23 de novembro de 2010

Autoridade, não tirania!



Há um tempo constatei que, se alguém é chamado pelo seu líder ou pastor, para assumir um cargo ou para fazer determinada coisa, este alguém não está sendo convidado, muito menos solicitado ou questionado se quer ou não, mas sim, ele está sendo convocado! Ai dele se disser não, e ai mesmo! Este ano, pude ver um pastor presidente envergonhar um obreiro [e sua família], em pleno culto de domingo, simplesmente porque o tal não atendeu a uma "ordem" dada pelo pastor. Depois disso, vi obreiros que concordavam com tudo o que o pastor dizia, não pela sua "autoridade", mas por medo de serem envergonhados publicamente, como foi o obreiro "rebelde". Assim, você tem toda a liberdade de ser obrigado a fazer o que te mandarem.

É incontestável que pastores possuem autoridade, afinal, eles ministram sobre um rebanho e é de suma importância que eles exerçam o ministério com temor e autoridade, mas lembre-se que ter autoridade NÃO É, de forma alguma, ser prepotente ou abusar do poder, como também, esta autoridade não é uma forma tirana ou ditatorial de governo. O escritor da epístola aos hebreus alerta aos pastores, que exerçam o ministério com alegria, que segundo John Piper, é um indício do amor:
"Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles" (Hb. 13. 17a). - esta exortação é para a igreja, ou aqueles que estão debaixo de uma liderança, para que obedeçamos nossos líderes e nos submetamos a autoridade que eles obtêm.
"Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas" (vv.17b). - Perceba no verso a frase: "Como quem deve prestar contas". Isso prova que, embora a igreja esteja sob a autoridade de um pastor, a tal não é dele, mas sim, do Senhor, que deve ser a autoridade MAIOR e FINAL na igreja de Cristo.
"Obedeçam-lhes, para que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso" (vv.17c). - perceba que quando nos submetemos a autoridade de nossos líderes, estamos fazendo com que eles se alegrem no exercício deste serviço.
"Pois isso não seria proveitoso para vocês" (vv. 17d - NVI). - quando a autoridade de um líder é depreciada, temos um pastor frustrado e uma igreja doente.

O apóstolo Pedro nos fala ainda mais claramente sobre isso. Pedro, falando aos presbíteros que estavam entre os cristãos dispersos, lhes comunicou: "Pastoreiem o rebanho de Deus que está aos seus cuidados. Olhem por ele, não por obrigação, mas de livre vontade, como Deus quer. Não façam isso por ganância, mas com o desejo de servir. Não ajam como dominadores dos que lhes foram confiados, mas como exemplos para o rebanho" (IPe. 5. 2,3 - NVI). Que bela exortação o apóstolo Pedro está dando àqueles presbíteros! Pedro roga aos irmãos que exerçam o ministério com disposição, sem querer recompensas terrenas (pois já uma celestial lhes será dada, vv.4), não como dominadores, mas como exemplo [de serviço, de caráter, de humildade...] para o rebanho. A palavra "dominadores" no original grego é "katakurieuo" e significa: manter em sujeição, dominar sobre, exercer senhorio sobre outro. Pedro repudia o pastor que assim lidera um rebanho. De acordo com John Huss, "a autoridade de um líder religioso vem de seu caráter e não da sua posição".

Contudo, podemos constatar que muitos pastores em nossos dias não estão seguindo o conselho apostólico, mas pastoreando como bem entendem, levados pelo seu bel-prazer, com interesses escusos, como donos da igreja de Cristo e possuidores da autoridade final. Estes tais provam claramente que jamais foram chamados pelo Supremo Pastor (IPe. 5.4). Quantos pastores, ao invés de serem respeitados pela igreja e pelos obreiros, são temidos? quantos pastores desaprovam àqueles que não dançam a música que eles querem que toque? quantos obreiros não foram disciplinados, excluídos e colocados "no banco", porque não atenderam o "pedido" do "homem da cadeira central"? Isso não é exercer o ministério com amor, muito menos com humildade, mansidão, rendição e temor; menos ainda isto é ter autoridade! Contudo, esta é a maneira mais falaciosa de exercer o serviço com prepotência, arrogância e discaramento. Desses, eu quero distância, e o Senhor também o quererá naquele Grande dia (Mateus 7. 21-23).

