos.
MOVIMENTO PENTECOSTAL – SÉCULO XX.
Com o derramamento do Espírito Santo na Escola Bíblica Betel, em Topeka, Kansas, a doutrina bíblica do batismo no Espírito Santo com evidência externa de falar em outras línguas foi redescoberta e sistematizada. Porém, apesar de Charles Fox Parham e seus alunos se dedicaram à divulgação desse ensinamento nos Estados Unidos, não foi com eles que o Movimento Pentecostal ganhou notoriedade. O mundo só foi dar conta desse movimento espiritual em 1906, por meio da instrumentalidade de um homem negro e simples, amante da Palavra de Deus: William Joseph Seymour. Foi ele o homem que Deus usou para dar início ao célebre Avivamento da Rua Azusa.
Tudo começou quando Neely Terry, uma moradora de Los Angeles que freqüentava uma pequena Igreja da Santidade, fez uma viagem a Houston, Texas, em 1905. Ela freqüentou a igreja que William Seymour estava pastoreando. Embora Seymour não tivesse recebido ainda o batismo no Espírito Santo com a evidência do falar em outras línguas, estava convencido que era bíblico e pregava esta mensagem com grande fervor.
Seymour aprendeu a doutrina no batismo no Espírito Santo assistindo às aulas que Parham ministrava no país sobre o assunto. Quando Parham chegou à sua região, ele foi até lá ouvi-lo. Porém, como as leis de segregação nos Estados Unidos ainda eram fortes nessa época, as leis determinavam que os negros não podiam assistir a uma aula na mesma sala dos alunos brancos. Por isso, ele teve que colocar uma cadeira no corredor, diante da porta da sala e, dali, assistiu atentamente a todas as aulas de Parham. Após o curso, inflamado pelo que aprendera, William Seymour passou a pregar a mensagem pentecostal no Texas.
Impressionada com o caráter e a mensagem de William Seymour, ao retornar à Califórnia, Neely Terry relatou à sua igreja sobre as mensagens avivadas de Seymour e convidaram-no para visitá-los. Ele concordou em ir. Só que o empreendimento evangelístico, que havia sido inicialmente previsto para durar um mês, acabou durante anos. Os planos de Deus eram diferentes.
Seymour chegou a Los Angeles em 22 de Fevereiro de 1906, e dentro de dois dias estava pregando na Igreja da Santidade de Los Angeles. Ele pregou sobre regeneração, santificação, cura divina e o batismo no Espírito Santo com a evidência de falar em outras línguas. Julia Hutchins, líder da igreja, rejeitou o ensino de Seymour e, dentro de poucos dias, fechou as portas da igreja para ele. O presbitério da igreja rejeitou o ensino de Seymour. No entanto, em meio à perseguição, Seymour continuou firme e inabalável em seu trabalho para o Senhor. Os membros daquela igreja que creram na pregação de Seymour começaram a realizar reuniões com ele em suas casas. Alguns sentiam-se compelidos a passar horas em oração e outros tiveram visões confirmando que Deus iria abençoá-los em Los Angeles com um derramamento espiritual.
O grupo continuou a reunir-se para oração e adoração, realizando cultos na casa de Richard e Ruth Asbery na 214 Bonnie Brae Street. Outros tiveram informações a respeito dos cultos e começaram a freqüentá-los, incluindo algumas famílias brancas que moravam próximas de Igrejas de Santidade.
Assim, em 9 de Abril de 1906, o derramamento teve início quando Edward Lee foi batizado no Espírito Santo e começou a falar em línguas após Seymour ter orado com ele. Os dois então se dirigiram à casa dos Asbery. Lá cantaram um hino, oraram e testemunharam, seguindo-se uma pregação de Seymour usando Atos 2:4 como texto-chave. Após a mensagem de Lee levantou suas mãos e começou a falar em línguas. O Espírito de Deus moveu-se sobre aqueles crentes reunidos e seis outras pessoas começaram a falar em línguas naquela mesma noite. Jennie Moore, que mais tarde se casaria com William Seymour, estava entre elas. Foi à primeira mulher em Los Angeles a receber o batismo no Espírito Santo. Ela começou a cantar em línguas e a tocar piano sob o poder de Deus, sem nunca antes ter aprendido a tocar esse instrumento.
