15 de setembro de 2009

Ó Senhor, dai-nos pregadores eloquentes!

Texto do pastor Marcelo, do blog Olhar Reformado

Uns dizem que foi com Spurgeon, outros com Bunyan, como não pesquisei a fundo não posso afirmar com toda certeza, mas contam que certa ocasião, ao término de uma pregação, um dos ouvintes dirigindo-se a ele disse-lhe que pregara um bom sermão. Ao que o pregador respondeu: “Não precisa dizer-me isso, o Diabo já cochichou a mesma coisa no meu ouvido antes de sair da tribuna.”.
Achei muito interessante o que você escreveu acerca do seu amigo Talles, parece que temos a tendência de buscar os holofotes, de buscar a aprovação humana através de “glórias a Deus!!!” e “Aleluias!!!” durante nossos sermões, é um tal de “amém igreja?”, ou “quem pode dizer amém?”, que chega a ser chato ouvir algumas prédicas.

Alguns obreiros da minha congregação quando estão escalados para pregar, sempre pregam assim “Deus, aleluia, tirou, aleluia, o povo, glória a Deus, do Egito, aleluia, e , louvado seja o nome do Senhor, os levou, glória a Deus, para, aleluia, uma terra, glória a Deus, que mana, Louvado seja Deus, leite, aleluia, e mel”, ou seja quando você subtrai as doxologias, não resta quase nada e ninguém entendeu quase nada. Não sei quem os ensinou a pregar assim.
O problema é que apesar de haverem algumas “decisões” pouquíssimas se firmam. É tanta vitória nos “sermões” que a igreja tem perdido muitas batalhas e nem tem notado. Sei que o Espírito age APESAR, mas não POR CAUSA disso.
Que o Senhor perdoe a nossa inércia.
Em Cristo,
Ednaldo.
- Resposta enviada ao artigo “Razões Para Não Estudar Teologia”.

Conheci papagaios maravilhosos, outros nem tanto. Chego a ser tentado a dizer que eles são facilmente educáveis, mas o bom senso me impede de ir a tanto. No máximo, o que fazem é registrar algumas combinações sonoras e reproduzi-las dentro de determinado contexto. Certamente algum dono mais dedicado julgará que menosprezo a inteligência emocional de sua falante ave. Mas, meu tema hoje, perdoem-me, é sobre um ser menos inteligente… Refiro-me aos pregadores papagaios.

Apesar de infinitamente menos capazes que as aves, estes possuem inúmeras semelhanças com elas. A começar pela cacofonia. Mesmo que possamos admirar a fala do papagaio, cedo ou tarde nos incomodaremos com sua desagradável dicção, mecânica, repetitiva e destituída de sentimentos. Algumas vezes chega a ser irritante o desmesurado falatório. Conheço alguns pregadores assim: mecânicos e sentimentalmente artificiais, além da pouca capacidade criativa.

Outra semelhança é a falta de discernimento. O papagaio não discerne nada do que diz, apenas repete o que ouviu e gostou. Caso o criador seja um evangélico que viva a dizer “glórias e aleluias”, o papagaio repetirá tais palavras, ainda que não faça a menor idéia do que signifiquem. E quem nunca conheceu um papagaio criado por um sujeito ‘boca suja’? Pregadores sem discernimento são também muito comuns. Gostam de falar, e falam muito, mas não discernem nada do que dizem.
Conheci um determinado pregador, inexperiente ele, que parecia um leão enjaulado.

Imaginem os senhores que o mesmo agarrava o microfone com as duas mãos, fechava os olhos, e começava a andar freneticamente de um lado para o outro do púlpito. E como não bastasse, muitas vezes alguém me procurava para dizer: “Reparou como ‘Fulano’ falou coisas que estão no dvd de ‘Sicrano’?”. “Meu querido, para saber disso eu precisaria ter o costume de ouvir o ‘Sicrano’, o que não é o caso. Mas, eu já imaginava que as frases de efeito eram copiadas de alguém!”.

Um dia abordei tal pregador e lhe disse: “Você precisa olhar as pessoas nos olhos…”. “Não consigo, irmão Marcelo” – ele respondeu; “fico nervoso, e se abro os olhos não sei o que dizer”. Compreendi seu drama. Faltava-lhe melhor orientação. Faltava-lhe uma adequada teologia a respeito da pregação. Imagino que para ele pregar era o mesmo que ‘botar fogo na Igreja’, e que ele desejava descer do altar tendo deixado a impressão de que era um homem de ‘poder espiritual’.
Temos aqui um sério problema cultural.

O fato é que ao longo dos anos a mentalidade pentecostal foi criando e promovendo este tipo de conceito e expectativa. Por isso, não podemos simplesmente apontar o dedo para tais pregadores. O equivoco é todos, erramos como Igreja neste ponto. Caso a culpa fosse apenas dos pregadores, eventos como o Gideões não ficariam abarrotados de pessoas, ávidas pelo show que normalmente se desenrola no ‘palco’.

Como bem destacou o comentário do irmão Ednaldo, por baixo de tanto barulho, cacofonias e expressões de efeito, dificilmente poderemos encontrar uma mensagem racional, bem articulada, e biblicamente relevante e sadia. Tais pregadores provavelmente se surpreenderiam se descobrissem que o termo “homilética” não tem nada haver com o que fazem.

Foi durante o Iluminismo que se criou o termo “homilética”. Naqueles dias diversas ciências teológicas receberam nomes gregos: dogmática, apologética, hermenêutica, pneumatologia, e assim por diante. O termo “homilética” não aparece na Bíblia, mas é derivado de dois outros termos que estão no Novo Testamento: “homilia”, substantivo que literalmente significa ‘associação, companhia’; e “homileo”, verbo que significa ‘falar’, ‘conversar’.
Se levarmos tal etimologia ao ‘pé da letra’, talvez possamos definir homilética como sendo a arte de conversar sobre a fé cristã com outras pessoas. Gosto de tal definição. Ele nos faz passar bem longe do que muita gente imagina como ‘pregação’ nos dias de hoje, especialmente em alguns redutos pentecostais e carismáticos.

Quando eu converso com alguém sobre determinado assunto, não me é necessário gritar, berrar, dar pulos e fazer malabarismos mil! Antes, eu organizo as idéias, uso ilustrações, faço comparações, mantenho um tom de voz agradável, dando ênfase nos pontos que julgo mais relevantes… Algumas vezes posso conversar mostrando fotos, ou um gráfico. O mais importante é que eu me faça compreender pelo interlocutor. Quantas pregações maravilhosamente práticas e bíblicas teríamos caso metade dos pregadores conversassem conosco sobre o tema do sermão!

Sim! Nada a mais, nada a menos! Apenas conversar sobre o tema do sermão, que evidentemente, deve ser bíblico, tanto na forma quanto no conteúdo. Alías, ser bíblico é uma necessidade precípua do pregador. O apostolo Pedro adverte que “Se alguém falar, fale segundo as palavras de Deus!” (I Pedro 4.11). Veja como é simples a pregação: falar segundo as palavras de Deus! Em outras palavras, pregar é simplesmente se colocar perante o povo de Deus e poder dizer: “Hoje aprenderemos o que a Palavra de Deus tem a nos ensinar sobre isto!”.

Leia mais: Olhar Reformado

A todos vós,


Paz e bem!

0 comentários:

Postar um comentário