20 de novembro de 2010

A verdade partilhada com amor

Em sua pessoa e em seus ensinamentos, Jesus reuniu a verdade e o amor. Seu amor foi expresso em verdade, e Ele falou a verdade com amor. A união da verdade e do amor é necessária para nosso crescimento espiritual (Ef. 4.15).

É fácil identificar aqueles cristãos que se importam muito com a verdade, mas que quase não têm amor. Sua fé é expressa principalmente por palavras. São "grandes estudiosos da Bíblia", e podem até resumir seus livros e fazer um gráfico das épocas, mas são dificeis de se andar com eles, e a verdade que conhecem (ou pensam que conhecem) não é uma ferramenta de construção: é uma arma de luta. Eles adoram rivalizar!

A verdade precisa do amor, pois a verdade sem amor tende a tornar as pessoas orgulhosas. "A ciência incha, mas o amor edifica" (ICo. 8.1). A verdade sozinha pode ser destrutiva, mas o amor capacita a verdade a nos edificar. Quando a verdade é partilhada com amor (mesmo se a verdade ferir), no final nos ajuda. [...] Uma criança sempre pensa que todas as pessoas que a beijam são amigas, e que todas as pessoas que nelas batem são inimigas. Mas uma pessoa madura sabe a diferença real. Algumas vezes a verdade pode nos machucar antes que possa nos curar, mas se formos feridos em amor, logo, a cura virá.

Esse fato nos ajuda a compreender que alguns ministérios da Palavra são divisíveis e destrutíveis. Há verdade neles, mas a verdade não é partilhada com amor.

(WIERSBE, Warren W. A oração intercessória de Jesus. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, p. 137)

19 de novembro de 2010

O que significa "aceitar Jesus"?

Por Ray Ortlund

“Voltaram para Deus, deixando os ídolos a fim de servir ao Deus vivo e verdadeiro.”  
(1 Tessalonicenses 1.9)

Você e eu não somos pessoas integradas, unificadas, inteiras. Nossos corações são multidivididos. Existe uma sala de reunião em cada coração. Uma grande mesa, cadeiras de couro, café, água mineral, quadro branco. Um comitê senta-se ao redor da mesa. Há o eu social, o eu privado, o eu trabalhador, o eu sexual, o eu recreacional, o eu religioso, e outros.  O comitê está argumentando, debatendo e votando. Constantemente agitado e irritado. Raramente, eles conseguem chegar a uma decisão unânime, incontroversa. Dizemos a nós mesmos que somos assim porque estamos muito ocupados com nossas tantas responsabilidades. A verdade, porém é: somos simplesmente divididos, hesitantes, cativos e sem foco.

Esse tipo de pessoa pode “aceitar Jesus” de duas maneiras. Um jeito é convidá-lo para o comitê. Dar também a ele o poder de voto. Porém, ele se torna apenas mais uma complicação. O outro jeito de “aceitar Jesus” é dizer a ele: “minha vida não está funcionando. Por favor, entre e demita meu comitê, cada um deles. Eu me deixo todo em suas mãos. Por favor, dirija minha vida inteira para mim”. Isso não é complicação; isso é salvação.

 “Aceitar Jesus” não é apenas adicionar Jesus. É também subtrair os ídolos.

Traduzido por Josaías Jr. | Retirado do site iPródigo | Original aqui

10 de novembro de 2010

Qual é o propósito do batismo no Espírito Santo?

"Olá, a paz do Senhor! Meu nome é Renato. De uns tempos pra cá, orientado pelo lider de jovens da minha igreja, tenho buscado em oração o batismo no Espírito Santo, mas gostaria de saber qual é o propósito deste batismo. Desde já, agradeço pela atenção."

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resposta por Cleison Brugger
Olá, Renato, paz e bem.
Em suma, o batismo no Espírito Santo tem dois propósitos: 1) fazer com que Cristo seja engrandecido, louvado, glorificado e enaltecido (Lc. 24.49; Jo. 15. 26,27; 16. 13,14); 2) e capacitar os fiés à pregação do evangelho de Cristo, dando-lhes ousadia, coragem, persuasão e intrepidez (Atos 4. 8-13; 7. 48-52; 8. 5-7; 9. 26-31; 14.1). Em Atos 1.8, a palavra diz: "mas recebereis poder [disse Jesus], ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas [testemunhas de Cristo] tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra". O termo grego para "poder", no texto, é δυναμιν [dunamin], que significa um poder em ação, um poder real. Assim, o batismo no Espírito Santo só é realmente válido se ele estiver de acordo com a uma paixão pela pregação do evangelho a toda gente.  Na atualidade, temos visto muitos que "usam" o batismo no Espírito Santo apenas para se sentirem "mais" espirituais; os que assim tratam o dom do Espírito realmente não conhece o Espírito dos dons.