Poucos dias mais tarde, em 12 de Abril, William Seymour finalmente recebeu o batismo no Espírito Santo, aproximadamente às quatro horas da manhã, depois de Ter orado a noite toda.
Uma testemunha ocular, Emma Cotton, mais tarde relembrou aquelas experiências: eles clamaram durante três dias e três noites. As pessoas vinham de todas as partes. Perto da manhã seguinte, não havia como entrar na casa. Conta-se que algumas pessoas que conseguiam entrar na casa caíam sob o poder de Deus sem que houvesse alguém que as sugestionasse a isso, e toda a cidade ficou agitada. Clamaram ali até o chão da casa ceder, mas ninguém ficou ferido. Durante aqueles três dias, muitas pessoas que tinham vindo só para ver o que estava acontecendo receberam o batismo no Espírito Santo. Os doentes ficaram curados e muitos aceitavam Jesus ao entrarem em casa.
Após o derramamento inicial do Espírito Santo em Los Angeles, cresceu o interesse pelos cultos de oração. As multidões tornaram-se tão grandes para a casa dos Asbery em Bonnie Brae Street, que foram levadas para o quintal da casa. Logo este espaço também se tornou pequeno. O grupo descobriu então um prédio disponível na Azusa Street, número 312, que tinha sido construído originalmente como uma Igreja Metodista Africana. Tendo sido abandonado, o galpão foi usado como um estábulo para abrigar feno e animais. No entanto, foi consertado e limpo em preparação para os cultos.
Dentro de poucos dias, a imprensa de Los Angeles tomou conhecimento sobre os cultos de avivamento realizados na Azusa Street Mission (Missão da Rua Azusa) por reportagens em jornais publicados por todos os Estados Unidos e no mundo. Milhares tomavam conhecimento do avivamento e eram atraídos para os cultos em Azusa. Todos se reunião em adoração: homens; mulheres; crianças; negros; brancos, hispânicos; asiáticos; ricos; pobres; analfabetos e graduados. Foram arrebanhados para Los Angeles tanto cépticos como famintos espirituais.
Em Setembro de 1906, um repórter de um jornal local desaprovou os eventos ocorridos e escreveu que a Azusa Street Mission era uma
“vergonhosa mistura de raças (...) eles clamavam e faziam grande barulho o dia inteiro e noite adentro. Essas pessoas parecem ser loucas, com problemas mentais ou enfeitiçadas. Elas afirmam estar cheia do Espírito. Elas têm um caolho, analfabeto e negro como seu pregador que fica de joelhos a maior parte do tempo com a sua cabeça escondida entre engradados de leite feitos de madeira. Não fala muito, mas às vezes pode ser ouvido gritando “Arrependei-vos” (...) Eles cantam repetidamente a mesma canção, “O Consolador Chegou”.

Em poucos meses, a Azusa Street Mission, que passou a se chamar Apostolic Faith Mission (“Missão da Fé Apostólica” o mesmo nome que Gunnar Vingren e Daniel Berg deram à igreja fundada por eles no Brasil, e que só passou a ser chamada Assembleia de Deus oficialmente em 1918), tornou-se a maior igreja da cidade, com cerca de 1,3 mil pessoas freqüentando os cultos diariamente, e o fervor do avivamento continuou por três anos.
Os cultos eram realizados de Domingo a Domingo, três vezes por dia: pela manhã, à tarde e à noite, com o prédio sempre lotado. A mensagem era o amor de Deus, e a unidade e a igualdade eram prioridades. O historiador Frank Bartleman observou sobre Azusa: “A ‘linha cor’ foi removida pelo sangue de Jesus”. Também às mulheres eram dadas posições de liderança na Missão. O jornal The Apostolic Faith, publicado pela Missão, alcançou distribuição mundial, com tiragem de mais de 50 mil exemplares por edição.
EXPANSÃO DO MOVIMENTO PENTECOSTAL.
O movimento pentecostal expandiu-se por todas as partes do mundo.
Um dos pioneiros do Movimento pentecostal na Europa foi Thomas Barratt, um pastor norueguês metodista que teve contacto com Azusa e trabalhou no florescimento de igrejas pentecostais na Noruega, Suécia e Inglaterra. Barratt influenciou o pastor baptista sueco Lewi Pethrus, que foi o pioneiro do Movimento Pentecostal naquele país.
