30 de março de 2011

O que a Química tem a ensinar ao Pentecostalismo?

por Cleison Brugger

Certa vez, Jesus em resposta aos fariseus que queriam que seus discípulos se calassem, pois esses lhe davam glória, disse: "Eu afirmo a vocês que, se eles se calarem, as pedras clamarão!" (Lc. 19,40). Acredito que, quando os que devem ser profetas não o são, Deus levanta  outros meios para alertar o seu povo. Quando líderes são relapsos, Deus levanta "pedras" insistentes no clamar.
Uma dessas "pedras" que clamam é a Química. Ela vai nos ensinar que, quando uma substância está fervendo (ou em estado de fervura), isso não quer dizer que aquela substância esteja aquecida ou que a fervura aconteceu porque antes houve um aquecimento. Uma aspirina efervescente ferve na água sem precisar estar aquecida; aliás, a fervura não é um estado, mas única e simplesmente um fenômeno visual. Creio que a Química tem algo a comunicar ao pentecostalismo brasileiro que tem feito uso de misticidades e experimentado de "efervescências" exageradas.

A Bíblia nos diz que "Deus não é Deus de confusão, senão de paz" (ICo. 14,33) e esse é um dos fatores que podemos observar numa igreja cheia do Espírito Santo: ali não há lugar para a balbúrdia, o empirismo ou experiências subjetivas. Infelizmente, muitos julgam o Espírito Santo à partir das experiências e fenônemos sobrenaturais, ao invés de julgar tais fenômenos, afim de saber se são realmente divinos. Muitos "renovados" dizem que, se em uma igreja não acontece estes "sinais", a tal não é uma igreja cheia do Espírito Santo. Para muitos, o culto só é culto se pelo menos um glossolalo irromper em línguas. Lamentavelmente, o relacionamento que alguns crentes pensam que tem com o Espírito Santo, resumem-se a glossolalia e arrepios.

Muitos poderão usar o texto de 2ª Corintios 3,17 e afirmar que "onde está o Espírito do Senhor, aí há liberdade", mas as Sagradas Escrituras também nos orienta: "[...] Não usem a liberdade para dar ocasião à vontade da carne; pelo contrário, sirvam uns aos outros mediante o amor" (Gl. 5,13). Muitos vão contra o Espírito Santo quando, na manipulação dos carismas, dão lugar a carne e renegam o Espírito Santo, e a outra parte do verso [sirvam uns aos outros mediante o amor], também é excluída quando, depois do "culto abençoado", obreiros não se olham, irmãs fofocam e pastores oprimem seu povo.

Não é porque está fervendo que está aquecido; muitos de nós vemos igrejas abarrotadas de gente e cultos aparentemente avivados, mas nem imaginamos quão longe o Espírito Santo pode estar daquele lugar. Qualidade não precede quantidade, reza a lenda. Aparentemente saudáveis, muitas igrejas estão sofrendo com doenças terminais, pois abandonaram o Espírito Santo, preferindo a liturgia e o movimento que o inimigo disfarçadamente lhes apresentou e que lhes foi aprazível. Não é porque vemos milagres ou fenômenos sobrenaturais que afirmaremos a presença santa do Espírito de Deus. Nosso Senhor, Jesus Cristo, alerta-nos que, nos últimos dias "aparecerão muitos falsos cristos e falsos profetas que realizarão muitos sinais e maravilhas para, se possivel, enganar até os eleitos" (Mt. 24,24 - NVI). Por esta razão, não sejamos levados por aquilo que atrai os nossos olhos ou que, aparentemente, parece ser uma bênção ou um socorro para nossa alma cansada. Cristo é o socorro que precisamos! não há fontes externas que possam saciar a nossa sede senão o Manancial de águas vivas (Jr. 2,13). Que o sobrenatural não tenha sobre nós o poder do fascínio, mas que a nossa fascinação esteja na pessoa bendita de Cristo Jesus. Uma vez mais, a voz de Martinho Lutero  ressoa: “Qualquer ensinamento que não se enquadre nas Escrituras deve ser rejeitado, mesmo que faça chover milagres todos os dias".

Glossolalo: aquele que fala em línguas estranhas
Glossolalia: no contexto, o dom de línguas estranhas

26 de março de 2011

Cristo é valioso demais e eu não vou insistir

por Cleison Brugger

Não sei você, mas eu já ouvi por diversas vezes, variados pregadores, no tradicional "apelo" feito no final da mensagem, vociferarem: "- Tem alguém pra Jesus? não vou ficar insistindo, pois Cristo é valioso demais pra se ficar 'oferecendo'...". Ora, se Cristo fosse realmente valioso, ele já não começaria fazendo um apelo, que soa mais como uma súplica pra alguém vir a Cristo, parecendo que Jesus é um altista que precisa de amigos, do que um convite à salvação.