O batismo no Espírito Santo nos é dado como uma capacitação espiritual para, como dito acima, glorificarmos, engrandecermos e fazermos conhecida e notória, a obra da cruz. Bendizemos Deus Pai por sua promessa (Lc. 24. 49; Atos 1.4), amamos o Espírito Santo pelo seu dom inefável (Atos 1.8; 2.4) e glorificamos a Cristo Jesus, tornando sua obra na cruz ainda mais relevante (Atos 2. 22-24, 38; 4. 8-12).

Numa rápida leitura dos primeiros 5 capítulos de Atos, percebemos que, embora o Espírito Santo tivesse sido derramado sobre os crentes, Ele não se tornou "um novo deus a ser glorificado" ou a preferência do momento; pelo contrário, este derramamento serviu para glorificar, testificar, disseminar, divulgar e honrar ainda mais, a obra de Cristo na cruz. Assim, o caminho do Pentecostes passa pelo calvário, e não existe derramamento do Espírito sem a consciência da cruz e uma paixão por ela.

Por fim, este dom do Espírito Santo nos é dado para a glória de Cristo, para a nossa santificação e humilhação e para a intrépida pregação do evangelho. fazendo assim, faremos bem ao recebê-lo.

9 de novembro de 2010

Ordem e decência na liturgia carismática

Originalmente extraído do blog  Teologia & Graça, mas retirado por mim do blog Olhar Reformado


Por Esdras Costa Bentho

I Coríntios 14.1-40

Introdução

O capítulo 14 de 1 Coríntios é uma terceira abordagem da mesma problemática desenvolvida nos capítulos 12 e 13. Observe que o capítulo inicia-se com o verbo imperativo "diōkete"[1], em vez de um conectivo. No capítulo 12, o apóstolo dos gentios descreve os dons espirituais classificando-os em: [v.4] "diversidade de dons" (diaire,seij de. carisma,twn); [v.5] "diversidade de ministérios" (diaire,seij diakoniw/n); [v.6] "diversidade de operações" (diaire,seij evnerghma,twn). A ênfase está na unidade e diversidade dos carismas. No capítulo 13, Paulo, embora exorte os crentes a buscarem os melhores dons (12.31), sobrepõe o amor aos carismas.

Todavia, neste capítulo, o apóstolo discute a relação entre os dons espirituais e a edificação da comunidade cristã. O tema (leitmotiv) da perícope acha-se no v. 26: "Faça-se tudo para edificação" [v.12]. O termo "edificar" (oivkodome,w) aparece sete vezes no capítulo [vv.3, 4, 5, 12, 17, 26]. O sentido básico é "construir", "eregir", "construir". De acordo com Vine, procede de "oikos" (oivkoj) e "demō" (demw), literalmente "construir uma casa" e, metaforicamente, "promover o crescimento espiritual e o desenvolvimento do caráter"[2].

Contexto Histórico e Propósitos

As religiões de mistérios multiplicaram-se nos domínios greco-romanos. Os adeptos desses cultos eram conhecidos pelos seus "dotes espirituais", "transes", "glossolalia", "visões", e seus iniciados eram chamados de "pneumatikos" (pneumatiko,j), "pessoas espirituais".

Variegados membros dessas religiões converteram-se ao Evangelho e, não poucos, estavam presentes na comunidade cristã de Corinto (1 Co 12.1). Neste contexto sócio-religioso, as manifestações espirituais na igreja moviam-se entre o exibicionismo e a soberba espiritual, provocando uma balbúrdia e distorção dos carismas. No epicentro desta querela estavam os "profetas", dotados do carisma da profecia, e os "glossolalos"[3], que falavam em variedades de línguas [vv. 3,4]. Portanto, Paulo escreve com o propósito de:


1) distinguir o valor didático e coletivo da glossolalia e da profecia [vv.1-9];


2) apresentar a função didática dos carismas no culto [vv.12-19];


3) exortar à maturidade [v.20];


4) descrever ambos os dons como sinal (shmei/o,n) na liturgia [vv.22-25];


5) solicitar ordem na liturgia [vv.26-40].

