20 de fevereiro de 2010

Uma fascinação pelos demônios

Retirado do Blog Teologia Pentecostal, do Gutierres Siqueira.

 É inegável a realidade dos demônios e sua influência sobre os humanos. É também inegável a grande ênfase que os evangélicos dão os anjos caídos. Na prática, muitos evangélicos atribuem ao demônio uma queda na calçada ou um arranhão no carro acontecido em algum estacionamento. É igualmente vergonhoso o espetáculo que é feito em muitos exorcismos praticados por aí. Assim como o uso do medo para atacar quem pensa diferente de um líder autoritário.

Certa vez ouvi uma pregação em que o pastor dizia: “Se o demônio não existisse muitas igrejas evangélicas já não existiriam”. Infelizmente é verdade. O medo de maldição demoníaca paira o imaginário das igrejas, principalmente pentecostais e neo-pentecostais. Exemplo máximo disso é o dízimo. Em lugar de ensinar o princípio da generosidade, muitos preferem falar de um demônio chamado “o devorador”. Sendo uma grande forçação de barra do texto bíblico.

É certo que os demônios nos tentam a pecar, mas não pecam por nós. Portanto, quem cair no erro não adianta colocar a culpa no coisa ruim. Com exceção dos possessos, ninguém está fora das suas faculdades mentais para atribuir uma escolha pessoal a uma outra pessoa, mesmo que essa outra pessoa seja um ser de natureza espiritual. Ou seja, alguns tentam escapar de sua responsabilidade mesmo que apelem aos demônios.

Alguns infortúnios na vida podem ser de natureza demoníaca. Mas é bom lembrar que são apenas alguns. Muitas das dificuldades que enfrentamos são frutos daquilo que plantamos (uma doença por falta de prevenção) ou por incontingência (como um acidente que você não provocou). Mas as dificuldades sempre acontecem. E temos muito a aprender com elas.

Na liturgia dos cultos é triste verificar o espetáculo com o nome dos demônios. São pregadores que fazem uma de super-homens e “pisam na cabeça do diabo”. Promovendo um verdadeiro circo que chamam de “autoridade espiritual”. Outros que querem inventar a roda buscam o nome de demônios e fazem listas com as características de cada um deles. De uma utilidade zero esses fazem seminários apontando a diferença entre o demônio da cachaça e do sexo, por exemplo. E esquecem eles que lascívia e embriaguez são obras da carne e não tipos de demônios.

Encerro este texto com um apelo ao equilíbrio escrito pelo inglês C. S. Lewis:

Há dois erros semelhantes mas opostos que os seres humanos podem cometer quanto aos demônios. Um é não acreditar em sua existência. O outro é acreditar que eles existem e sentir um interesse excessivo e pouco saudável por eles. Os próprios demônios ficam igualmente satisfeitos com ambos os erros, e saúdam o materialista e o mago com a mesma alegria. [1]

Pois bem, nem oito nem oitenta. Nem incredulidade nem credulidade. Sejamos bíblicos.

Referência Bibliográfica:


[1] LEWIS, Clive Staples. Cartas de um diabo a seu aprendiz. 2 ed. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2009. p IX.

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