Julgo que quando um pregador diz isso, ele mais afasta os pecadores de Cristo do que os atrai, e eu explico o porquê: não é novidade que, hoje em dia, o culto ao SENHOR é mais voltado para o homem do que para Deus; músicas que falam da arte de receber bênçãos, de como ter uma vida abastada e de como "estar no palco enquanto meus inimigos se mordem na platéia", não são novidades em nossas reuniões. E pra completar, nossas pregações também descambam do teocentrismo: os ministros preferem entreter a platéia com a biografia dos grandes homens, como Daniel, José, Davi e Moisés do que falar da pessoa de Cristo; para eles, é mais interessante contar dos "7 mergulhos de Naamã" ou dos "4 homens na fornalha", do que falar do mistério da cruz e da graça revelada em Cristo. Quando enfim tomam um dos evangelhos para pregar, preferem falar dos milagres operados por Cristo do que falar do Cristo que opera os milagres. Então, ao final, quando ele hipocritamente fala que "não irá insistir pois Cristo é valioso demais", surge algumas interrogativas na mente dos inconversos: (1) "Como Cristo pode ser valioso, se esta valiosidade não me foi apresentada durante 2 horas de culto?"; (2) "Como posso aceitar alguém supostamente valioso, se quando ele (o pregador) teve a oportunidade de falar dEle (Cristo), preferiu falar de outro personagem?"; (3) "Como posso aceitá-lo como valioso para mim, se nem ao menos foi citado o que Ele fez para se tornar valioso, enquanto os feitos de outros personagens foram exaltados?"; (4) "Como posso achá-lo valioso se, no período de músicas e na hora da pregação, eu é quem parecia ser importante?"; (5) "como alguém valioso precisa apelar para as pessoas irem até ele?". Tais perguntas não os levam a Cristo, mas os fazem duvidar ainda mais da importância deste Cristo e do impacto que pode causar em suas vidas.

O que realmente fará com que pecadores saiam de nossos cultos fascinados com a beleza de Cristo, é a exposição correta e coerente do evangelho de Cristo. Este, segundo as Escrituras, "é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê" (Rm 1.16). Há poder suficiente no evangelho de Cristo para informar, convencer e salvar o ouvinte de todos os seus pecados. Cristo só é valioso quando empregado o paradoxo: Se Cristo é exaltado, o homem é, peremptoriamente, rebaixado; se o nosso culto é antropocêntrico, certamente não haverá espaço para a valiosidade de Cristo, mas quando o nosso culto é cristocêntrico, a condição humana é rebaixada, o pecado é pregado como tal e Cristo é apresentado como a solução para a nossa alma caída. Cristo é sempre valioso, mas todo o culto deve mostrar este valor, não somente a pregação. Se Ele é valioso, então é digno de músicas que preponderem esta valiosidade; se é realmente importante, as pregações devem falar exclusivamente Dele. Contudo, enquanto acharmos que "massageando a alma cansada" de nossos ouvintes inconversos, os levaremos a Cristo, estaremos fracassando numa tarefa que não cabe a igreja, mas ao Espírito Santo. Ele é quem convence do pecado, não o pregador. Nossa tarefa não é salvar ninguém, mas apresentar o Salvador; não é levá-los a Cristo, mas apresentarmos O caminho, que é Cristo. Infelizmente, a igreja fracassa quando tenta fazer um trabalho que é exclusivamente divino. Lembre-se que quando os discípulos perguntaram a Cristo: “Então, quem é que pode se salvar?”, Cristo Jesus respondeu: "Para os homens isso é impossível, mas não para Deus, porque para Deus todas as coisas são possíveis" (Mc. 10.27). Descansemos pois, no Cristo valioso que, sem precisar da ajuda humana, é poderoso pra salvar.

Soli Deo gloria.