Estrutura

O capítulo está dividido em quatro seções:

1) vv.1-25: Distinções, propósitos e superioridade do carisma profético;


2) vv.26-35: A liturgia e a regulamentação dos carismas;


3) vv.36-38: Autoridade paulina;


4) vv. 38,39: Síntese do discurso.

Comentário e Aplicação

O culto, tanto no Antigo ('ābad) quanto em o Novo Testamento (latreuō), significa "servir", "serviço", referindo-se à liturgia sagrada oferecida ao Senhor (Êx 20.5; Mt 3.10). O culto é um serviço de gratidão e adoração a Deus por todas as bênçãos salvíficas (Sl 116.12,13). A pessoa principal da liturgia cristã não é o crente carismático, mas o Senhor Jesus Cristo (Ap 15.3,4). Além de adorar a Deus, o culto tem como propósito a edificação da comunidade redimida [vv.4,5,12s].

A liturgia da igreja primitiva era dinâmica, espontânea e com manifestações periódicas dos carismas concedidos pelo Espírito Santo (Rm 12.6-8; 1 Co 12.4-11, 28-31). Os cultos da igreja de Corinto eram carismáticos (1 Co 12; 13; 14), pois todas as manifestações do Espírito, as diversidades de ministérios e de operações, encontravam-se naquelas reuniões (1 Co 12.4-6). Porém, a igreja estava envolvida em diversas dissensões e litígios (1 Co 1.10; 6.1-11); pecados morais (1 Co 5) e, principalmente, desordem no culto de adoração a Deus (1 Co 11.17-19; 14.26-35). A desordem era tal que o próprio culto tornou-se um entrave ao progresso espiritual dos crentes. Eles eram imaturos e carnais (1 Co 3.1-4).




[1] Literalmente "ir após com persistência". Ver MORRIS, Leon. I Coríntios: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova; Mundo Cristão, 1981, p. 153. Série Cultura Bíblica.
[2] VINE, W. E. (et al.) Dicionário Vine. 7.ed., Rio de Janeiro: CPAD, 2007, pp.582-3.
[3] Tradução do v.3 feita por G. Barbaglio da expressão grega "ho lalōn glōsse(i)" (o` lalw/n glw,ssh|), Ver BARBAGLIO, G. As cartas de Paulo (I). São Paulo: Loyola, 1980, p. 339, Bíblica Loyola 4.

3 de novembro de 2010

Ser assembleiano...

por Marcelo Lemos

Eu sempre soube, de ouvir falar, que tradicional não gosta muito de pentecostal. Igualmente, sempre tive conhecimento, por experiência, que pentecostal não gosta muito de tradicional. Estou generalizando, evidentemente. Então, é com muita alegria que recebo notícias de cristãos carismáticos que se aproximam da teologia reformada, e de crentes tradicionais que se abrem ao diálogo com os ‘pentecas’, outrora tidos como a escória do protestantismo pelas elites religiosas, sociais, econômicas.

Não é incomum que eu receba conselhos no sentido de deixar a comunhão assembleiana. São irmãos em cristo que me falam de como o pentecostalismo está saturado de excessos emocionais, e até místicos; de como o pentecostalismo se aliou ferinamente a soterologia arminiana, e a uma escatológica fictícia. E, cá entre nós, preciso ser honesto e reconhecer que diversas vezes já desejei, e até tentei, abandonar o barco…

Por qual razão não o fiz? Humanamente falando eu poderia listar diversos motivos. O principal deles é que acredito em reforma; mas que isso, acredito no poder da Palavra de Cristo. Não pretendo ser um revolucionário dentro do pentecostalismo, ou desta ou daquela Igreja. Não quero mudar as coisas numa noite! Antes, quero pregar a palavra, e por ela, trazer cativo “todo o entendimento à obediência de Cristo” (II Cor. 10.5).