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Na Inglaterra, um dos maiores nomes do pentecostalismo nascente foi o pastor Donald Gee. Gee e o teólogo judeu pentecostal Myer Pearlman, da AD nos EUA, foram os dois nomes que sistematizaram as doutrinas pentecostais. Charles Parham foi quem sistematizou a Doutrina do Baptismo no Espírito Santo, mas foram Gee e Pearlman que sistematizaram toda a Teologia Pentecostal. Gee, por exemplo, foi o primeiro a sistematizar a doutrina acerca do uso correção dos dons espirituais.
Na Alemanha, um dos líderes do Movimento da Santidade naquele país, Jonathan Paaul, semeou a mensagem pentecostal. Na Itália, um forte pentecostalismo brotou por meio dos parentes de imigrantes italianos nos EUA. Muitos desses imigrantes tiveram contacto directo com o Avivamento de Azusa e retornaram à sua terra para pregar a mensagem pentecostal aos seus parentes.
O pioneiro do Movimento Pentecostal na Rússia foi Ivan Voronaev, um imigrante russo nos EUA. Em 1919, ele fundou a primeira Igreja Pentecostal Russa em Manhattan, Nova Iorque. Em 1920, Voronaev, de volta à Rússia, começou um ministério em Odessa. Após nove anos, depois de incrivelmente fundar nesse curtíssimo período de tempo 350 congregações na Rússia, Polônia e Bulgária, Voronaev foi preso pela polícia soviética. Acabou morrendo na prisão.
Na Holanda, após lerem exemplares do jornal Apostolic Faith (da Missão de Azusa) falando sobre o Avivamento em Azusa e notícias nos jornais seculares de 1906 sobre o assunto, alguns cristãos holandeses resolveram clamar pela mesma benção. Assim, em 1907, Deus batismo a esposa do pastor G. R. Polman. No ano seguinte, foi a vez do próprio Polman. Em 1912 foi inaugurado o primeiro templo pentecostal em Amsterdã. Depois foi a vez de Roterdã, Hilversum, Utrecht , Ilha Terscchelling e Haarlem.
O pastor Smith Wigglesworth, um dos grandes nomes da história do Movimento Pentecostal, foi um dos instrumentos de Deus para trazer a mensagem pentecostal à Suíça. Ele trabalhou principalmente na cidade de Berna. Wigglesworth foi batizado no Espírito Santo em um trabalho dirigido pelo pastor Thomas Barratt, de quem já falamos. Também trabalhou na África do Sul.
No País de Gales, o pastor Alexander A. Boddy foi um poderoso arauto divino, fazendo conferências pentecostais naquele país e depois pela Europa. Boddy tomou conhecimento do avivamento lendo os primeiros exemplares do jornal Apostolic Faith.
Estendeu-se pela Ásia:
O Movimento Pentecostal na China começou em 1907, com a chegada dos irmãos A. G. Garr, vindos da Califórnia, (EUA), e acesos pelo fogo de Azusa. As suas conferências evangelísticas alcançaram centenas de pessoas em Macau, Hong Kong e Cantão, com dezenas de conversões e batismo no Espírito Santo.
Mas, um dos grandes nomes do pentecostalismo na China em seu início é, sem dúvida, Nettie Noorman. Ela já era missionária naquele país quando soube do Avivamento da Rua Azusa. Resolveu, então, em vez de só ouvir falar conferir o que estava acontecendo. Assim, em Outubro de 1906, Noorman deixou a China rumo a Los Angeles. Ali, certificou-se de que Azusa se tratava mesmo de obra divina, então, clamou pelo baptismo no Espírito Santo, recebendo-o. De volta à China, os sinais se seguiram: curas divinas, milagres, baptismos no Espírito Santo e muitas conversões a Cristo.
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O Movimento Pentecostal chegou à Índia também devido ao Avivamento da Rua Azusa. Alguns evangélicos ali receberam notícias do que Deus estava fazendo em Los Angeles. Um deles chamado Max Wood Morehead, afirmou na época; “Se esta notícia do que Deus está fazendo em Los Angeles é verdadeira, o dom de línguas será visto na Igreja em todo o mundo, assim como hoje, em todos os lugares, os crentes já crêem em cura divina”.