12 de março de 2011

Em defesa do "Teísmo Fechado"

 por Cleison Brugger  

Não é de hoje que os teólogos liberais do Teísmo Aberto aproveitam ocasiões como o terremoto no Haiti, os desmoronamentos e catástrofes no Rio de Janeiro e, neste dia 11, os cataclismos que devastaram a costa noroeste do Japão, para vociferar e defender a absurda tese de que Deus perdeu o controle da ordem natural criada, pois em algum momento da história abdicou do poder (isto, por amor, defendem eles) e agora, tudo o que ele pode fazer é sentar, chorar e lamentar, pois por amor às suas criaturas, ele "abriu mão" do controle da criação, não podendo fazer muita coisa, nem prever o que vem pela frente. Sinceramente, longe de mim servir a um deus tão pequeno como este. Na verdade, um deus que abdica ou "abre mão" de sua soberania mostra, claramente, que não quer ou não sabe ser deus. Para o puritano Stephen Charnock, ser Deus e ser Soberano são coisas inseparáveis; nas palavras do blogueiro Jorge Oliveira, um Deus que não transcenda o saber, o estar e o poder humano seria sempre um pequeno e fraco deus, portanto um falso deus.

A grande verdade, é que tais teólogos não precisam fazer muito esforço para provarem que não crêem no Deus da Bíblia, e sim, num deus filosoficamente criado e sentimentalmente controlado. O Deus das escrituras, o Deus criador e Soberano sobre a ordem criada, diz a respeito de Si mesmo: "Eu formo a luz e crio as trevas. eu faço o bem-estar e crio a calamidade; Eu sou o Senhor, que faz todas estas coisas" (Is. 45,7 - ESV).
Um genuíno cristão não pode crer que Deus é soberano ao dar a vida, mas não o é na morte; é poderoso para dar saúde, mas não tem autoridade para deixar de curar. Um verdadeiro cristão precisa crer que o Senhor é Aquele que faz "todas estas coisas" (vv. 7).


A questão que os teólogos liberais sempre levantam é aquela velha pergunta teísta: "Deus é onipotente mas não é bom ou é bom, mas não é onipotente?". De acordo com o pastor Maurício Zágari, "qualquer teologia que diga que um dos atributos de Deus é maior, mais presente ou mais importante do que outro, não é bíblica". Deus é um Ser perfeitamente harmonioso em todos os seus atributos. Robert C. Sproul magistralmente declara que "o plano de Deus nunca muda, porque Ele nunca muda e porque a perfeição não admite graus e não pode ser melhorada".
O que os adeptos do Teísmo Aberto adoram citar, é que um Deus amoroso não pode estar por detrás de tais cataclismos e avarias. Jung Mo Sung chega a declarar em seu twitter que "o Deus que intervém não é o mesmo que controla tudo. Pois, se Deus já controla tudo, não precisa intervir". Bem, julgo ter uma resposta bíblica para isto:
Logo após de Saulo ter tido um encontro com Àquele a quem ele perseguia (At. 9. 4,5), Ananias, um discípulo de Cristo em Damasco, foi orientando pelo Senhor a ir até a casa de Judas e impor as mãos sobre Saulo, para que este voltasse a ver (At. 9. 11,12). Ananias, perplexo em saber quem era o 'neo-converso', "informa" a Deus quem era o tal Saulo e quantos males havia causado a igreja de Cristo (At. 9,13). Deus, que não pára para consultar-nos e nem precisa de informações, diz a Ananias: "[...] Vai, porque este é para mim um vaso escolhido [...], e eu lhe mostrarei quanto deve padecer pelo meu nome" (At. 9. 15,16). Deus estava previamente avisando que Saulo, posteriormente chamado de Paulo, sofreria muito em favor do evangelho de Cristo. Contudo, este mesmo Paulo que, agora na posição de apóstolo, teve um ministério marcado por sofrimentos (físicos, materiais, espirituais etc), escreve à igreja entre os coríntios: "Porque, como as aflições de Cristo são abundantes em nós, assim também é abundante a nossa consolação por meio de Cristo" (2ª Co. 1.5). Ora, o mesmo Cristo que não somente previu, mas desejou e decretou que o apóstolo dos gentios iria "padecer pelo Seu nome", é o mesmo que o consola na abundância de suas aflições (1.3,5). 