Como se faz isso? Estou tentando aprender! Todavia, constantemente tenho contemplado os frutos da fé bíblica em ação! Creio que até os mais preconceituosos reformados se surpreenderiam se passagens alguns minutos com alguns pentecostais que eu conheço. Pouco a pouco, a fé reformada está invadindo o arraial pentecostal e assembleiano. E estou convencido que nós, reformados, possuímos, teologicamente falando, a única tábua de salvação para a crise que parece se anunciar no horizonte do pentecostalismo…

Eu bem poderia tornar este artigo numa convocação aos assembleianos e pentecostais, convidando-os a conhecerem os pilares do pensamento reformado. Mas, pretendo justamente o oposto: explicar a quem possa interessar, aqueles que considero os elementos mais fascinantes da espiritualidade assembleiana. Em outras palavras, quero escrever sobre os bons motivos de ser um cristão reformado… e permanecer assembleiano!

FERVOR
Há uma intensidade na liturgia assembleiana que é maravilhosa. Certamente me lembrarão dos excessos existentes. Também os conheço. Todavia, é irracional destruir todos os carros, só porque o Zé da Esquina não sabe dirigir. Para o pentecostal, o Espírito Santo não é apenas uma “doutrina” fundamental do cristianismo. O Espírito Santo é uma pessoa, real, e presente na Igreja e na vida de cada membro do Corpo de Cristo.

Tenho observado que para muitos tradicionais, os grandes mover do Espírito na História deixaram saudades. Porém, a maioria deles não consegue ver, nem buscar, a atuação do Espírito hoje. Isso é estranho demais! É como se a ‘veracidade’ de um mover espiritual fosse santificado pela passagem do tempo! Ontem? Sim! Hoje? Não!

Alguns dirão que exagero na critica. Espero que realmente não esteja comigo a razão sobre este ponto. Porém, tenho visto coisas que beiram ao ridículo. Por exemplo, recentemente alguns reformados caíram na alma da Igreja Presbiteriana do Brasil. Qual o motivo? Simples: a referida Igreja manifestou apoio ao projeto Minha Esperança Brasil. Foi a gota d’água! Choveu acusações de que a IPB estaria abraçando o arminianismo!

Pessoalmente não apoio tal ministério, nem sua doutrina; porém, incentivei o mesmo, da maneira que pude. Por qual razão? O objetivo era anunciar a Cristo. Nisto, não há arminianos, nem calvinistas. Todos são cristãos testemunhando Jesus como Caminho, Verdade e Vida. Infelizmente, dos dois lados da ‘guerra’ existem aqueles que, por sua atitude sectária, parece crer que os demais não sejam pessoas salvas. Isso não é ser reformado – não era essa a atitude que Calvino demonstra nas Institutas, por exemplo. Ser reformado não é ser sectário, é ser um reformador!

Um outro exemplo diz respeito a Hernandes Dias Lopes. Até onde sei este estimado pastor é um cristão reformado, e aceita todos os cinco pontos da ‘Tulip’. Mas, ‘coitado’ (!), comete o terrível pecado de ser um evangelista… Então, em diversas comunidades do Orkut, chove imprecações contra um irmão em Cristo! Ora, e desde quando ‘evangelismo’ é coisa de arminiano, e contrário a fé reformada?

Há sempre o perigo de falarmos do poder do Espírito, da atuação do Espírito, e, entretanto, na hora H, ficarmos apenas no discurso. É verdade, admito, que em muitos casos o pentecostalismo tem um conhecimento teológico precário, mas os tradicionais podem aprender muito com eles quanto a confiar na atuação do Deus Triuno, não apenas no passado, mas hoje, agora! E a liturgia e o trabalho assembleiano é um testemunho vivo desta fé.

LIBERDADE
Acredito que pouca gente respeita tanto o principio reformado do ‘sacerdócio universal dos crentes’ quanto o pentecostalismo. Outra vez, desejo estar exagerando. Na liturgia assembleiana clássica, acredita-se que a ‘Vox Dei’ esteja disponível a qualquer um dos seus servos, e não apenas ao ministro ordenado. Aliás, normalmente o assembleianismo desconhece os conceitos clássicos sobre “ministro” e “leigo”. Todos sãos “vasos” a serem utilizados pelo Senhor.

E engana-se quem pensa que estou falando de “profecias”. Estou referindo-me a todos os aspectos da liturgia. É verdade que ainda precisamos caminhar bastante no que diz respeito a “ordem e decência”; contudo, pouca gente leva tão a sério quanto nós a ordem de Paulo sobre “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para a edificação” (I Cor. 14.26).