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No mesmo ano, a missionária S. C. Easton abriu as portas para os irmãos Garr, testemunhas oculares de Azusa e batizado no Espírito Santo. Um deles conta: “Comecei a crer que eu era a pessoa que necessitava de endireitar-se, e não o evangelista. “ (Testemunho dos Séculos, Emílio Conde (CPAD). Nos anos seguintes a mensagem pentecostal espalhou-se entre os cristãos na Índia.
Na Coréia do Sul, depois da guerra entre as duas Coréias, um jovem pastor assembleiano chamado Paul Yonggi Cho, formado em teologia em um curso do Instituto Bíblico das Assembleias de Deus na Coreia, foi usado por Deus para um grande avivamento naquele país, com muitos sinais, principalmente curas divinas. Hoje, a sua igreja, a Igreja do Evangelho Pleno em Seul, é uma das maiores do mundo.
Também na África o pentecostalismo lançou raízes:
O Pentecostes chegou ao Egito em 1907. Um jovem chamado Alexander Paul, natural do Egito, boi batizados no Espírito Santo nos Estados Unidos. Quando os seus amigos cristãos no Egito receberam a notícia do que havia acontecido, pediram que alguém fosse até eles instruí-los acerca dessa bênção. O evangelista G. S. Breslford foi enviado e, com o apoio de missionários em Jerusalém que já tinham recebido o batismo no Espírito Santo, fundou o primeiro trabalho pentecostal em Assiout, no Egito.
Em 1911, foi fundado um orfanato mantido pelos irmãos pentecostais em Assiout, que atendia cerca de 700 órfãos. Em poucos anos, havia congregações também em Alexandria e Cairo, algumas com centenas de crentes.
O Movimento Pentecostal chegou no Congo em 1915, por meio dos missionários pentecostais William Burton e James Salter. O trabalho começou na vila de Mwanza. Em dez anos, a obra desenvolveu-se tanto que, nesse período, já havia alcançado três tribos, sete estações centrais, estava com 17 missionários como auxiliares e 100 evangelistas nativos, todos batizado no Espírito Santo.
A África do Sul também recebeu a chama do Movimento Pentecostal, por meio do trabalho incansável e fervoroso de homens como o norte-americano John Lake. Dirigido pelo Espírito, ele foi para a África do Sul. Antes de morrer, voltou aos Estados Unidos, onde continuou pregando até partir para a Eternidade em 1935. Quando isso ocorreu, as igrejas sul africanas Missão de Fé Apostólica e Cristã Sião, ambas fundadas por ele naquele país, já contavam, juntas, com mais de 100 mil membros e 600 congregações na África do Sul. Nos anos 60, esse número já havia subido para mais de 120 mil.
Mas é no Brasil que o movimento atinge a maior expressão:
No início do século XX, apesar da presença marcante de imigrantes europeus de origem protestante e do valoroso trabalho de missionários de igrejas evangélicas tradicionais dos Estados Unidos, o nosso país era ainda quase totalmente católico romano. Foi só com o advento do Movimento Pentecostal que aconteceu uma explosão de crescimento do Evangelho no Brasil. O avanço da evangelização do nosso país deve-se, sem dúvida, ao pentecostalismo, e especialmente à sua vertente mais tradicional, a Assembleia de Deus.
A origem das Assembleias de Deus no Brasil está intimamente ligada ao reavivamento espiritual que varreu o mundo no início do século XX, encetado na América do Norte, e que teve como seu maior expoente o Avivamento da Rua Azusa.
A partir do Brasil e através dos emigrantes José Plácido da Costa e Manuel José de Matos Caravela a experiência pentecostal chegou a Portugal tendo sido posteriormente suportada e animada pelos missionários suecos Daniel Berg, Jack Hardstedt, Samuel Nystrom e Tage Stahlberg.
Assim se escreveu na obra “Línguas de Fogo” publicada a propósito da História da Assembleia de Deus em Lisboa:
O movimento evangélico de experiência pentecostal, denominada Assembleia de Deus, que antes se chamara no Brasil e nos Estados Unidos da América “Missão de Fé Apostólica”, iniciou-se precariamente, em Valesim(*), Portugal, no ano de 1913, e, definitivamente, em 1924, muito a sul, na cidade de Portimão.
Só na década seguinte se implantaria, cresceria e se contextualizaria na cidade de Lisboa, sob uma bandeira, a sueca.
A bandeira a que nos referimos, em sentido metafórico, indicava tão–só a nacionalidade ou a procedência de alguns dos pioneiros, os quais em conjunto com os primeiros portugueses levaram a mensagem evangélica e pentecostal às suas origens, à Igreja Primitiva do livro dos Atos dos Apóstolos.
