26 de março de 2011

Cristo é valioso demais e eu não vou insistir

por Cleison Brugger

Não sei você, mas eu já ouvi por diversas vezes, variados pregadores, no tradicional "apelo" feito no final da mensagem, vociferarem: "- Tem alguém pra Jesus? não vou ficar insistindo, pois Cristo é valioso demais pra se ficar 'oferecendo'...". Ora, se Cristo fosse realmente valioso, ele já não começaria fazendo um apelo, que soa mais como uma súplica pra alguém vir a Cristo, parecendo que Jesus é um altista que precisa de amigos, do que um convite à salvação.

Julgo que quando um pregador diz isso, ele mais afasta os pecadores de Cristo do que os atrai, e eu explico o porquê: não é novidade que, hoje em dia, o culto ao SENHOR é mais voltado para o homem do que para Deus; músicas que falam da arte de receber bênçãos, de como ter uma vida abastada e de como "estar no palco enquanto meus inimigos se mordem na platéia", não são novidades em nossas reuniões. E pra completar, nossas pregações também descambam do teocentrismo: os ministros preferem entreter a platéia com a biografia dos grandes homens, como Daniel, José, Davi e Moisés do que falar da pessoa de Cristo; para eles, é mais interessante contar dos "7 mergulhos de Naamã" ou dos "4 homens na fornalha", do que falar do mistério da cruz e da graça revelada em Cristo. Quando enfim tomam um dos evangelhos para pregar, preferem falar dos milagres operados por Cristo do que falar do Cristo que opera os milagres. Então, ao final, quando ele hipocritamente fala que "não irá insistir pois Cristo é valioso demais", surge algumas interrogativas na mente dos inconversos: (1) "Como Cristo pode ser valioso, se esta valiosidade não me foi apresentada durante 2 horas de culto?"; (2) "Como posso aceitar alguém supostamente valioso, se quando ele (o pregador) teve a oportunidade de falar dEle (Cristo), preferiu falar de outro personagem?"; (3) "Como posso aceitá-lo como valioso para mim, se nem ao menos foi citado o que Ele fez para se tornar valioso, enquanto os feitos de outros personagens foram exaltados?"; (4) "Como posso achá-lo valioso se, no período de músicas e na hora da pregação, eu é quem parecia ser importante?"; (5) "como alguém valioso precisa apelar para as pessoas irem até ele?". Tais perguntas não os levam a Cristo, mas os fazem duvidar ainda mais da importância deste Cristo e do impacto que pode causar em suas vidas.

O que realmente fará com que pecadores saiam de nossos cultos fascinados com a beleza de Cristo, é a exposição correta e coerente do evangelho de Cristo. Este, segundo as Escrituras, "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1.16). Há poder suficiente no evangelho de Cristo para informar, convencer e salvar o ouvinte de todos os seus pecados. Cristo só é valioso quando empregado o paradoxo: Se Cristo é exaltado, o homem é, peremptoriamente, rebaixado; se o nosso culto é antropocêntrico, certamente não haverá espaço para a valiosidade de Cristo, mas quando o nosso culto é cristocêntrico, a condição humana é rebaixada, o pecado é pregado como tal e Cristo é apresentado como a solução para a nossa alma caída. Cristo é sempre valioso, mas todo o culto deve mostrar este valor, não somente a pregação. Se Ele é valioso, então é digno de músicas que preponderem esta valiosidade; se é realmente importante, as pregações devem falar exclusivamente Dele. Contudo, enquanto acharmos que "massageando a alma cansada" de nossos ouvintes inconversos, os levaremos a Cristo, estaremos fracassando numa tarefa que não cabe a igreja, mas ao Espírito Santo. Ele é quem convence do pecado, não o pregador. Nossa tarefa não é salvar ninguém, mas apresentar o Salvador; não é levá-los a Cristo, mas apresentarmos O caminho, que é Cristo. Infelizmente, a igreja fracassa quando tenta fazer um trabalho que é exclusivamente divino. Lembre-se que quando os discípulos perguntaram a Cristo: “Então, quem é que pode se salvar?”, Cristo Jesus respondeu: "Para os homens isso é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis" (Mc. 10.27). Descansemos pois, no Cristo valioso que, sem precisar da ajuda humana, é poderoso pra salvar.

Soli Deo gloria.

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