Já fui a diversos cultos ‘tradicionais’ e nunca vi este mandamento ser levado a sério! Normalmente há um dirigente de culto, um dirigente de louvor, e um pregador ao final.

Na liturgia assembleiana a coisa é diferente. Todos podem falar, cantar e até pregar. Não existem clérigos, nem existem leigos. Somos todos sacerdotes de Cristo.

Para os meus irmãos assembleianos fica um alerta: não permitam que lobos tirem tal liberdade de vocês. Estou pensando agora nos conceitos neopentecostais sobre “cobertura espiritual”, e outros abusos eclesiásticos, que ameaçam várias de nossas Igrejas e ministérios. Meus queridos, historicamente jamais aceitamos que qualquer pessoa fosse “maior” ou “especial” – e não podemos abrir mão de nossa liberdade agora!

E uma vez mais percebo que os cristãos, reformados e carismáticos, podem aprender uns com os outros.

SERVIÇO
Recentemente me mudei para um determinado bairro aqui da capital paulista. Tendo decidido encontrar uma igreja reformada para visitar (trata-se de algo que gosto de fazer), não tive nenhuma surpresa ao descobrir que não havia nenhuma a menos de 40 minutos da minha casa. Isso jamais acontecerá a um assembleiano; a menos que ele se mude para onde Judas perdeu as meias!

Alguns dirão que é impossível que as igrejas tradicionais cresçam e mantenham a hegemonia doutrinária. Penso diferente. Ora, as Assembléias de Deus possuem Igrejas em praticamente todos os bairros, e a maioria de suas congregações é dirigida por obreiros sem nenhuma formação teológica, ou com apenas algum curso básico de teologia. Mesmo assim, as Assembléias de Deus se mantém muito unidas quanto aos seus princípios.

Alguns exemplos que posso indicar de memória: Assembléia de Deus – Ministério do Belém; Assembléia de Deus – Ministério São Bernardo; Assembléia de Deus – Ministério Belo Horizonte (Missão); enfim. Só em São Bernardo do Campo o Ministério do Belém possui algo perto de 45 congregações. Nesta mesma cidade, o Ministério São Bernardo, atualmente dirigida pelo pastor Tarciso, que foi diretor do Seminário onde iniciei meus estudos teológicos, tem mais de 150 congregações! E mesmo assim, são ministérios unidos, e contam grande homogenia interna quando a costume e doutrinas! E são independentes um do outro… Cada ministério tem sua Sede, alguns tem até convenções próprias, etc.
 
Não parece haver escapatória aqui. Ou os cristãos reformados precisam classificar estas pessoas como “não salvas”; ou então, precisam admitir que estão trabalhando menos do que poderiam. A luz do que a História nos ensina, é muito mais seguro concluirmos que boa parte dos reformados de hoje não está alinhada com uma das maiores ‘paixões’ do calvinismo histórico: a evangelização!

Alguém deve estar pensando quem me esqueço dos problemas que o modelo assembleiano provoca. Também tenho consciência deles. E não estou propondo que o modelo assembleiano seja o certo, nem o ideal. Estou apenas tentando ilustrar o fato de que a fé reformada poderia estar muito mais inserida na nossa sociedade, mesmo que para isso fosse preciso colocar os ‘leigos’ nas ruas, avenidas, morros e favelas!

Neste sentido, tenho orgulho de ser assembleiano. Quantas vezes preguei em Igrejas localizadas em morros tão mal iluminados que, na volta para casa, pedíamos para ser acompanhados por algum irmão da Igreja! E aquelas vezes que preguei em favelas nas quais era preciso pedir autorização do ‘chefe’? E as vezes que preguei no interior, tendo como audiência, inclusive, alguns bois e alguns gansos?

Ahh! Que saudades temos, minhas esposa e eu, das congregações do Lajedo e do Mirante! E a congregação do Novo Arão Reis? Que história maravilhosa a de vocês, meus amados! – um pequeno grupo de jovens que decide evangelizar uma favela, ganha um morador para cristo, começam algumas reuniões, e hoje, temos uma nova Igreja! Ria-se quem quiser, mas só de escrever este parágrafo as lágrimas se aproximam dos olhos!

Concluo reafirmando ter plena consciência dos erros e dos desafios que estão a nossa porta, assembleianos. E reafirmando a minha convicção no poder da Proclamação do Evangelho. 

Paz e bem.