Como todo o crescimento das igrejas evangélicas pentecostais, o da portuguesa, de modo geral, e o da lisboeta particularmente, deveu-se ao desenrolar de uma força centrífuga, pela caracterização dessa mesma igreja onde cada crente é um ministro, um missionário, uma testemunha em potencial.
O padrão de crescimento, em Lisboa, da Assembleia de Deus pentecostal, está no quadro do que afirmaram alguns historiadores do crescimento das igrejas na América Latina, numa obra publicada há mais de trinta anos, e que é válido também para Portugal: “O esforço evangelístico Pentecostal não depende da atividade profissional dos ministros, mas, antes, da responsabilidade e do privilégio de cada crente.” Está de igual modo no funcionamento da fé de cada membro, por mais simples que socialmente ele fosse.
De fato, o escritor Emílio Conde escreveu um dia, a propósito da História das Assembléias de Deus em língua portuguesa, que estamos diante de um fenômeno que só a fé será capaz de explicar.
Tomando como ponto de partida o triângulo Suécia, América do sul e Portugal, este ainda que com números diminutos, o que temos desde a primeira década do século XX, isto é desde 1910, até à década de 90, é, sem dúvida, um crescimento na ordem dos milhões de comungantes nas Assembleias de Deus, ao qual não será alheio o que sociólogos já chamaram de compartilhar de um pentecostes não apenas doutrinal e histórico, mas sobretudo existencial ou, se preferirmos outro vocábulo descomprometido com a filosofia, um pentecostes vivencial. Com efeito, estas igrejas crescem, porque a presença e os dons de Deus são buscados na comunhão dos crentes em torno dos seus líderes.
Alguém escreveu, para a história e análise do desenvolvimento das igrejas carismáticas, que a existência dos pentecostais tem dependido da pregação do Evangelho.
Mantendo este padrão, José Plácido da Costa (um ex-baptista), Manuel José de Matos Caravela, Daniel Berg, Jack Hardstedt (auxiliado por um jovem vindo de Évora, que se batizaram em 1934, o pregador Rogério R. Pereira), Samuel Nystrom e Tage Stahlberg, apesar de oriundos de culturas diferentes, com raízes sociológicas diversificadas, mas experiências comuns dentro da doutrina pentecostal, tendo conhecido sobretudo o evangelho na Suécia e no Brasil, influíram enormemente na implantação e edificação das Assembleias de Deus em Portugal pela pregação do evangelho de poder de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O “Mensageiro da Paz”, de Abril 2005 (ano 75, n.º 1439), com o título “De Cada Dez Um Será Assembleiano em 2010) registrava:
“Segundo o crescimento da Assembleia de Deus registrado IBGE, daqui a cinco anos, de cada dez brasileiros, um será Assembleiano. Município como Provetá (RJ) e São Pedro dos crentes (MA) já dão prova disso. Neles, o número de assembleianos já chega, respectivamente, a 70% e 80% da população.
O Jornal “Mensageiro da Paz” da Assembleia de Deus no Brasil referia na primeira capa no mês de Janeiro de 2006 em título principal: “Pentecostais serão um bilhão no mundo em 2025”. O artigo dava eco da seguinte proteção do Hartford Institute for Religion Research:
Daqui a 19 anos, os pentecostais serão mais de 1,1 bilhão no mundo, algo em torno de 45% dos grupos denominados cristãos em todo o planeta (católicos romanos, ortodoxos, evangélicos) (...). Em 1997, os pentecostais eram 497 milhões. Seis anos depois, em 2003, já falava-se em 525 milhões. Na época, a notícia tornou-se matéria de destaque no jornal New York Times de 14 de Outubro de 2003 (...).
Esta proteção é bem reveladora do profundo impacto que passados 100 anos o avivamento pentecostal continua a repercutir no mundo inteiro.
Terminamos clamando com o profeta: “Aviva a tua obra, ó Senhor, no decorrer dos anos, e no decurso dos anos, faze-a conhecida.” (Habacuque 3.2).
(*) O texto citado refere de Tondela o que está incorreto segundo informação do pastor e historiador António Barata comunicada a seguir à apresentação deste texto na Convenção Nacional das Assembleias de Deus (8.11.2006).