Deus não é um ser arbitrário que somente ordena autoritariamente e se retira, mas é um Deus que, ao mesmo tempo que controla, intervêm, ao mesmo tempo que se ira, ama e ao mesmo tempo que envia provações, consola (Tg. 1. 2,4). Deus não deixa de ser o El Shaddai (Deus Todo-Poderoso - Gn. 17.1-20) para ser o Javé Jireh (O Senhor que provê - Gn. 22.13,14), nem deixa de ser o Javé Raah (O Senhor é o meu Pastor - Sl. 23.1), para ser Javé Tsidkenu (O Senhor justiça nossa - Jr. 23.6). Pelo contrário, o mesmo Deus Eterno que provê, que dá a paz, que santifica, é o mesmo que fere (Javé Nakeh - Ez 7.9), que é Senhor dos Exércitos (Javé Sabbaoth - 1Sm. 1,3) e que sempre, sempre, foi, é e será o Javé Shammah (O Senhor que está presente - Ez. 48.35). O mesmo Deus que permite que sejamos presos e julgados, como fez com Paulo, é também Àquele que nos assiste e fortalece, como fez com o apóstolo supracitado (2Tm. 4. 16,17). Quando os 'teimólogos' (teimosos + teólogos) aprenderem que o amor de Deus não diverge, mas converge com Sua soberania, eles, de fato, crerão num Deus muito maior, que não apenas ama e não apenas comanda, mas que tem Seu amor e Sua soberania perfeitamente nivelados.

Ao Deus que nada O assusta, abala ou surpreende, pois tudo é desejado e decretado por Ele, glória eternamente!

10 de março de 2011

Espírito Santo: sem voz nas AGO's da Assembleia de Deus?

por Altair Germano

De 12 a 14 de Abril, será realizada na cidade de Cuiabá-MT, a 40ª Assembleia Geral Ordinária da CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil). Na ocasião serão tratadas algumas questões, dentre as quais:

1) Posicionamento da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil (CGADB) quanto à nulidade ou anulabilidade do casamento, união estável e concubinato, e a revisão do posicionamento acerca do divórcio, com leitura de parecer elaborado pela Comissão Especial designada na última Assembléia Geral Ordinária; 2) Ênfase aos princípios pentecostais, face à celebração do Centenário das Assembléias de Deus; 3) Perigos que ameaçam as Assembléias de Deus no Brasil: a) Mornidão; b) Modismos neopentecostais; c) Remoção dos marcos antigos; d) Omissão dos valores eclesiásticos.

Quem são os culpados pela mornidão na igreja? Já se ouviu a opinião da comunidade sobre isso? Já foi ouvida a voz do Espírito?

Modismos neopentecostais? Vamos tirar as fogueiras santas das Assembleias de Deus? As voltas em Jericó? A travessia do Mar Vermelho? Os mergulhos no Rio Jordão? Os cultos da vitória? Os cultos dos milagres? Os cultos da restituição? As determinações e decretos nas orações? O "eu profetizo" das pregações? A barganha dos dízimos e ofertas? A teologia da prosperidade? A teologia da conquista? Vamos resolver, ou simplesmente recomendar?

Remoção de "marcos antigos"? De quais "marcos antigos" vamos tratar? Dos usos e costumes? Da doutrina? Da liturgia? Da identidade? Que identidade? Ainda temos uma? Qual? Teremos mais recomendações, sem advertências e disciplinas?

Como tratar com um líder ou convenção assembleiana local, regional e estadual que não acredita na existência do inferno? Que entende que o falar em línguas não é a única evidência do batismo com o Espírito Santo? Que não acredita na trindade? Que banalizou o divórcio, e que possui um número considerável de obreiros divorciados pelos mais banais motivos? Como normatizar usos e costumes num país multicultural como o nosso? Vamos impor novas ou velhas regras?

Por quais valores eclesiásticos vamos lutar? Pela integridade? Pela justiça? Pela verdade? Pelo respeito ministerial? Pela honestidade? pela verdadeira união e comunhão? Vamos reunir as lideranças em litígio, ou vamos procrastinar soluções e fazer de contas que está tudo bem?

Na conclusão da Lição Bíblica deste trimestre está escrito: "Que o exemplo dos santos apóstolos mova a igreja de Cristo a livrar-se de toda briga local [...]". Que esse exemplo nos livre também das "brigas nacionais", abertas e escandalosas.

Na condição de denominação, onde e como estaremos nós no próximo Centenário (se Jesus não voltar antes)? Em parte, vai depender das respostas que daremos às questões acima levantadas.

Será que teremos nesta 40ª AGO, assim como acontece nos anos de eleições, a participação de mais de 10.000 inscritos para tratar e decidir sobre questões tão relevantes? Gostaria de estar errado, mas penso que não chegaremos nem perto deste número.

Oremos por concílios, reuniões ou assembleias proveitosas, que de fato resolvam, estando também abertas para ouvir toda a comunidade e a voz do Espírito.

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