por Alan Brizotti
Estamos vivendo um acelerado processo de des-escatologia. A urgência das teologias do agora, filhotes do imediatismo exacerbado da atualidade, tem destruído o anseio do porvir. A esperança escatológica, outrora tão viva e, por vezes decivisa na caminhada cristã na história, tem amargado um esquecimento sutil. Iludidos pela sociedade da pressa, desistimos de esperar, como o coelho branco, de Alice no país das maravilhas, "estamos atrasados".
Grande parte da "culpa" desse declínio do anseio escatológico vem das construções teológicas extremistas do passado. Aquela "escatologia do desespero", ao estilo cinematográfico, apenas conseguia gerar manifestações do medo, e o medo não compartilha do amor. Em I João 4. 18, o apóstolo afirma: "No amor não há medo. Antes o perfeito amor lança fora o medo, porque o medo produz tormento. Aquele que teme não é aperfeiçoado em amor". O medo ajudou a lançar esperanças escatológicas no terreno longínquo do esquecer.
Outra causa desse declínio está mentalidade da ficção. Muitos cristãos já não acreditam na realidade celeste. Para muitos, se Jesus Cristo voltar, estragará nossos planos, nossos projetos futurísticos, nossas catedrais. Por que ir embora daqui, se já estamos tão bem istalados? "Essa estória de céu é só para incrementar uma ideologia que perde espaço no mundo da novidade". Essa mentalidade da ficcção tira as cores do horizonte escatológico, transformando as realidades celestes em suspiros de uma aventura idealizada, porém jamais vivida em desdobramentos reais.
Para muitos, céu é uma jogada de marketing.
A des-escatologia é a tragédia dos que desistiram de esperar. É a dor da ausência. É a tristeza teológica de sentir-se em casa aqui. É perder o olhar que visuzaliza a Jerusalém Celestial, a Pátria Gloriosa, o Excelente Porvir, a Cidade Santa, a Presença Sagrada do Pai de Amor. O incrível é que o número de pessoas infectadas pelo vírus da des-escatologia é assustadoramente crescente.
O dinheiro também tem papel decisivo nessa batalha. Ele produz uma contradição mortal: enquanto a fé cristã genuína nos promete o céu, o dinheiro promete a terra - e como ele está muito mais visível - optamos por suas promessas, ainda que elas não nos devolvam a paz! Como vivemos num mundo domindo pelo dinheiro (principalmente nos ambientes eclesiásticos), nossos sonhos não conseguem projetar-se no amanhã abençoado de Deus.
Não precisamos voltar às estradas assombradas por escatologias talibãs, mas carecemos do resgate da abençoada esperança. Não precisamos fugir do inferno, apenas fortalecer nossos laços com a pátria sagrada daqueles que nasceram de novo, e que aguardam ansiosamente pelo soar da trombeta.
Guardados na esperança, ouçamos a promessa fiel: "Eis que venho sem demora! A minha recompensa está comigo, para dar a cada um segundo a sua obra. Eu sou o Alfa e o Ômega, o primeiro e o último, o princípio e o fim" (Ap. 22. 12, 13)
Alguém disse que "A esperança do cristão de chegar à glória não está no fato de que Cristo está nele, mas sim em o Cristo que está nele ser um fato".
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